quando eu morri
fazia calor, final de 2017
muita coisa mudou desde então
de algum lugar eu venho observado as coisas e a mudança drástica.
não faço ideia de quem seja essa cópia barata de mim, mas ela estragou muita coisa
sendo tudo que eu não era, ela se apresenta como doce e melancólica obsessão por amor infinito, ela gosta de atenção, de ciúmes doentio e muitas doses de posse.
não sei como ainda mantém contato com gente, muitos se foram e daqui - de algum lugar - eu sinto pena dela e das pessoas que permaneceram.
ela é paranóia pura e tem uma vozes que de algum jeito, eu - em algum lugar - as ouço.
eu não estou morta, fui enterrada viva e mantida em cativeiro nas partes mais sombrias da mente dessa pobre garota.
poderia ficar aqui e deixar que ela continue tendo a doce vida que ela acha ser boa, suprimido seus desejos e limitando os dos outros.
mas não, não posso.
é a minha vida, meu corpo, minha alma.
leve, livre, leal.
antes de ser jogada no fundo de um poço escuro cujo o silêncio não reina nem à noite - muito pelo contrário - eu me vi em outra vida.
me vi borboleta, de 17 anos atrás.
borboleta marrom de manchas brancas.
era eu
me vendo
sendo presa
aquilo doeu
mas ela ter voado pra longe me deu um alívio
senti que uma parte minha estava livre e a outra ansiava para um dia também estar.
hoje eu a matei
não a enterrei viva nem a mantive em cativeiro
as vozes foram silenciadas e jogadas pra bem longe desse lugar nenhum
hoje eu renasci
e espero que, de algum lugar, essa pobre garota renasça de um jeito bom e sem precisar roubar a essência e vida de ninguém pra respirar ar puro.