Capítulo 3 - Dúvida

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Sai do carro, me sentindo muito envergonhada e preocupada com o olho do homem que me encarava pela janela. Mas claro, que tipo de idiota encara uma menina cantando dentro do carro? Talvez seja um psicopata, mas prefiro não ser processada por jogar uma garrafa no olho de um psicopata.

— Meu Deus, você tá bem? — me aproximei dele, sentindo uma diferença significativa entre a minha altura e a dele.

— Claro que não, você jogou uma garrafa no meu olho! — ele falou, com a mão tampando o olho-vítima.

— Ah, desculpa, mas eu tenho medo de caras que me encaram pela janela do carro — falei, sendo sarcástica. Eu não podia acreditar que ele ainda tinha a cara de pau de tentar me culpar pelos meus instintos.

Por coincidência, Miguel chegou na mesma hora com donuts e café. Seu rosto se tornou confuso quando viu eu tentando ver como estava o olho do desconhecido e ele tampando, não me deixando ver e uma discussão difícil de descifrar o que estava sendo dito.

— O que diabos tá acontecendo aqui?

Olhei para Miguel e fui em sua direção, ficando de frente pra ele.

— Esse louco tava me encarando do lado de fora do carro e eu joguei uma garrafa no olho dele.

— Você jogou uma garrafa no olho dele?!

Ela sim é louca — o idiota disse.

— Não, você não entra na discussão.

— Chega, vamos entrar na cafeteria e resolver isso como pessoas... — Miguel analisou a situação e deu um leve suspiro — normais.

Nós dois consideramos a solução e caminhamos até a entrada da cafeteria, nos sentando em uma das mesas. Miguel pediu gelos para colocar no olho-vítima e nos juntou a nós, pronto pra resolver a situação.

— Tá bom, o que aconteceu primeiramente?

— Eu tava cantando dentro do carro, com a garrafa na mão, e esse louco tava me encarando pela janela.

— Eu estava só olhando! E eu queria te falar uma coisa.

Ignorei o que o idiota tinha dito e continuei falando com Miguel

— Quando ele começou a falar, eu me assustei com o psicopata e joguei a garrafa nele. Foi isso.

— E qual é o seu nome? — Miguel falou, calmo e sereno como sempre, para o homem.

— Sebastian. Finalmente alguém se preocupou com isso.

— E porque você estava encarando ela?

— Porque eu gostei da voz dela, ela canta muito bem. Eu iria perguntar se ela é cantora ou algo parecido, só fiquei interessado com tal talento.

Um silêncio curto preencheu o vazio da dúvida. Ele é interrompido pela garçonete chamando o pedido de Miguel, que pediu um café para o idiot-- Sebastian. Ele saiu pra pegar o pedido sem dizer nada, só não tirando os olhos de nós dois.

Quem é você? — perguntei, curiosa e confusa.

— Sebastian Scott, sou produtor musical. Tenho um estúdio em Hollywood, fiquei interessado se você aceita a proposta de ir comigo pra Los Angeles e investir no seu talento.

Só podia ser alguma pegadinha. Eu não tenho talento, mas sempre foi meu sonho, aqueles de criança que você nunca tira da cabeça, mesmo sabendo que é impossível. Talvez seja só o Miguel me fazendo essa pegadinha e depois me pedindo em casamento. Ou Camila e Leandro planejaram isso... Não, a Camila não faria esse tipo de coisa, ela não gosta de brincar com a esperança dos outros. Leandro até pode ser, mas ele está na estrada agora, indo pro Rio de Janeiro. Então... será que é verdade?

O meu silêncio foi acompanhado de uma palidez e a espera por respostas de Sebastian.

— Tá bom, você tem até dia 15 de janeiro pra decidir — ele deu um longo suspiro e deixou seu cartão de visitas em cima da mesa.

Ele se retirou antes que eu pudesse dizer alguma coisa e antes mesmo de Miguel entregar-lo o café. Então, Miguel veio pra mesa.

— O que aconteceu?

Eu não podia dizer pra Miguel que agora eu teria que escolher entre ele e o meu sonho de criança. Peguei rapidamente o cartão de visitas e levantei da cadeira.

— Nada. Vamos embora também, ele disse que tinha um compromisso agora. E nós também temos, com os donuts.

Miguel sorriu pra mim e me deu um beijo na testa. Como de costume, ele pegou na minha mão e as entrelaçou. Caminhamos pro carro e dessa vez ele dirigiu, não pôde disfarçar o medo dele de eu acabar batendo o seu querido e novo carro.

***

Passamos o final da tarde vendo filmes de comédia romântica. Miguel estava sentado no sofá e eu estava deitada em seu ombro, enquanto ele abraçava os mesmos por trás. Tínhamos comido todo o donut e ele tomou quase todo o café, já que eu não podia tomar tanta cafeína. No final do segundo filme, adormeci no seu ombro e ele me deitou na cama. Já não surpreendia com minha facilidade de dormir no seu ombro, principalmente enquanto vemos filmes.

Acordei com o meu celular tocando. Minha mãe, só para confirmar que eu estava bem e com Miguel. Já eram 19h13 e eu atendi.

— Oi filha, tá tudo bem? — ela perguntou, preocupada — está na casa de Miguel?

— Tô sim, mãe — falei com a voz embargada de sono e esfregando os olhos.

— Não chega muito tarde, eu e seu pai vamos na casa de sua tia.

— Tá bom, não vou.

E ela desligou. Miguel chegou no quarto e se deitou ao meu lado, me abraçando de costas e me dando leves beijos para me acordar.

— Você parece até um bebê, come e dorme — ele brincou.

Me virei pra ele e sorri. Eu poderia acordar facilmente assim todo dia, com aquele sorriso tão familiar mas ao mesmo tempo tão novo. Tudo em Miguel era brilhante e macio. Se anjos realmente existem, eu tenho quase certeza que são tão perfeitos quanto ele. Dei um beijo na ponta de seu nariz e ele enterrou seu rosto no meu pescoço. Sua respiração parecia leve diante meu pescoço e acalmava todo os meus músculos.

— Vou ter que chegar cedo em casa, minha mãe quer ir visitar minha tia — falei repentinamente, querendo ficar ali com ele eternamente.

Miguel resmungou em protesto.

— E se eu for com você? — ele falou, ainda com o rosto enterrado no meu pescoço.

— Melhor ainda — falei sorrindo e fazendo cafuné em seu cabelo — mas precisamos passar na minha casa pra eu tomar banho e tocar de roupa, tá bom?

Ele resmungou novamente mas concordou. E continuamos ali por alguns minutos, só curtindo a presença um do outro.

Cantora por AcidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora