Cordeirinha

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Belinda não respeitou a decisão da tia, a vontade de desobedecer ordens era maior que ela. Todos os dias ela ia à floresta sempre na mesma hora com esperança de encontrar o selvagem com o manto de lobo, mas era em vão. Não conseguia tirar da sua mente aquele homem misterioso, sempre se questionando sobre como ele pôde em poucos minutos ter causado tanta perturbação em sua cabeça. Não depois de ela ter prometido a si mesma que nunca mais se deixaria levar por alguém do sexo masculino pela humilhação que passou.

Mas nunca fora uma moça capaz de controlar seus impulsos, muito menos sua curiosidade.

O encontro com o homem desconhecido e misterioso era interessante demais para ser ignorado, depois de ter se resignado à uma vida pacata. Ele era diferente de tudo que já vira.

Durante toda a semana Belinda andou pela pequena vila, sua desculpa era que iria procurar materiais para costura, Maz inocentemente acreditava nas palavras da sobrinha. A busca da garota não surtiu efeitos, em todos os lugares que foi não o encontrou e nem em uma taberna local, aquele homem parecia não existir. O frio do inverno ficava cada vez mais forte.

Por alguns segundos a garota duvidou de sua sanidade. Teria tudo sido uma ilusão do medo?

A única possibilidade restante era ele realmente morar na floresta. Mas não existia ninguém corajoso o suficiente para sobreviver àquele lugar amaldiçoado. Todos temiam o lobisomem.

— Não existe lobisomem coisa nenhuma, Belinda. — murmurou para si mesma, desdenhando da lenda assustadora do vilarejo. — Mas aquele homem era real. Tem de ser.

Inquieta com seus pensamentos, ela tentou adormecer para acalmar sua ansiedade, em vão.

Ventos fortes causavam um tremor na  velha janela do quarto de Belinda, tirando o sono da jovem. Belinda levantou-se e tentou fechar a janela que tinha acabado de abrir. Ela observou a escuridão que estava lá fora, tudo parecia tão sombrio e macabro. As ruas estavam desertas, o silêncio era quase intimidante, e durante a noite a floresta era tão escura que parecia ainda mais aterradora que o normal. A escuridão predadora engolia qualquer luz.

Lutando contra a ventania, ela já estava quase desistindo quando escutou um grito terrível. E então, o uivo de um lobo quebrou o silêncio da noite. Por instinto ela olhou para a floresta ao longe. Para a sua surpresa, ela avistou do outro lado de dentro da escuridão dois olhos vermelhos brilhando fixamente em sua direção. Belinda tremeu, já tinha visto aquele olhar naquele fatídico dia na floresta, era o olhar do lobo e lá estava ele a observando de novo.

Era a mesma sensação inquietante que sentira antes, de estar sendo contemplada por um predador perigoso que espreitava sua presa com desejo. Como se o lobo quisesse devorá-la.

Algo lhe dizia que não era a primeira vez que estava sendo observada por ele. Mas dessa vez, ela não sentiu medo, nem vontade de se esconder. Pois foram estes mesmos olhos vermelhos que a levaram até o homem misterioso. E convidavam-na a se perder na floresta.

Passada a sensação de euforia os olhos vermelhos tinham sumido novamente na escuridão, acarretando uma leve sensação de perda na jovem. Belinda estava fascinada, foram poucos minutos contemplando os misteriosos olhos vermelhos no escuro, poucos minutos que lhe renderam um entusiasmo nunca antes sentido. Parecia haver uma conexão entre seus olhos.

Impressionada com o que presenciara, Belinda não conseguiu mais dormir, e amanheceu com uma energia e determinação grande demais para quem passara a noite em claro.

Ela estava decidida a voltar na floresta, porque tinha certeza que havia uma ligação entre a aparição do lobo e do homem, que sua tia a fizera prometer não contar sobre para ninguém.

Devore-me (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora