CAPÍTULO UM - O OBSERVADOR

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     Naquela noite, após um longo e cansativo dia, insisti em dormir no meu apartamento, mesmo sabendo que o "som" provavelmente iria ocorrer novamente. Cheguei do trabalho, coloqueis meus pertences no sofá e logo adentrei em meu quarto, não quis aproveitar a noite para praticar meus hobbies, somente queria descansar.

     Ao fechar os olhos, o sono veio quase que instantaneamente, e logo, adormeci. Mais uma vez, sonhei com o meu passado, lembranças que não gostaria que permanecessem em meu subconsciente, mas não conseguia impedir.

     Levantei-me de madrugada, e assim percebi que não havia trocado as minhas roupas, fiquei triste, por ver a mulher desleixada que estava me tornando. Voltei ao meu quarto, e logo vesti minha camisola preta, coloquei-a rapidamente, todavia, algo me chamou a atenção, a escuridão que pairava em minha sala foi tomada por um leve brilho.

     Caminhei até o ambiente, e assim visualizei que tal luz brilhosa, na verdade, se tratava de uma lâmpada, essa localizada no corredor que dá entrada aos apartamentos em meu prédio. 

     Por um instante não fiquei surpreendida, mas logo, surgiu-me curiosidade, de saber o que ocorria naquele instante, já que não era comum, vizinhos trafegarem pelos corredores tarde da noite.

     Assim, fui levemente me aproximando da porta de entrada de meu pequeno apartamento, senda esta composta por vidro, tendo sua base de madeira reforçada.

     Sem abrir, pude observar através do vidro, que alguém caminhava pelo corredor, mas não em minha direção, notei também algo estranho, pois naquele instante o qual observava a pessoa desconhecida, a mesma então pausou seus passos, mas por estar de costas a mim, não se opôs a se curvar para observar.

     Infelizmente, o cansaço em meu corpo era imenso, que não pude mais continuar tomando conta da vida alheia, então resolvi voltar a deitar, mas antes chequei meu celular, e vi que já era 01:42 da madrugada, notei também que não possuía nenhuma notificação nele.

     Em ato contínuo, joguei-me em minha cama, meu objetivo principal naquela noite era descansar o suficiente para aguentar o meu chefe em mais um dia de trabalho.

     Mais uma vez, ao deitar fechei levemente os olhos, mas o sono adentrou ferozmente em meu corpo que não pude ter tempo de me cobrir.

Algo se arrastou no apartamento de cima.

Um som desconhecido surgiu por apenas alguns segundos, mas o suficiente para provocar o despertar de pessoas.

     Meus olhos abriram, comecei a ficar gélida, o coração gradualmente foi acelerando, era aquele sentimento de pavor, assim sentei na cama e olhei para cima.

     Por um instante, imaginei que o som tinha somente ocorrido em algum sonho meu, pelo qual já não me lembrava mais, mas não restou tempo suficiente para que um novo barulho surgisse. Dessa vez, era semelhante à de um móvel sendo arrastado, não se prolongou muito, foi apenas por alguns segundos.

     A primeira coisa que pensei, foi em algum vizinho sem o mínimo de noção, para querer mudar moveis de lugar em plena madrugada. Lembrei-me assim em sequência, que era constante ouvir sons dos vizinhos, o que felizmente naquela semana ainda não havia ocorrido.

     Passei então a olhar para o teto, já que era a fonte do meu tormento naquela noite, alguns minutos se passaram, e logo resolvi deitar novamente, mas aparentemente, o som de alguma forma queria zombar de meu sono, pois em questão de segundos o móvel fora novamente arrastado, o som dessa vez era tão estrondoso, que para mim, parecia ser algo muito grande, como um piano.

     Novamente, sentei em minha cama, dessa vez, o barulho permaneceu por mais alguns instantes e logo quando se calou, um som desconhecido tomou conta do apartamento acima.

     Aparentemente, era de pessoas cochichando, o som se impregnou tão rápido na minha cabeça, que logo, me cérebro assemelhou aos sons de centenas de ratos.

     Naquele instante, passei a não sentir mais temor, e sim sonolência seguida de estresse, assim resolvi me levantar para tomar um pouco de água e aguardar o som cessar.

     Caminhei então até minha cozinha que era colada a minha sala, se tornando um único ambiente, típico aos de cozinhas americanas.

     Com o copo d'água em minhas mãos, passei a me aproximar à sacada, não era tão alto, já que pertencia ao sétimo andar, de um prédio de dezesseis andares, notei que garoava levemente naquela madrugada.

     Logo surgiu uma curiosidade em saber o horário que eu extremamente cansada, ainda se entrava acordada. Dirigi-me ao quarto e peguei o celular, notei que não possuía notificações, a hora marcada eram 02:33, assim não hesitei em querer me deitar e tentar dormir outra vez, todavia, fui abraçada pela sensação de ser observada, meu coração novamente passou palpitar, me sentia tremula.

     Por um reflexo de segundo, percebi aquele brilho em minha sala, foi meramente por questões de milésimos de segundos, achei altamente esquisita tal situação, então resolvi olhar brevemente o que ocorria.

     Ao adentrar no ambiente da sala, passei os olhos em meu sofá, e logo em frente à minha televisão, a qual dias não ligava. Em continuidade da minha checagem, cometi o meu primeiro erro daquela noite.

     Observei a porta de entrada, pelo vidro vi uma silhueta do que parecia ser uma pessoa, conforme o desconhecido foi se aproximando da entrada, seu corpo foi se tornando mais visível. Sugeri em meus pensamentos que se tratava de um homem alto de porte atlético.

     Ele ficou de frente a minha porta, e assim bateu com toda sua força, a cabeça na parte de vidro, e assim pude ver aquilo que iria me deixar apavorada naquele instante, seu suposto rosto.

     Olhos grandes, pele reluzente, e um sorrido anormal, a escuridão era predominante no ambiente, assim não pude notar demais detalhes, somente que tal rosto, era muito diferente de tudo, provavelmente se tratava de algo não vivido, e sim de uma suposta máscara.

     Essa pessoa então, ficou paralisada por alguns instantes em minha porta, com a cabeça fixada no vidro, o único som que era emitido, se assemelhava ao de um leve gemido.

- Vou chamar a polícia – assim falei, tremendo de medo.

     Não obtive êxito em minha resposta, assim a repeti por alguns momentos, e em seguida me dirigi ao quarto e peguei meu celular, e para o meu desespero, o mesmo estava desligado, por um único motivo fútil e imbecil de minha parte, falta de carga.

     Nenhum outro meio de comunicação imediata com a polícia eu possuía no apartamento, mas tomei a decisão mais cabível, me dirigi ao interfone do prédio.

     Infelizmente, ao tira-lo do gancho, vi o que a manutenção marcada para aquele dia não foi realizada, e então não foi possível contatar alguém do prédio. Nesse instante, passei a não pensar lucidamente, e logo encostei em minha cama, pensando que tal situação por mais bizarra que seja, não foi extrema ao ponto de me preocupar. Infelizmente algo naquele momento ocorreu, demonstrando que eu estava certamente errada.

- Socorro! Alguém me ajude.

     O apartamento de cima, alguém estava pedindo ajuda, pela voz, era uma mulher chorando.

     O que eu podia fazer nesse momento, fiquei completamente estupefata, sem nenhuma reação. Nesses momentos de tensão, nosso cérebro funciona de uma maneira completamente distinta, assim passei a lembrar de algo que gostaria de ter esquecido, a situação que mudou a minha infância e me traumatizou por quase quinze anos. 

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⏰ Última atualização: Jan 08, 2020 ⏰

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