Busca

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À vista do quarto perfeitamente intocado, exceto por nossa entrada violenta, começamos a nos acalmar um pouco, e logo recuperamos nossos sentidos o bastante para dispensar os homens. Havia ocorrido a Mademoiselle que Lalisa possivelmente havia sido acordada pelo barulho à sua porta, e, em pânico, havia saltado da cama e se escondido dentro de um móvel, ou atrás de uma cortina, de onde não podia emergir até que o mordomo e seus auxiliares houvessem se retirado. Recomeçamos então nossa busca, e começamos a chamá-la de novo pelo nome.

Foi tudo em vão. Nossa perplexidade e agitação aumentaram. Examinamos as janelas, mas elas estavam trancadas. Implorei para que Lisa, se estivesse escondida, não jogasse mais aquele jogo cruel – que saísse e acabasse com nossa ansiedade. Foi tudo inútil. Naquele momento me convenci que ela não estava no quarto, nem na sala de vestir, cuja porta estava trancada do nosso lado. Ela não podia ter passado por ela. Eu estava completamente confusa. E se Lalisa houvesse descoberto uma daquelas passagens secretas que o velho caseiro dizia existirem no schloss, embora o conhecimento da sua localização exata tivesse sido perdido? O tempo, sem dúvida, explicaria tudo, por mais completamente perplexas que estivéssemos naquele momento.

Eram mais de quatro horas, e preferi passar as horas restantes de escuridão no quarto de Madame. O dia não trouxe nenhuma solução para nosso problema.

Todos os habitantes da casa, liderados por meu pai, estavam procurando na manhã seguinte. Todas as partes do chateau fora vasculhadas. O terreno foi explorado. Nenhum traço da jovem desaparecida foi descoberto. Estávamos prestes a dragar o riacho; meu pai estava perturbado; que história ele teria que contar à mãe da pobre moça quando retornasse! Eu, também, estava quase fora de mim, embora meu pesar fosse de tipo diferente.

Passamos a manhã alarmados e nervosos. Era agora uma da tarde, e ainda não havia notícias. Corri para o quarto de Lisa, e a encontrei de pé ao lado da cômoda. Eu estava estupefata. Não podia acreditar em meus olhos. Ela me chamou para perto de si em silêncio, com um gesto. Seu rosto expressava um medo extremo.

Corri para ela, extasiada de alegria, beijei e abracei-a repetidamente. Corri para a sineta a toquei veementemente, para trazer os outros para o local, para aliviar imediatamente a ansiedade de meu pai.

– Querida Lalisa, onde esteve todo esse tempo? Estávamos agonizando por sua causa – exclamei. – Onde esteve? Como voltou?

– A noite passada foi cheia de coisas estranhas – ela disse.

– Por piedade, explique o que puder.

– Eram mais de duas horas – ela disse – quando fui dormir como de costume em minha cama, com as portas trancadas, a da sala de vestir e a que se abre para a galeria. Meu sono não foi interrompido, e, até onde posso dizer, sem sonhos; mas acabo de acordar no sofá da sala de vestir, e vi que a porta entre os quartos estava aberta, e a outra foi forçada. Como tudo isso poderia ter acontecido sem que eu acordasse? Deve ter havido muito barulho quando isso aconteceu, e eu acordo com particular facilidade; e como eu poderia ser carregada da cama sem que meu sono fosse interrompido, eu, que me assusto com a menor perturbação?

Então, Madame, Mademoiselle, meu pai e muitos criados chegaram ao quarto. Lisa foi, é claro, soterrada por perguntas, congratulações e boas vindas. Ela tinha apenas uma história para contar, e parecia ser a menos capaz, entre todos, de sugerir um modo de explicar o que havia acontecido.

Meu pai andou de um lado para outro, pensativo. Vi os olhos de Lalisa seguindo-o por um momento, com um olhar sombrio e astuto.

Quando meu pai mandou os criados sair, e Mademoiselle foi buscar uma pequena garrafa de valeriana e sal volátil, e não havia ninguém no quarto com Lalisa, exceto meu pai, Madame e eu mesma, ele se aproximou dela pensativo, tomou sua mão gentilmente, levou-a até o sofá e sentou-se ao lado dela.

– Você me perdoará, minha querida, se eu arriscar uma conjectura e fizer uma pergunta?

– Quem poderia ter mais direito? – ela disse. – Pergunte o que quiser, e eu lhe direi tudo. Mas minha história é uma de espanto e escuridão. Não sei de absolutamente nada. Faça qualquer pergunta que quiser, mas o senhor sabe, é claro, das limitações que Mamãe me impôs.

– Perfeitamente, cara criança. Não preciso abordar os tópicos sobre os quais ela deseja silêncio. Agora, o mistério da noite passada consiste em você ter sido removida de sua cama e do quarto, sem ser despertada, e dessa remoção ter aparentemente acontecido enquanto as janelas ainda estavam fechadas, e as duas portas trancadas por dentro. Vou dizer minha teoria e fazer uma pergunta.

Lisa estava apoiada na mão, parecendo abatida; Madame e eu ouvíamos sem respirar.

– Agora, minha pergunta é a seguinte. Alguma vez se suspeitou que você fosse sonâmbula?

– Não, desde que eu era realmente muito pequena.

– Mas você era sonâmbula quando pequena?

– Sim, eu sei que era. Minha velha babá me disse isso muitas vezes.

Meu pai sorriu e assentiu.

– Bem, eis o que aconteceu. Você se levantou enquanto dormia, destrancou a porta, sem deixar a chave, como de costume, na fechadura, mas levando-a consigo e trancando a porta pelo outro lado; você pegou a chave de novo, e a levou com você para um dos vinte e cinco quartos desse andar, ou talvez para um andar acima ou abaixo. Há tantos quartos e armários, tantos móveis pesados e tantos depósitos de madeira que seria preciso uma semana para vasculhar toda a casa. Vê agora o que quero dizer?

– Sim, mas não completamente – ela respondeu.

– E como, Papai, explica ela se encontrar no sofá da sala de vestir, que vasculhamos com tanto cuidado?

– Ela entrou depois que vocês o vasculharam, ainda adormecida, e, finalmente, acordou espontaneamente, e ficou tão surpresa por se ver lá quanto qualquer um de nós. Gostaria que todos os mistérios fossem explicados tão fácil e inocentemente quanto o seu, Lalisa – ele disse, rindo. – E então podemos nos congratular na certeza de que a explicação mais natural do evento é uma que não envolve drogas ou arrombamento de fechaduras, nenhum ladrão, ou envenenador, ou bruxa – nada que precise fazer Lisa, ou mais ninguém, se preocupar com nossa segurança.

Lisa estava encantadora. Nada poderia ser mais lindo do que sua cor. Sua beleza era, eu acho, aumentada por aquela graciosa languidez peculiar a ela. Acho que meu pai estava comparando em silêncio sua aparência com a minha, pois disse:

– Gostaria que minha pobre Rosé parecesse mais consigo mesma – e suspirou.

Então nossas preocupações terminaram alegremente, e Lalisa foi devolvida a seus amigos.

Vampira de KarnsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora