Prólogo ※

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O marinheiro olhou para o mar sem fim diante de si. Se apertasse os olhos einclinasse a cabeça, quase poderia imaginar que as ondas eram dunas de
areia, subindo e descendo no calor do sol. O grasnado das gaivotas pairando acima da solitária vela que impulsionava seu barco poderia ser, se ele escutasse com bastante atenção, o blaterar dos camelos a caminho do mercado. O sol, no entanto, era o mesmo – fosse na terra, fosse no mar.

O marinheiro suspirou. Ele amava a imensidão e a liberdade do mar aberto. Adorava acordar em seu tempo de folga e fazer o que quisesse naquele dia, sem ter de responder a quem quer que fosse além de si mesmo e sua família.

Mas, às vezes, ele sentia falta de seu lar nas areias do deserto. Ao ouvir um grito animado, o homem sorriu, a expressão alumiando seu belo rosto. A ligeira saudade desapareceu e ele pareceu se iluminar por
Dentro. Virando-se, olhou para o motivo de sua felicidade: seus dois filhos, Lindy e Barro, que haviam subido até o convés e estavam debruçados sobre a amurada.

– Uau – disse Lindy.

– Uau – repetiu o irmão mais novo.

Seguindo seus olhares, o marinheiro olhou por cima da amurada de seu modesto barco e viu, ao longe, uma embarcação nada modesta que vinha na direção deles. Era enorme, com muitos mastros ostentando velas coloridas.

Enquanto as laterais do barco do marinheiro estavam descascadas e precisavam de uma camada de tinta, as laterais do outro navio resplandeciam, como se tivessem sido pintadas naquela manhã mesmo. Os tripulantes dedicados a operar o convés vestiam roupas impecáveis e, apertando os olhos, o marinheiro podia distinguir elaboradas decorações cobrindo os mastros e as balaustradas.

– Eu queria que o nosso fosse assim tão chique – disse Barro com um suspiro.

O marinheiro voltou-se para seus filhos e ergueu uma sobrancelha.

– Por quê? Por que ele parece melhor? – Ele esperou por uma resposta.

Sem receber retorno além de um encolher os ombros, continuou: – Este barco nos conduziu através de muitas tempestades. Pode não parecer muito, mas tem algo que o deles nunca terá…

– Apodrecimento de madeira e ratos? – Barro perguntou, provocando seu pai.

O marinheiro lançou um olhar ao filho.

– Vire-se, feche os olhos. Agora sinta como nosso barco pulsa com o ritmo
do grande desconhecido. Esse é o coração dele. Entenda que o verdadeiro valor está no interior. – Ele fez uma pausa, observando enquanto seus dois lindos filhos ouviam suas palavras. Aos nove e seis anos de idade, eles ainda eram muito jovens. Mais do que tudo, ele queria que preservassem essa inocência. – Agora, qual barco vocês prefeririam ter? – por fim perguntou, depois de ter-lhes dado tempo para pensar.

As crianças arregalaram os olhos e se entreolharam. Então, em uníssono,

responderam:

– O deles.

O marinheiro suspirou quando as crianças começaram a rir.

Aparentemente, seu ensinamento não havia sido aprendido. Ele precisava de uma nova abordagem. Alguma forma de fazer seus filhos perceberem sua sorte por terem as ondas como quintal e o barco como sala de aula. Como tinham sorte de viver cada dia com grandes possibilidades e aventuras. O marinheiro estreitou os olhos. Como poderia fazê-los enxergar o que ele queria que enxergassem?

Então, um sorriso começou a repuxar seus lábios. O que ele precisava era de uma história. E ele conhecia uma muito boa.

– Acho que está na hora de eu contar a vocês a história de Lauren, a princesa e a lâmpada.

Lindy fez uma careta.

– O que tem de tão especial em uma lâmpada? – ela questionou.

– É uma lâmpada mágica…

As crianças trocaram um olhar cético, mas, depois, deram de ombros.

– Estamos ouvindo – disse Barro.

– Bem, escutem com atenção. Porque as aparências enganam.

Especialmente em um lugar como… Agrabah!

Agrabah - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora