Único

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Sentia o suor escorrendo pela têmpora, limpou com o antebraço enquanto seus olhos estavam vidrados na caixinha a sua frente. Ao lado, Giyuu a olhava inquieto e de braços cruzados, mas alguém deveria demonstrar calma, então estava sendo muito paciente com sua namorada que parecia que ia entrar em pânico. Não iria negar, aquela situação fazia até ele deixar de lado sua calmaria costumeira.

— Você vai abrir? — Perguntou calmamente, Shinobu lhe direcionou um olhar preocupado.

— Estou com medo — Revelou voltando a fitar a caixinha. — Não sei o que vai acontecer daqui pra frente.

— Não importa o resultado.

Mordiscou os lábios, tirando a pelezinha, depois deu um longo suspiro, olhou para o namorado que estava com um olhar terno, tentava acalmá-la e passar confiança, mesmo que também estivesse apreensivo por dentro. Os dois eram apenas jovens adultos no começo da faculdade, ele tinha vinte e um e ela havia acabado de completar dezoito anos, nunca nem teve um emprego na vida. Não sabia como iria ficar sua vida daqui pra frente, admitia que esse fosse o seu maior medo.

Segurou firme a caixinha, estava na hora, não podia adiar mais. Melhor acabar logo com essa angústia, se fosse mesmo teriam que lidar com as consequências. Abriu lentamente e tirou de lá um “pauzinho” de plástico branco e azul, parecia mais um termômetro ou algo do tipo. Comprou logo o mais caro que tinha na farmácia, julgando que o resultado fosse mais preciso.

— Pega — Disse Giyuu entregado uma garrafa d'água — Bebe logo.

— Eu acho que vou fazer amanhã...

— Shinobu! — Chamou a atenção, fez uma pausa para respirar e aparentar estar calmo. — Olha, faz logo, ou você vai ficar me mandando mensagem desesperada o dia todo.

— Você é muito insensível.

— Meu Deus...

Ele bufou, desistindo de continuar discutindo, conhecia muito bem a peça e sabia que não iriam parar tão cedo até ela ter vencido. Continuou segurando a garrafa na frente dela, balançando como se incentivasse a pegar, ela revirou os olhos e puxou da mão dele. Trancou-se no banheiro, ficou lá por quarenta minutos, tempo suficiente para Giyuu começar a se preocupar. Decidiu ir lá conferir o que estava acontecendo, ficou de frente para a porta e bateu de leve.

— Shinobu, tá tudo bem aí? — Perguntou, mas não obteve resposta — Shinobu! — Aproximou o ouvido da porta tentando escutar algo.

— Vou morrer! — Gritou dando um susto nele.

Giyuu não era muito expressivo, mas o grito o assustou e ficou realmente preocupado se tinha acontecido algo grave, mesmo tendo certeza que sua namorada “só” estava em pânico por causa do resultado. Aquela situação era um verdadeiro teste de paciência para ele, porque além de estarem falando de uma vida, o que agravava mais era que ela era a única pessoa que o fazia perder a calma, imagina em uma situação como essa.

— Abre essa porta.

Demorou, mas ela abriu. Viu a garota sentada no chão segurando com as duas mãos o “termômetro”, que o fitava com as sobrancelhas franzidas e cheia de dúvidas. Ele arqueou a sobrancelha ao ver aquela cena. Por que diabos ela estava no chão?

— Eu não sei o que esse resultado significa, pega a caixinha pra mim. — Disse, claramente, tremendo e transtornada.

Ele não foi de imediato, ficou a olhando, então suspirou. Abaixou-se, ficando da altura dela, tocou-a no ombro, ato que chamou sua atenção e a fez olhar para si. O olhar de Giyuu era carinhoso, tentava passar confiança e acalmá-la, e Shinobu se acalmou, os olhos azuis escuro dele sempre tiveram esse efeito sobre ela, pois passavam muita serenidade.

— Eu já disse que não importa o resultado. — Falou em um tom suave.

— Eu sei... É que eu não quero um filho agora, somos muito novos, não sei como vai ficar a faculdade e nem um trabalho eu tenho.

— Sim, eu sei, mas se você estiver realmente grávida, tudo bem, pode ficar tranquila porque vou estar aqui. Juntos vamos lutar para dar certo.

Shinobu se calou, ficou fitando admirada o seu namorado. Nunca o viu falando assim, nunca foi tão sentimental e falante, ela amava o jeitinho centrado e introvertido que sempre teve desde o tempo de escola, onde se conheceram; mas estava amando mais ainda esse Giyuu compreensivo e fofo que estava se revelando. Abriu um sorriso de orelha a orelha, e tocou o rosto dele delicadamente, tinha a mania de fazer isso, era um ato que ele gostava, então tocou e massageou a mão dela que estava em seu rosto.

— Você acha mesmo que conseguiremos?

— Tenho certeza. Não se preocupe — Sorriu, e ela se sentiu bem, pois Giyuu raramente sorria e quando o fazia era o mais lindo e sincero que existia. — Eu trabalho, não vai faltar nada.

A puxou para um abraço e ficaram assim por um tempo, sentiu que agora tudo ficaria bem, fechou os olhos e se reconfortou na curvatura do pescoço sentindo o perfume que ela havia comprado para ele e que adorava. Ao se separaram, foi beijá-la, mas ela colocou os dedos nos lábios dele e deu um sorriso de canto.

— Primeiro a caixa.

Olhou-a com uma cara de paisagem, ela deu um sorrisinho sem mostrar os dentes, ele o conhecia bem, estava brincando consigo. Se divertia muito quando ele fazia aquela expressão de peixe morto, pois provocá-lo era prazeroso demais, adorava.

Levantou-se e foi buscar a caixinha do teste de gravidez, passou os olhos pelo manual, e sua namorada o olhava nervosa e esperando atentamente.

— Quantos tracinhos têm aí? — Perguntou, então ela olhou para o teste.

— Aqui tem um — Respondeu receosa.

— Hm — Coçou o queixo com a ponta dos dedos, ela arqueou a sobrancelha e já ia questioná-lo sobre o “hm” — Não está grávida.

Piscou lentamente os olhos algumas vezes, absorvendo a informação. O sorriso largo se formou nos lábios, e pulou nele, entrelaçando as pernas em sua cintura e os braços no pescoço. Levou um susto, deu passos para trás tentando se equilibrar e não cair no chão do banheiro, só conseguiu se estabilizar quando já estava do lado de fora. Sorriu bobo, abraçou a namorada que estava dando gritinhos histéricos de alegria. Era a sua Shinobu, amava como o surpreendia todo dia

— Você ainda não vai ser papai — Disse se afastando um pouco para olhá-lo nos olhos. — Nosso filho ainda não vai conhecer seu pai emo e anti-social.

Corou e fez biquinho, ela sorriu o achando incrivelmente fofo, mesmo sem intenção.

— E ainda não vai conhecer sua mãe incrivelmente linda.

Agora foi sua vez de corar, nunca se acostumaria com ele a elogiando assim. Nunca entendeu quando as provocações e brincadeiras com o garoto tímido virou amor, mas de uma coisa tinha certeza: amava aquele homem e mesmo se estivesse grávida agora, sabia que seu filho ia ter o melhor pai do mundo.

Puxou-a para um beijo, selando seus lábios com todo desejo que possuía, movendo tão delicadamente como se tivesse medo de machucá-la, e ela achava isso adorável, sempre ficava para si a tarefa de tornar os beijos mais quentes. Se achava muito sortudo por namorar uma mulher como aquela, a qual pretendia futuramente formar uma família e passar o resto de suas vidas. Ele era a calmaria e ela a tempestade, uma combinação perfeita.

— Da próxima vez, compre uma camisinha que não estoure, ou ele vai nos conhecer logo, logo — Disse maliciosa com um sorriso ladino.

— Não se preocupe. Por enquanto, você é só minha.

A caixinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora