Eu não sei que horas são, mas a luz do sol, que entra pelas portas da sacada, invade o meu quarto e me desperta. Consigo me arrastar até o banheiro, lavar o rosto e escovar os dentes antes de descer.
Vou andando descalço, pelo piso quente de madeira. Desço as escadas, chego à cozinha e, como já se era esperado, tia Ana está preparando o café da manhã.
- Bom dia, Gabriel? Dormiu bem?
- Bom dia, tia. Dormi sim. E você? – Digo bocejando.
- Muito bem, obrigada. O que quer comer?
- Acho que não estou com fome. Talvez eu só tome café com leite e...
- Uai, nada disso – Ela me interrompe – Vou fazer algo caprichado e você vai adorar.
- Tudo bem – Não dá para discutir com ela.
Ainda me sinto com muito sono, então me levanto para pegar uma xícara com café recém-coado.
- Tia... - bocejo - que horas você foi embora ontem? Não estava tarde para andar sozinha?
- Aahn... Bom... sua avó não se sentia confortável aqui sozinha, tão longe de tudo. E como meus filhos mudaram e eu também acabei ficando só... A Rosa acabou construindo uma casa para os funcionários. É muito agradável e bem melhor do que onde eu morava.
- É mesmo? E onde ela construiu? Eu não vi nada.
Vou até a janela para procurar a casa, que passou escondida de meus olhos.
- Ela fez perto do lago.
- Aaaahhh. Por isso não da para ver daqui - Ela sorri - Fico muito feliz que agora vocês estejam tão perto uma da outra.
- Sim. Eu também. Tem vários quartos. O suficiente para meu filho vir me visitar, se quiser. A Kate sempre vem de final de semana. Eu não ficaria tanto tempo longe da minha menina.
Eu sorriu, me apoiando no balcão da cozinha para olhar melhor pela janela. Termino de beber o café.
- Tia, acho que vou ver os cavalos, enquanto termina aí.
- Tudo bem, mas num demore, que já está quase pronto.
Corri em direção à escada.
- Tem umas botas de plástico no armário da entrada, se você quiser.
Parei no lugar e fui até lá.
- Obrigado - gritei porta a fora, enquanto corria pelo gramado.
Choveu durante a noite, então quando cheguei nos estábulos estava com as botas sujas de lama. Felizmente a barra da calça estava segura dentro do plástico.
Andei em direção à baia de Oliver.
- Ei garoto, como você está? – Falei.
Ele relinchou.
- É mesmo? Eu também senti saudades de você, garotão.
Eu entrei na baia dele e fiz carinho em seu corpo. Ele relinchou mais uma vez.
- Eu sei. Deveria ter vindo aqui ontem. Me desculpe, mas estou aqui agora, não é rapaz?
Ele bateu com a pata no chão.
- Tenho um presente para você.
Saí da baia, fechando a porta atrás de mim. Peguei uma bacia com cenouras da horta, que estava no chão.
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Agora que Voltou
RomanceQuando ainda muito jovem, Gabriel passou por uma situação que nenhuma criança deveria passar. Essa tragédia, que desestruturou a sua família, fez com que ele e seu pai se mudassem de Minas Gerais para a grande São Paulo, deixando toda uma vida para...