Foi no quarto ano do meu aprendizado com Joe, em uma noite de sábado. Havia um grupo reunido junto ao fogo no "Três Barqueiros Alegres", atento a Mr. Wopsle, que lia o jornal em voz alta. Eu era um dos que faziam parte do grupo.
Fora cometido um crime que causara grande comoção pública, e Mr. Wopsle estava encharcado de sangue até os olhos, só de ler. Ele se comprazia com cada um dos adjetivos repugnantes usados no relato, e se identificava com toda e qualquer testemunha do inquérito. Ele até gemeu fracamente como a vítima: "Estou acabado!", e berrou selvagemente como o assassino: "Vou pagar na mesma moeda!". Ele nos forneceu o testemunho médico, em uma imitação perfeita do nosso médico local; e gaguejou e tremeu como o velho encarregado da barreira, que tinha ouvido os golpes, a ponto de imitar até a sua paralisia, e lançar dúvidas sobre a competência mental daquela testemunha. O juiz encarregado de investigar o crime, nas mãos de Mr. Wopsle, tornou-se Timon de Atenas; o bedel, Coriolano. Ele se divertia imensamente, e todos nós nos divertíamos também, em uma aura de delicioso conforto. Neste agradável estado de espírito, pronunciamos o veredicto de assassinato premeditado.
Foi só então que me dei conta da presença de um cavalheiro estranho, apoiado nas costas de um banco em frente a mim, olhando para nós. Havia em seu rosto uma expressão de desprezo, e ele mordia o lado do seu dedo indicador, enquanto olhava para as pessoas do grupo.
"Bem!", disse o estranho para Mr. Wopsle, quando a leitura terminou, "o senhor resolveu tudo do modo que melhor o satisfaz, sem dúvida?"
Todo mundo se assustou e olhou para ele, como se o homem fosse o assassino. Ele olhou para todo mundo com uma expressão de frieza e sarcasmo.
"Culpado, não é?", disse ele. "Ora, digam logo. Vamos!"
"Senhor", respondeu Mr. Wopsle, "mesmo sem ter a honra de conhecê-lo, eu digo: culpado." Diante disso, todos criamos coragem para murmurar uma confirmação.
"Sei que pensam assim", disse o estranho; "Eu sabia que diriam isso. Eu lhes disse. Mas agora, faço-lhes uma pergunta. Vocês sabem, ou não sabem, que a lei da Inglaterra supõe que todo homem é inocente, até que se prove – que se prove de modo definitivo – que é culpado?"
"Senhor", Mr. Wopsle começou a responder, "na minha qualidade de inglês, eu..."
"Vamos!", disse o estranho, mordendo o dedo. "Não fuja da pergunta. Ou o senhor sabe, ou não sabe. O que vai ser?"
Ele ficou com a cabeça e o corpo para frente, em um modo interrogativo e ameaçador, e apontou o dedo indicador para Mr. Wopsle, antes de mordê-lo de novo.
"E então?", disse ele. "O senhor sabe disso, ou não sabe?"
"Certamente que sei", respondeu Mr. Wopsle.
"Certamente que sabe! Então por que não disse logo? Agora, vou lhe fazer outra pergunta", disse o homem, apropriando-se de Mr. Wopsle, como se tivesse direito à pessoa dele, "o senhor sabia que nenhuma dessas testemunhas foi reinquirida?"
Mr. Wopsle começou com, "Tudo que posso dizer é que...", quando o estranho o interrompeu.
"O quê? Não vai responder à pergunta? Sim ou não? Bem, vou colocá-lo à prova de novo." E apontou o dedo outra vez para ele. "Preste atenção. O senhor está ao par, ou não está ao par, que nenhuma dessas testemunhas foi interrogada de novo ainda? Vamos, só quero uma palavra do senhor: sim ou não?"
Mr. Wopsle hesitou, e todos nós começamos a ter uma opinião bem pobre sobre ele.
"Vamos!", disse o estranho, "Vou ajudá-lo. O senhor não merece, mas vou ajudá-lo mesmo assim. Olhe para esse papel que o senhor segura na mão. O que é isso?"