1 - Templo das Musas

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– Quinze e cinquenta – cobrou o taxista com um sotaque carregado.   

– Aceita cartão de crédito? – perguntei educadamente.

– Não. Nada de cartão.    

     Com um leve sorriso para os olhos encimados por grossas sobrancelhas que me encaravam pelo retrovisor, peguei a carteira. Por mais vezes que já houvesse andado nos táxis de Nova York, ainda não tinha me acostumado com o comportamento dos taxistas; aquilo me irritava sempre. Mas era aturar isso ou o motorista particular da minha família, que me seguiria por toda parte e informaria meus pais sobre todos os meus movimentos. No final das contas, eu preferia mil vezes a independência.

     Entreguei uma nota de vinte ao taxista e abri a porta. Quase no mesmo instante, elearrancou a toda, o que me obrigou a fazer um esforço para manter o equilíbrio ao mesmotempo que tossia em meio à nuvem de fumaça cinza do cano de descarga que ele deixou emseu rastro.

– Idiota – resmunguei, enquanto alisava a calça capri e me abaixava para ajeitar a tira da sandália de couro italiana.

– Precisa de ajuda, moça? – perguntou um jovem que passava.

     Eu me aprumei e o olhei de cima a baixo. O jeans comprado em loja de departamentos, a camiseta com os dizeres EU S2 NOVA YORK e a aparência meio desleixada de rapaz comum me fizeram saber na hora que ele não era da cidade. Nenhum nova-iorquino que se prezava,pelo menos que eu conhecesse, usaria uma camiseta daquelas. Ele não era feio, mas, quando levei em conta sua estadia provavelmente temporária na cidade, aliada ao fato de que ele certamente não seria aprovado pelos meus pais, concluí que prolongar aquele dialogo seria perda de tempo. Ele não era o meu tipo.

     Eu ainda não havia descoberto exatamente qual era o meu tipo, mas imaginava que fossesaber quando o encontrasse.

– Não, obrigada. – Sorri. – Está tudo bem.

     Com passo decidido, andei na direção da escadaria do Metropolitan Museum of Art, o Met. As meninas da minha escola me achariam uma idiota por deixar passar um gatinho/namorado em potencial – ou, no pior dos casos, uma distração divertida.

     Era mais fácil não fazer nenhuma promessa que eu não planejasse cumprir,principalmente para alguém que não preenchia nenhum dos meus pré-requisitos do cara perfeito. A lista ainda não estava completa, mas eu a vinha aumentando desde a idade emque começara a me interessar por meninos. Acima de tudo, era cuidadosa e ponderada nas minhas escolhas.

     Embora eu fosse muito exigente, usasse só roupas de grife e o valor da minha mesa da fosse maior do que tudo que a maioria das pessoas da minha idade ganhava em um ano, eu estava longe de ser esnobe. Meus pais tinham determinadas expectativas em relação a mim, e o dinheiro era usado como um meio de torná-las realidade. Aprendi que a imagem que alguém exibe, embora não seja cem por cento precisa, indica o tipo de pessoa que ela é.Apesar de meus esforços para encontrar provas de que nem sempre era esse o caso, entre os jovens com quem eu estudava e saía isso em geral se confirmava.

     Meu pai, advogado bem-sucedido na área de finanças internacionais, sempre dizia que"Os banqueiros confiam primeiro no terno, depois no homem", sua versão de "Vista-se para o sucesso". Ele e minha mãe – que passava a maior parte do tempo em uma sala no arranha-céu onde funcionava um dos maiores grupos de mídia da cidade, ditando ordens para sua assistente – haviam me ensinado que imagem é tudo.

     Eles quase sempre me deixavam em paz, contanto que eu fizesse o que esperavam de mim, o que incluía, entre outras coisas, comparecer a diversos eventos, me apresentar como filha amorosa e só tirar nota 10 no meu colégio particular para moças. E, é claro, não namorar o tipo errado de rapaz, regra que eu conseguia cumprir não namorando ninguém.Em troca, eu recebia uma generosa mesada e liberdade para explorar Nova York, algo que eu valorizava muito, sobretudo naquele dia, o primeiro das férias de primavera.

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⏰ Last updated: Jan 22, 2020 ⏰

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O Despertar do PríncipeWhere stories live. Discover now