Capítulo 4 - Surpresa

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Carol

Ah, sem dúvida, aquele tinha sido um dos meus melhores fins de ano! Eu tinha passado o Natal e o Ano Novo com minha família na praia em Ilhéus e, embora eu não tivesse facilidade para arranjar namorado, conheci um rapaz chamado Walmir, que também é de Jequié, com quem fiquei durante este período de festas.

Mesmo sabendo que ficar não significa nenhum tipo de compromisso, envolvendo, muitas vezes, apenas uma atração sexual passageira, ter ficado com ele me fez muito bem, pois senti-me desejada, atraente. Além disso, ele era um rapaz bonito: estatura média, pele bronzeada, cabelos castanhos encaracolados, olhos cor de mel, corpo atlético, traços fisionômicos e gestos másculos. Enfim, um tipo de homem pelo qual muitas mulheres babariam e ele tinha ficado comigo.

Assim, voltei ao trabalho me sentindo renovada. Parei o carro no estacionamento do hospital e dirigi-me à nova sala onde eu iria trabalhar. Passei pela recepção e pelo amplo corredor, cumprimentando a todos que encontrava, e adentrei a última sala da esquerda no final do corredor.

No momento em que eu pisei a soleira da porta, percebi que alguém em uma cadeira de rodas voltava-se para mim com um sorriso.

— Carol! — exclamou Henri bastante surpreso. À medida que ele pronunciava meu nome, o sorriso se desfazia nos lábios dele até que ele assumiu um semblante entre preocupado e constrangido.

— Henri! — Também não pude me furtar de exclamar, pois fiquei bastante surpresa. — O que está fazendo aqui? — perguntei.

Antes que Henri respondesse, o diretor do hospital, Jonas Rantero, que também se encontrava na sala com ele, replicou:

— Que bom que vocês se conhecem! Isso vai facilitar muito o trabalho de vocês. Henrique vai trabalhar aqui. Será o seu chefe, na verdade. Ele é aquele pesquisador de São Paulo que eu lhe falei que iria vir montar e auxiliar, com seu conhecimento e experiência técnico-científica em Bioética, a comissão de formação do Núcleo de Bioética e do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do hospital. Pedimos auxílio à regional de São Paulo e eles se prontificaram a nos ajudar, enviando Henrique para nos assessorar.

— Então, é só uma visita? — perguntei esperançosa.

— Sim e não, pois não se trata de apenas um dia. O planejamento é que ele fique até que o Núcleo de Bioética e o CEP já estejam funcionando. Todavia, ficar mais ou menos depende dele (se ele desejar ficar mais) e também do desenvolvimento do trabalho — explicou Jonas.

— Ah... — disse, tentando esconder o desapontamento.

— Bem, eu vou para a minha sala e vou deixá-los começar o trabalho. Sua função será secretariar Henrique e ajudá-lo em tudo o que for necessário para o bom desenvolvimento do trabalho. Ele lhe explicará no que consistirá seu trabalho. Adeus! — disse o diretor do hospital.

— Tchau! — Coincidentemente, eu e Henri respondemos ao mesmo tempo.

Assim que o diretor saiu, fechando a porta atrás de si, voltei-me para Henri, encarei-o, franzi o cenho e perguntei:

— Que perseguição é essa?

— Não é perseguição, é coincidência — replicou Henri objetivo e com palavras firmes, apesar de seus olhos expressarem uma profunda tristeza.

— Não acredito — afirmei com raiva.

— Problema seu — ele respondeu com um gesto de indiferença.

— Vá embora daqui! Suma! — exigi.

— Lamento não poder realizar seu desejo — replicou ele secamente.

[Degustação] Entrelace: Caminhos que se Cruzam ao AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora