IV

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eu tenho um jardim cheio de lembranças e
memórias sobre você
e principalmente tudo que não fomos e nunca
seremos.

ando pelas flores
cuido para não me machucar
com os espinhos das rosas

eu sei que seria mais fácil arrancar as rosas
do meu jardim florido
mas elas me lembram sua beleza
que machuca
mas mesmo assim
ainda faz eu querer
te tocar.

você é minha rosa
favorita.

os perfumes que as flores deixam
no ar
me sufocam
me torturam
me prendem
me agridem
me causam crises de choro
pois me fazem sentir
saudade sua.

caminhar entre os lírios
é apenas um passatempo

falar com eles
não tem a mesma graça.

então às vezes
só às vezes
eu corro para a rosa
que me irrita e me corrompe
mas que mesmo assim não vivo sem.

os girassóis
me dão notícias da rosa
falam que
você está igual
e por vezes contam-me
juram-me
que viram outra pessoa
regando-a.

os jasmins
cantam para mim
sua canção favorita
sussurrando em meu ouvido
uma melodia linda
nesses momentos me sinto

ao mesmo tempo abençoada &
amaldiçoada
por ter audição.

os narcisos
sempre aguardam minha visita
dizem que devo ouvir-lhes
e parar de tentar conviver
com espinhos

eles me fazem sorrir
contam boas histórias
escutam atentos os meu medos
e fazem o possível para eu não voltar
à minha rosa.

mas eu sempre volto.

as tulipas
anseiam minha chegada
me pedem para recitar tudo que escrevo
sobre uma tal rosa
que elas não conhecem mas acham que
me rende bons versos

eu recito tudo
palavra por palavra
com um sorriso no rosto
e um aperto no peito.

as orquídeas me confortam
me compreendem
me aceitam
me agradam
e sempre estão ali
de bom grado
para me aguentar de qualquer jeito.

elas me escutam falar da rosa
e dizem
que eu deveria
arrancar ela do meu jardim.

ah
não suporto amar
minha maldita rosa.

ela é muito cruel
e ainda assim
me abstém.

eu queria pensar que sua beleza
não compensa
seus espinhos.

odeio te cultivar aqui. 

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