Capítulo 5

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Imagine a seguinte cena. Chiara saltitava pela imensa loja de artigos para bebês carregando nas mãos cerca de vinte cabides de roupinhas. Já Celeste checava com absoluta atenção a lista que fizemos à algumas semanas. Enquanto isso, minha mãe e Helena palpitavam sobre qual berço seria melhor.

Eu estava perdida em meio a tanta infinidade de produtos, havia coisas que nem sabia que era possível existir. Em meio aquela imensidão meus olhos alcançaram um piano de brinquedo. Imitava madeira, mas o som era desafinado.
Não consegui deixar de pensar em Manuel, já não conversávamos a semanas. As vezes eu sentia que estava vivendo apenas com a lembrança dele.

- Oi? Você está aí ?- Chiara estalou os dedos na frente do meu rosto.

- O que? Desculpa! Eu não estava prestando atenção.

- Qual você acha mais fofo? – ela levantou dois cabides com bodys. Um era lilás com bolinhas brancas e o outro amarelo com um arco-íris bordado.

- Este! – indiquei o amarelo.

- Não importa, vou levar os dois! – lançou-os no carrinho e saiu loja a dentro. Foi difícil não rir da cena.

Minha barriga estava ganhando forma aos poucos. Fiquei tão feliz quando uma senhora na loja veio me parabenizar, sinal que eu estava finalmente ganhando “forma de grávida”.

Depois de boas horas de compras eu estava mais que pronta pra voltar pra casa e tirar um belo cochilo. Acabei adormecendo no carro mesmo.

Durante as últimas semanas a minha mudança de humor estava mais que visível, uma hora estava super empolgada, depois começava a chorar e as vezes até discutia sem motivo importante.

Uma verdadeira montanha russa de sentimentos confusos. A médica disse que são os hormônios da gravidez, bem os meus estão bem alterados ultimamente.

Já era tarde, e eu estava esperando uma ligação de Manuel, mas até agora, nada. Batia as unhas sobre a madeira da escrivaninha na ansiedade da espera. A noite estava começando a cair, assim como a chuva que carregavam as nuvens escuras e densas.

Chequei mais uma vez o relógio, já estava começando a ficar irritada. Ele prometeu que ligaria.

Engoli o orgulho e comecei a discar seu número.

Caixa postal. Tentei mais uma vez. Ele atendeu no 5 toque.

- Oi? – o barulho na ligação era ensurdecedor.

- Oi, meu amor! Como você não ligou decidi te chamar.- ele demorou responder.

- É, desculpa acabei esquecendo! – ele gritava.

- Sinto sua falta!

- O que? Não estou te ouvindo!

- Eu disse que...- me estressei. – quer saber? Esquece. Você parece muito ocupado agora quando puder me ligue, claro! se você não esquecer.

- Desculpa ando muito ocupado.

- Estou vendo! ultimamente não tem mais tempo pra mim. Mas para ficar até tarde em festas tem!- eu explodi.

- Foi você quem me disse pra vir!- ele também se irritou.

- E me arrependo todos os dias por isso.- admiti. Se fez silêncio. Continuei. – Eu não aguento mais isso, essa distância está me matando! Não quero mais sofrer assim! Não posso!

- Então não sofra. – ele voltou a falar normalmente.

- Sinto muito, eu não consigo mais...- solucei entre as lágrimas. – Eu...- Não diga, não diga. Não diga o que não se pode desfazer. – Eu quero terminar.

Minhas palavras ecoaram na mente. E um nó subiu a minha garganta.

O barulho da música se cessou. Um silêncio ensurdecedor tomou conta dos meus ouvidos.

- Se é o que você quer.

“Chamada encerrada”.

Me sentei na cama ainda encarando o celular. Meu Deus o que eu fiz! Não conseguia assimilar o que acabara de acontecer. Minha visão ficou embaçada pelas lágrimas. O que eu tinha feito?

Como uma história de anos pôde se desfazer em minutos? Como se não fosse nada. E o amor? e o “para sempre”? Onde ficam?

Nosso amor foi real, tenho certeza disso. Mas eu acabei com tudo.
Deitei na cama, agarrada ao travesseiro que já estava ensopado pelas lágrimas. E naquela noite, mais uma vez, dormi chorando. Mas desta vez, dois corações foram partidos de uma vez só.







"Conte a Ele" - BinuelOnde histórias criam vida. Descubra agora