Era um daqueles dias de março em que o sol brilha quente e o vento sopra frio, quando é verão no sol e inverno na sombra. Nós usávamos nossas japonas, e eu levava uma sacola de viagem. De todos os meus bens terrenos, não levei senão os poucos artigos de primeira necessidade que enchiam a sacola. Para onde eu iria, o que iria fazer, ou quando voltaria, eram questões cujas respostas eu desconhecia por completo; nem perturbei meu espírito com isso, pois tinha a mente fixa apenas na segurança de Provis. Só me perguntei por um breve momento, quando parei na porta e olhei para trás, sob quais circunstâncias diferentes eu voltaria a ver esse apartamento, se é que um dia o veria de novo.
Descemos devagar para o píer do Temple, e paramos ali por um tempo, como se ainda não estivéssemos decididos a entrar na água. Evidentemente, eu havia cuidado para que o barco estivesse pronto e todas as coisas em ordem. Depois de mostrar um pouco de indecisão, que ninguém testemunhou, além das duas ou três criaturas anfíbias que pertenciam ao píer do Temple, subimos a bordo e soltamos os cabos; Herbert na proa, eu ao leme. A maré então estava alta, pois eram oito e meia.
Nosso plano era este: a maré começando a baixar às nove horas, e nos acompanhando até as três horas, nossa intenção era continuar depois que ela virasse, e remar contra ela na escuridão. Deveríamos estar então nos longos cursos abaixo de Gravesend, entre Kent e Essex, onde o rio é largo e solitário, onde os habitantes das margens são muito poucos, e onde há albergues esparsos, aqui e ali, entre os quais poderíamos escolher um para nosso lugar de descanso. Pretendíamos passar toda a noite ali. O vapor para Hamburgo e o vapor para Rotterdam deviam deixar Londres na quinta-feira de manhã, em torno das nove horas; nós saberíamos a que hora esperá-los, conforme o lugar onde estivéssemos, e faríamos sinal para o primeiro; de sorte que, se por algum acaso não pudessem nos aceitar a bordo, ainda teríamos uma segunda chance. Conhecíamos bem as marcas distintivas de cada navio.
O alívio que eu sentia por estar afinal começando a execução do nosso plano era tão grande, que eu achava difícil acreditar no estado em que me encontrava apenas algumas horas antes. O ar fresco, a luz do sol, o movimento dos barcos no rio, e o movimento do próprio rio – a água que nos levava, parecendo simpatizar conosco, nos animar, nos encorajar – renovou-me com novas esperanças. Eu me sentia envergonhado por ser de tão pouca utilidade no barco; mas havia poucos remadores melhores que os meus dois amigos, e eles remavam com uma regularidade que deveria durar o dia inteiro.
Naquela época, o tráfego de vapores pelo Tâmisa estava bem longe de ser tão extenso quanto é hoje, e os barcos pequenos eram muito mais numerosos. Havia, talvez, tantas barcaças, navios carvoeiros e navios mercantes quanto agora; mas navios a vapor, grandes ou pequenos, não eram nem a décima ou a vigésima parte tão numerosos. Mesmo cedo como era, havia muitos remadores indo e vindo naquela manhã, e várias barcaças descendo com a maré; a navegação do rio entre as pontes, em barcos abertos, era algo muito mais fácil e comum naqueles dias do que hoje, e nós prosseguimos vivamente, em meio a muitas catraias e balsas.
Logo passamos a velha ponte de Londres e o velho mercado de Billingsgate, com seus barcos de ostras e holandeses, e a Torre Branca, e o Portão dos Traidores, e então nos vimos em meio a fileiras de navios. Aqui estavam os vapores de Leith, Aberdeen e Glasgow, carregando e descarregando mercadorias, que pareciam imensamente altos acima da água, quando passamos ao seu lado; ali, os navios carvoeiros com marcas na madeira, e os carregadores de carvão colocando estrados no deque, como contrapesos para as medidas de carvão que eles levantavam e colocavam depois em cima das barcaças; aqui, no seu ancoradouro, estava o vapor de amanhã para Rotterdam, no qual reparamos bem; e ali o vapor de amanhã para Hamburgo, sob cujo gurupés nós passamos. E agora, sentado na popa, eu podia ver, com o coração batendo mais rápido, Mill Pond Bank e o píer de Mill Pond.