Ofero

Prólogo

A história a seguir é verdadeira

O vento que veio do norte castigou a pele nua de Gustavo. Veio diretamente da direção contrária ao mar, passando por cima das montanhas, casas e praças, beijando a pele de crianças e adultos que aproveitavam o começo da noite. Derrubou o sorvete de uma criança, abriu o portão da casa de Dona Verônica, balançou Miguel num balanço improvisado em seu quintal, transportou uma música de funk de um lado à outro da cidade até que chegou, enfim, à praia.

A praia de Itaipuaçu é de uma beleza sem precedentes. A areia é de um branco reluzente e o mar, de um azul de fazer inveja no céu. Àquela hora, por volta das sete da noite, os banhistas já haviam se retirado e a praia estaria completamente deserta se não fosse um garoto nu amarrado pelos pulsos em um pelourinho.

Antes belo, o vento que brincava com crianças, agora levava os gritos de socorro do jovem embora, arrastando-o em direção ao mar, fazendo com que se perdessem em meio às águas escuras e revoltas.