ÚNICO

166 13 2
                                    


Tod estaciona seu carro à espera do seu novo passageiro. Será o último do dia e o mais difícil.

O passageiro entra confuso dentro do seu carro e logo o mesmo começa a mudar para algo mais aconchegante e familiar para o seu passageiro, Tod já estava acostumado com essa rotineira transformação a cada novo passageiro.

São anos.

Tod dá uma breve olhada no cara já de idade ao seu lado, estava confortável e pronto para a breve viajem.

Sua última viajem.

Mas Tod queria que o próprio passageiro – no qual não queria saber o nome – confirmasse que já estava pronto, por isso perguntou:

– está pronto?

– e alguém já esteve pronto para esse momento? – responde rudemente com outra pergunta o passageiro.

Pelo menos já está conformado, pensou, menos uma explicação.

Não precisou responde-lo, ambos já sabiam a resposta.

Tod ligou o carro e começou o percurso que já conhecia tão bem como seu nome. A rua começou a se transformar em uma estrada no meio do nada; cada um pensava de um jeito sobre essa passagem breve para o outro lado, mas o seu recém companheiro preferia um caminho já conhecido, onde precisou usar para muitas viagens já feitas pela sua longa vida.

A cada passageiro que entrava no carro, Tod sabia tudo de sua vida antes do mesmo entrar, isso respondia umas coisas, deixava dúvidas de outras, mas nada era mais difícil do que o caminho que ambos faziam até a chegada do verdadeiro fim.

Seu último passageiro estava confuso, triste, mas com uma forte sensação de realização, e isso era muito raro de acontecer.

Tod já passou por muitas situações onde achava que a vida era injusta demais, mas quem era ele para dizer algo? Era apenas Tod. A última pessoa que todos viam antes de chegar ao outro lado.

A parte mais engraçada era como os passageiros viam o mesmo, essa era sua brincadeira mais divertida e mórbida que tem há anos, Tod sabia disso, mas a curiosidade de saber como aparentaria para seus passageiros era uma ótima forma de levar seu trabalho de um jeito mais leve.

Estava tão acostumado com essa "profissão" que nada mais o surpreendia. Como por exemplo o desabafo que seu passageiro estava começando a despejar:

– eu fui muito feliz, sabia? Fui amado, admirado, invejado por muitos, mas nunca dei bola. Sempre fiz o meu melhor, queria ser a diferença entre os demais e consegui. Não me arrependo de nada, mas custava me dá um pouco mais de tempo?

Tod suspira.

– todos tem uma missão e a sua foi comprida, fique feliz por isso. – diz Tod ao passageiro – infelizmente, a maioria não consegue nem a tentar e já são cortados sem nem serem concebidos e isso é triste, outros já realizam de imediato e são cortados logo, mas você teve um caminho de conquistas e isso é quase uma dadiva, sua missão foi comprida... então não á do que reclamar, certo?

– certo. – ele suspira compreendendo aos poucos minhas palavras, mas logo me questiona – como você consegue?

– consigo o que?

– fazer isso! Levar as pessoas até .

– cada um tem seu trabalho, e esse é o meu.

– e você gosta dele?

– sim.

– mesmo sendo esse trabalho?

– alguém teria que fazer isso, certo?

O passageiro concorda.

Tod concorda.

Sempre foi questionado por passageiros mais difíceis e esse era um deles; Tod gostava, pois isso fazia toda vez o mesmo ter mais certeza que estava no papel certo do cosmo e com ele fazia-se o equilíbrio.

O segredo para ser feliz é aceitar o lugar onde você está hoje, e dar o melhor de si todos os dias, mas a respeito de Tod é um pouco diferente. O seu lugar é o começo do fim, e ele se empenha todos os dias para fazer essa passagem dos seus passageiros o mais confortável e rápida possível, pois muitas vezes as chegadas deles até seu carro podem ter sido as mais dolorosas e difíceis feitas.

Assim que Tod para o seu carro no destino final de todos os seus passageiros, o passageiro no momento vira de frente para o mesmo e diz:

– fui muito feliz e aceito o meu fim.

– seja feliz na sua próxima vida. – deseja Tod se despedindo.

– tenha um ótimo trabalho. – se despede o passageiro saindo do seu carro indo a direção a luz intensa em frente ao portal enorme.

Tod retorna o caminho para buscar seu novo passageiro, mas seus pensamentos estão longes como sempre fica nas voltas para buscar seus novos passageiros.

A vida é curta para todos, mas só cada um poderá realizar sua missão a sua maneira; pensou Tod, Viver sem arrependimentos é para poucos, mas sempre é mais leve aqueles passageiros que conseguem ser um desses poucos.

Sempre é mais leve.

.

.

.

.

.

FIM

Irreversível •Conto• ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora