Quando chegamos à sala de estar, e havíamos nos sentado com nosso café e chocolate, embora Lalisa não tomasse nenhum dos dois, ela pareceu ser ela mesma novamente. Madame e Mademoiselle De Lafontaine se juntaram a nós, e jogamos uma partida de cartas, durante a qual papai veio para o que ele chamava seu "prato de chá".
Quando o jogo acabou, ele se sentou ao lado de Lisa no sofá, e perguntou, um pouco ansiosamente, se ela tivera notícias de sua mãe desde que chegara.
Ela respondeu que não.
Ele então perguntou se ela sabia onde uma carta poderia encontrar sua mãe naquele momento.
– Não posso dizer – ela respondeu, ambiguamente – mas tenho pensando em deixá-los; vocês já foram hospitaleiros e gentis demais para mim. Causei problemas demais para vocês, e gostaria de tomar uma carruagem amanhã, e ir em busca dela; sei onde a encontrarei, embora não ouse dizer-lhe.
Mas você não deve nem mesmo sonhar com isso – exclamou meu pai, para grande alívio meu. – Não podemos perdê-la assim, e não consentirei com sua partida, exceto sob os cuidados de sua mãe, que foi gentil em consentir que ficasse conosco até que retornasse. Eu ficaria muito feliz em saber que teve notícias dela: mas esta manhã os relatos do progresso da misteriosa doença que invadiu nossa região ficaram ainda mais alarmantes; e, minha linda hóspede, eu sinto o peso da responsabilidade, sem o conselho de sua mãe. Mas farei o melhor; e uma coisa é certa, que você não deve pensar em nos deixar sem instruções claras da parte dela para tanto. Sofreríamos muito por nos separar de você para consentir tão facilmente com isso.
– Obrigada, senhor, mil vezes obrigada por sua hospitalidade – ela respondeu, sorrindo timidamente. – Todos vocês têm sido muito bons para mim; poucas vezes antes fui tão feliz quanto em seu lindo chateau, sob seus cuidados e na companhia de sua querida filha.
Então, com seus modos antiquados, ele beijou galantemente sua mão, sorrindo, contente com seu discurso.
Acompanhei Lalisa até seu quarto, como de costume, e me sentei e conversei enquanto ela se preparava para dormir.
– Você acha – disse depois de um longo tempo – que algum dia vai confiar totalmente em mim?
Ela se voltou, sorrindo, mas não respondeu, só continuou a sorrir para mim.
– Não vai responder? – perguntei. – Você não pode me dar uma resposta agradável; eu não deveria ter perguntado.
– Você tinha toda a razão em me perguntar isso, ou qualquer outra coisa. Você não sabe como é querida para mim, ou não acharia que qualquer tipo de confiança seria demais para pedir. Mas estou sob juramento, e não ouso contar minha história ainda, nem mesmo para você. O momento em que você saberá de tudo está muito próximo. Você vai me achar cruel e egoísta, mas o amor é sempre egoísta; quanto mais ardente, mais egoísta. Você não pode fazer ideia de como sou ciumenta. Você deve ficar comigo, me amando, até a morte; ou me odiar e mesmo assim ficar comigo, e me odiar através da morte e além. Não existe uma palavra como "indiferença" na minha natureza apática.
– Ora, Lalisa, você vai começar com suas bobagens de novo – eu disse, apressadamente.
– Não eu, pequena tola que sou, cheia de caprichos e vontades; pelo seu bem, falarei como uma sábia. Já esteve em um baile?
– Não. Como é? Deve ser encantador.
– Mal me lembro, foram anos atrás.
Eu ri.
– Você não é tão velha. Não pode já ter se esquecido do seu primeiro baile.
– Lembro-me de tudo sobre ele, com esforço. Eu vejo tudo, como os mergulhadores veem o que está acontecendo acima deles, através de um meio denso, ondulado, porém transparente. O que ocorreu aquela noite confundiu a imagem, e tornou suas cores opacas. Quase fui assassinada em minha cama, fui ferida aqui – ela apontou o seio – e nunca fui a mesma depois daquilo.
– Você quase morreu?
– Sim, foi um amor muito estranho, muito cruel, que teria tirado minha vida. O amor deve receber seus sacrifícios. Não há sacrifício sem sangue. Vamos dormir agora, sinto-me tão sonolenta. Como posso levantar-me e trancar a porta agora?
Ela estava deitada, com as pequenas mãos enterradas no farto cabelo ondulado, sob o rosto, a cabecinha sobre o travesseiro, e seus olhos brilhantes me seguiam para onde quer que eu fosse, com um tipo de sorriso tímido que eu não conseguia decifrar.
Dei-lhe boa noite, e saí do quarto com uma sensação desconfortável.
Muitas vezes fiquei imaginando se nossa linda convidada fazia suas orações. Eu certamente nunca a vira ajoelhada. De manhã ela só descia muito depois que nossas orações familiares estavam terminadas, e à noite, nunca deixava a sala de estar para participar de nossas breves orações noturnas no salão.
Se ela não tivesse deixado escapar em uma de nossas conversas que fora batizada, eu poderia ter duvidado que fosse cristã. Religião era um assunto sobre o qual eu nunca a ouvira dizer uma palavra. Se conhecesse melhor o mundo, essa negligência ou antipatia em particular não teria me surpreendido muito.
As preocupações das pessoas nervosas são contagiosas, e pessoas de temperamento semelhante certamente começarão, depois de algum tempo, a imitá-las. Eu havia adotado o hábito de Lalisa de trancar a porta do quarto, tendo absorvido seus medos tolos sobre invasores noturnos e assassinos à espreita. Eu também havia adotado sua precaução de fazer uma rápida inspeção pelo quarto, para me satisfazer de que não havia nenhum assassino ou ladrão escondido.
Depois de tomar essas sábias medidas, deitei-me na cama e adormeci. Havia uma luz acesa no quarto. Era um hábito antigo, e nada poderia me convencer a abandoná-lo.
Assim protegida, descansei pacificamente. Mas os sonhos atravessam paredes de pedra, iluminam quartos escuros, escurecem quartos iluminados, e suas personagens entram e saem quando querem, rindo das fechaduras.
Naquela noite tive um sonho que foi o começo de uma estranha agonia.
Não posso chamá-lo pesadelo, pois estava plenamente consciente de que estava dormindo.
Mas estava igualmente consciente de estar em meu quarto, e deitada na cama, exatamente como estava na realidade. Eu vi, ou imaginei ver, o quarto e sua mobília exatamente como estavam antes, exceto que estava muito escuro, e vi algo se mover perto do pé da cama, que de início não pude distinguir com precisão. Mas logo vi que era um animal negro como carvão, que lembrava um gato monstruoso. Ele me parecia ter quatro ou cinco pés de comprimento, pois cobriu inteiramente o comprimento do tapete da lareira quando passou por ele, e continuou avançando e recuando com o nervosismo ágil e sinistro de um animal enjaulado. Eu não podia gritar, embora, como devem imaginar, estivesse aterrorizada. Seu passo estava ficando mais rápido, e a sala ficava rapidamente mais e mais escura, e, afinal, ficou tão escura que eu não podia ver nada além de seus olhos. Eu o senti saltar levemente sobre a cama. Os dois grandes olhos se aproximaram do meu rosto, e senti repentinamente uma dor aguda, como se duas agulhas penetrassem profundamente em meu seio, afastadas uma ou duas polegadas. Acordei com um grito. O quarto estava iluminado pela vela que queimava ali a noite toda, e vi uma figura feminina de pé perto da cama, um pouco para a direita. Ela usava um vestido preto folgado, e seu cabelo estava solto e cobria os ombros. Um bloco de pedra não poderia ficar mais imóvel. Não havia o mais leve sinal de respiração. Enquanto eu olhava para ela, a figura pareceu mudar de lugar, e estava agora mais perto da porta; então, muito perto dela; a porta se abriu, e ela saiu.
Fiquei aliviada, e fui capaz de respirar e me mover. Meu primeiro pensamento foi que Lisa estivesse me pregando uma peça, e que eu havia me esquecido de trancar a porta. Corri para ela, e descobri que estava trancada por dentro, como de costume. Fiquei com medo de abri-la. Estava horrorizada. Pulei para a cama e cobri a cabeça com os lençóis, e fiquei ali, mais morta do que viva, até de manhã.
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Vampira de Karnstein
HorrorRoseanne é uma jovem que vive isolada com o pai em um castelo na Estíria - região do antigo império austro-húngaro. Uma hóspede inesperada, entretanto, despertará os sentimentos amorosos da jovial Park ao mesmo tempo que lhe causará certo terror ao...