Prólogo

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Eu amava minha vida.
De verdade, correndo o risco de parecer convencida, tinha a vida que todos pagariam pra ter.
Principalmente numa cidade como Silvermount, de 5.000 habitantes e tão conservadora que chega a ser careta. Eu praticamente quebrava todas as regras que o lugar pitoresco e arborizado tentava impor aos adolescentes.
Havia acabado de domesticar meus fios ondulados em frente ao espelho e agora descia as escadas de um modo apressado, não era como se estivesse ansiosa para a segunda feira, mas já havia deixado Greg me esperando na frente de casa a uns quinze minutos.
Bom, ele quem escolheu a hora errada para vir, não é? Uma garota nunca está atrasada, as outras pessoas que estão adiantadas demais, não é?

Antes que pudesse atingir a porta, sinto minha mão ser puxada gentilmente, o que me faz parar e dar um sorriso genuíno, mas já temendo a reação dela para o que eu ia dizer. — Soledad, não tenho tempo para o café.

— Claro que você tem, niña. Seu namorado que te espere.

Bom, se fosse uma empregada comum, talvez eu pudesse tentar me esquivar, mas não havia segundo papo com Sol e eu obedecia suas regras como um pequeno soldado loiro, e com muita felicidade por ter ela do meu lado. Algo como uma mãe deveria se parecer, talvez?
Assim que dou a primeira mordida no donut de blueberry, sorrio ao mastigar a comida familiar e sempre acolhedora. — Meus pais estão em casa?

Pergunto, mesmo já sabendo a resposta. Não era difícil de adivinhar.

— Não, senhorita Van Pelt. Eles saíram cedo e disseram para você passar e buscar Lydia, pois dispensaram o motorista.

Grunho irritada, interrompendo o processo de mastigar a massa na minha boca. Ela era minha filha ou era filha deles, afinal?
Quando era pequena, Lydia costumava me chamar de mamãe. Não percebi o quanto aquilo era problemático até ter a senhora Stella Van Pelt vomitando broncas no meu ouvido por quase meia hora, como se fosse culpa minha.
Acontece que agora com 12 anos, a minha caçula tem o discernimento de saber quando está sendo deixada de lado, ou quando está sempre sob meus cuidados ou os da nossa fiel empregada. E tenho medo que ela saia magoada.
Eu já tinha passado dessa fase, na realidade. Você vai se acostumando com a ausência das pessoas que gosta até se tornar totalmente apática. Tudo que meus pais conseguem de mim agora é a maior apatia e indiferença, e acho justo, por que era assim que eles sempre tratavam a nossa família.
Sinto um carinho sobre meu ombro e dou um sorriso fraco, percebendo que já havia acabado o muffin enorme que comia entre meus devaneios.

— Vou indo, Sol. – Bebo um gole do copo de suco para fazer todo o muffin descer antes de correr para fora.

Ao atingir o gramado verde da frente da minha casa, a primeira coisa que encontro são Gregory, Tiffany, Mackenzie, Dylan e Rachel parecendo muito zangados comigo, apoiados preguiçosamente contra o carro. Ops.

— Por que você sempre demora pra caralho? — Dylan diz e eu dou de ombros, indiferente.

— Por que vocês esperam. — Digo, bagunçando seu cabelo e entrando atrás no carro conversível junto com as meninas. Me inclinando suavemente para dar um beijo na bochecha do meu namorado. Não nos vimos por alguns dias e ele não parecia exatamente que sentia minha falta. Iria protestar sobre isso mais tarde.

A escola é realmente um lugar de cobras perigosas, e eu poderia estar com medo se não fosse uma delas.
Meus passos eram coordenados com os das meninas enquanto nossos braços estavam entrelaçados e passávamos óleo corredor como se fôssemos rainhas régias. A sensação do barulho oco dos saltos combinado com o balançar de cabelos e os olhares atentos era incrível, nunca me cansaria daquela sensação. Me trazia a confiança necessária para o resto do dia, que nem de longe era parecido com a minha manhã.
Mas existiam consequências estranhas que eu realmente não gostava de fazer.

— Será que ela só tem esse mesmo sapato? — Tiff diz num sorriso lascivo enquanto Peach Williams aparecia no nosso campo de visão, quando a ruiva nos vê, simplesmente segura seu caderno com mais força. Posso ver seus ombros vacilarem a medida que se aproxima.

— Nossa, será que ela não se toca? Essa sapatilha está tão out que provavelmente não combina com nada. – Rachel complementa e eu apenas rio. Peach passa e eu me iludo por alguns segundos que elas iriam deixar a menina passar ilesa, porém...

— Ei, pessegazinha! — Mackenzie a segura pela camisa firme o suficiente para que ela interrompesse sua caminhada.

— S-Sim? – Ela murmura, tentando se esconder no meio dos livros.

— Precisamos de vinte dólares pro almoço. — Digo num tom venenoso e minhas amigas riem da minha genial ideia. Eu sorrio.

— Eu não trouxe dinheiro, meninas, sinto muito. — Seu rosto estava torcido em um certo tipo de receio. Lá no fundo, não era realmente meu maior hobbie amedrontar os mais fracos, mas a muito tempo havia entendido que para manter meu posto junto com minhas amigas, precisava daquilo.

— Qual é. Sabemos que você tem algo aí, hum? Não divide nada com as suas amigas?

Assim que digo isso, minhas mãos se direcionam até a bolsa entreaberta da garota, mas antes que eu pudesse completar minha trajetória para abri-la, sinto um tapa moderadamente forte em cima do dorso da minha destra.
Dou um pulinho em meu lugar e ergo o rosto imediatamente, minha expressão de poucos amigos indicando que eu iria procurar o sujeito que teve a audácia de fazer aquilo comigo.
Bom, ele estava lá. Não tinha fugido como achei que teria.

— Ela até poderia dividir, mas não estou vendo nenhuma amiga dela aqui. – Selene Sanchez tem sua voz elevada e com uma nota de arrogância quando se refere a mim, e mesmo por trás dos óculos de grau, eu conseguia ver o brilho de raiva em seu olhar.
Meu semblante se fechou imediatamente. Sabia que dali para frente a troca de farpas seria intensa.

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