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S A B I N A

Poucas pessoas sabem que estou viva. Minha mãe, minha enfermeira Alex, e a filha dela, Sina. Alex sempre esteve com a gente, ela trabalha aqui há 15 anos. Às vezes penso que está presa aqui comigo.

– Bom dia, Alex. – digo sorridente chegando na cozinha.

Tomo um gole do suco e continuo a sorrir, ela tira um livro da bolsa.

– Feliz cumpleaños! – ela diz animada.

O livro era "Flores para Algernon" de Daniel Keyes. Ela me entrega o livro, sem parar de sorrir por um minuto.

– Obrigada!

Ela me abraça fortemente.

– Muito obrigada.

Alex sabia o quanto eu gostava de ler, até porque, presa em uma casa, era uma das únicas coisas que eu tinha para fazer.

Abro o livro e na contra-capa estava escrito: "Feliz aniversário! - Alex".

– Uma dedicatória. – ela diz rindo.

[...]

Já é noite, estou estudando. Consigo escutar barulho de pedrinhas sendo jogadas no meu vidro. Na terceira pedra eu me levanto para ver o que é. É o vizinho. Ele joga o bolo da janela me fazendo rir.

Volto a desenhar quando ouço as pedrinhas sendo atiradas novamente. De novo, três vezes até que eu me levantasse para ver o que ele queria. Estava o bolo na sua janela, dois remédios e uma bebida. Ele toma a bebida e faz uma careta. Balanço a cabeça enquanto rio.

Volto para minha cama, e ele volta a atirar as pedrinhas. Dessa vez, não esperei a terceira para ir até o vidro. Estava o bolo, uma garrafa com umas cordinhas, sendo um soro de mentirinha. Ele faz o sinal da cruz e eu gargalho. Esse garoto é doido. Ele está literalmente brincando com o bolo. Tira o bolo de sua janela e volta, fazendo sinal para que eu espere. Ele pega uma canetinha e anota seu número no vidro da janela. Rapidamente, pego meu celular e salvo seu número. Ele senta na janela, sorridente. Seu sorriso era muito, muito bonito.

Sabina: Meus pêsames pelo bolo.
Meu nome é Sabina Hidalgo. Qual é o seu?

Noah: Noah.

Levanto meu olhar até ele. Digo "oi Noah" para ele fazer leitura labial e ele faz o mesmo, com "oi Sabina". Volto até minha cama, deixando ele sozinho em sua janela.

[...]

Já é outro dia. Eu estou trabalhando em uma nova maquete, e como sempre, com o astronauta junto. Tento não responder assim que o Noah me manda uma mensagem. Meu celular apita.

Noah: O que você está fazendo?

Mas respondo imediatamente.

Sabina: Trabalhando em uma maquete de restaurante pra aula de arquitetura...

Noah: Você está em prisão domiciliar?

(ps: a partir de agora vai ser tudo imaginação dela, mas o diálogo deles são as mensagens trocadas.)

Consigo imaginar eu, ele e o astronauta no restaurante. Eu sentada na mesa, esperando que ele chegue.

Tudo e todas as coisas • urridalgoOnde histórias criam vida. Descubra agora