Quando pisei naquela casa empoeirada,
Com o chão de madeira velha e o fusca azul abandonado lá fora,
O tapete na sala com uma mancha suspeita e o cheiro de terra molhada.
Não acreditei que iria ficar;
Eu não tinha tempo pra ficar.
E naqueles dias irritante no meio de tanto mato,
Naquele pedacinho de lugar nenhum em que o tempo para.
Nesse espaço tempo ele entrou
Seus dedos compridos e airosos desenharam curvas em meu mapa;
Com todo o tempo do mundo foi se encaixando ponta a ponta
Tinha tanta calma que chegava a me estressar;
Ele me incomodava de um jeito diferente
Como riscos de chuva que caiem incessantemente
Não sei dizer bem o que era;
Talvez porque ele sempre me acordava as 7 da manhã tão enérgico
Ou os olhos que não se decidiam entre verde castanho
Ou quem sabe o cigarro fedorento entre seus dentes
Talvez toda sua passividade sobre os problemas
E mesmo parecendo um ignorante;
Tudo o que sabia ele me ensinou,
E o que eu conhecia ensinei também
E no final sua presença não me perturbara mais.
Tagarelavamos sem parar transformando noite em dia
Mesmo ele mal entendo a maioria das coisas que dizia
Mas os olhos, aqueles olhos que tanto me incomodavam por sua inquietante mudança de cor
Faiscavam ao falar de suas viagens
E não mais incomodado me via agora acolhido
Acolhido naqueles olhos
Acolhido naquele sorriso
Acolhido naqueles braços
Assistindo terror B, sentados na mancha duvidosa do tapete
Em noites assustadoras ele me abraçava
E em dias de tempestade ele me dizia:
Que os raios estavam apenas dançando, e a chuva apenas deslizando,
E nada poderia me machucar de novo.
E logo eu estava bem.
Talvez fosse mais que amizade,
Talvez fosse mais que sexo,
Talvez eu quisesse ficar ao lado dele.
Não!
Não me venha com isso, eu tinha um plano eu tinha uma meta
Eu sempre odiei tempestades
Odiava como ela era rígida
Como ela mudava tudo de lugar
Como me deixava desnorteado
Como me deixava sem nada
Ele era a maior das tempestades, mas eu nunca recuei,
Mesmo quando ele esvaiu de meus braços e eu não entendia por quê?
Todas as vezes que eu perguntava se ele estava bem e ele não respondia;
Todas as vezes que ele me abraçava desprevenido e dizia que estaria comigo pra sempre;
Todas as vezes que ele me beijou e não me contou.
Eu me sentia como o inferno preso naquele livro de John Green.
Pra que? Para me ver em prantos num hospital vendo seu corpo magro
Pra te levar a quimioterapia mesmo sabendo que não vai mudar
Pra eu doar suas coisas e fazer um discurso no seu funeral?
Droga! cara, Vai se fuder!
...
Ele era uma tempestade.
Não só isso ele era garoa quando irritantemente pede por algo.
Furacão quando eufórico com uma novidade vem com toda sua força.
Chuva quando nos irrita, provoca até fazer a gente rir.
Nevoeiro quando triste se esconde.
Trovão quando se irrita.
Furacão quando eufórico com uma novidade vem com toda sua força.
Nuvem quando acorda e da um beijo macio.
Nimbus quando transborda.
Raio quando vem como luz e logo parte.
Eu estava de frente a uma tempestade
Me sentindo como singin in the rain.
Fim.