Capítulo I

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A alvorada chegara, tingindo o que antes era a escuridão da noite e banhando com sua claridade matutina os cadáveres caídos no chão enlameado

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A alvorada chegara, tingindo o que antes era a escuridão da noite e banhando com sua claridade matutina os cadáveres caídos no chão enlameado. Pássaros negros voavam sobre o campo, devorando olhos, bicando sem clemência a carne pálida dos guerreiros mortos. A névoa fina abraçava a paisagem soturna, onde qualquer sinal de vida era escondido pelos grasnares lamentosos dos corvos.

Fora uma terrível batalha, sangrenta e desproporcional. Um massacre, em palavras simplistas. O Império Nilfgaardiano estava incontrolável. A armadura negra e dourada de seus guerreiros carregavam a dor de seus adversários por onde quer que passassem. Seus estandartes que esvoaçavam com o símbolo do sol dourado em fundo azul escuro, traziam o medo e a desolação.

Seiscentos homens de Cintra haviam sido enviados para pararem alguns guerreiros nilfgaardianos que tentavam ultrapassar as fronteiras do Norte. A batalha se estendeu por toda a noite e quando a madrugada chegou, seiscentos homens de Cintra se transformaram em nada mais do que comida para aves negras. Os guerreiros nilfgaardianos, mesmo em menor número, derrotaram o exército de Cintra e rumaram em direção à Nazair, com o objetivo de transformar o território em mais uma de suas províncias.

O crepúsculo da manhã trouxera consigo um medo cada vez mais febril. Aqueles seiscentos corpos sendo devorados pelos corvos eram a prova de que a escuridão se aproximava do continente. A guerra, cada vez mais feroz, deixava rastros de miséria.

O vento soprou gélido, balançando o estandarte de Nilfgaard que residia no centro do campo de batalha. O trote de um cavalo foi ouvido a distância, ao mesmo tempo em que um lamento entre os cadáveres começou.

Um choro angustiado e sem esperança ecoou pela névoa, afastando alguns corvos que se encontravam perto da figura que derramava as lágrimas. A desolação vinha de uma mulher que caminhava pelo campo, de maneira quase tão morta quanto os guerreiros ateados aos seus pés. Tinha cerca de cinquenta anos, com cabelos castanhos onde já se podia ver fios esbranquiçados; os olhos eram de um tom claro e triste; carregava sobre os ombros um xale mal tricotado; e tinha os pés descalços e sujos pela lama. Os sapatos haviam se desgastado pela longa caminhada que fizera de Cintra até ali.

Os trotes do cavalo ficaram mais altos, como trovões em uma tempestade. A mulher, porém, não escutava o som das ferraduras do animal sobre a terra. Sua dor a ensurdecia, tirava-lhe a sanidade e deixava-a alheia ao que acontecia ao seu redor. Para ela, não existiam os pássaros negros ou a névoa que rodeava sua cabeça. Haviam os corpos e seu desejo de encontrar o único filho em meio a eles, talvez ainda com um milagroso sopro de vida. Era apenas isso que havia e o que desejava do fundo de seu âmago, enquanto virava soldados de rostos desfigurados e tocava-lhes a pele gélida.

O cavalo de cor marrom aproximou-se junto da figura que o montava. A mulher não levantou o olhar do chão, como se não percebesse o animal próximo a si. O homem sobre o animal encarou-a com os olhos impassíveis, mas que ainda possuíam um brilho de compaixão. Trajava uma longa capa negra com capuz da cor da meia noite e trazia na bainha duas espadas, uma forjada em prata e outra em ferro. Uma para criaturas e outra para homens.

Ode aos InfaustosOnde histórias criam vida. Descubra agora