Eu odiava fazer isso com Tae, ele era sempre tão cuidadoso comigo, então quando essas coisas aconteciam ele sentia que havia feito algo errado. Não importa o quanto eu explico que não é culpa dele eu ser estragado por dentro.
Hoje foi mais um dos dias eu que eu sentia um enorme vazio dentro de mim, aqueles dias em que eu não me reconhecia. Eu não sabia quem era e também não sentia que estava vivo, eu só queria fazer qualquer coisa pra sentir novamente. Mesmo que uma parte de mim soubesse que estava fazendo algo errado e que eu preocuparia Taehyung, mas eu tinha que fazer alguma coisa pra me sentir melhor.
Eu estava no banheiro, agachado em frente ao vaso sanitário, meus pulsos retalhados ardiam e o líquido vermelho pingando como água colorindo o chão branco. Estava vomitando mais do que havia comido e era óbvio pra mim que eu não deveria ter ido tão longe, mais uma vez. Depois de botar tudo pra fora eu me sentei no chão sujo do banheiro pensando no que deveria fazer.
Achei que meu coração fosse parar a qualquer minuto. Meus batimentos cardíacos acelerados como nunca e minha visão turva aproximada da negritude.
O transtorno de Borderline tem disso, aquele sentimento horrível de vazio, o medo de abandono mesmo que quase sempre imaginário. E também a sensação de não estar vivo, de estar sendo controlado, de não conhecer nada ao seu redor nem mesmo as pessoas que você ama. É uma das piores partes, se chama dissociação, e acontece mais frequentemente do que o desejado.
O Borderline têm esse nome por nós portadores da doença vivermos sempre as bordas, como agora: a ansiedade para fazer algo que eu não deveria, e então depois a depressão por tê-lo feito.
Quando encolhi meu corpo como um reflexo pelas pontadas de ardência nos meus antebraços ouço batidas na porta.
Era Taehyung é claro.
— Você está aí a um tempo, têm certeza que 'ta tudo bem? — perguntou doce e suave como só ele poderia.
— Se eu te contar uma coisa, promete não ficar bravo? — eu estava tremendo pra contar pra ele, Tae já sabia da minha doença e sempre me ajudava mesmo nas crises. Mesmo assim nada me impedia de tremer enquanto pensava em como explicar para ele a situação em que eu estava.
— Não vou ficar bravo Kookie... me deixa entrar — falou com mesmo tom de antes.
Então me estiquei ainda sentado no chão, contendo alguns gemidos de dor e destranquei a porta para ele se aproximar.
— Kookie...— não deixei ele terminar de falar.
— Me desculpa Tae, me desculpa... — agora eu chorava muito tanto por me sentir horrível, tanto pela dor.— Eu não percebi o que estava fazendo desculpa!
— Não precisa se desculpar meu amor — me abraçou e beijou todo meu rosto delicadamente. — Vamos limpar isso aqui, sim? — falava sobre o topo da minha cabeça, comigo entre seus braços.
Ele se levantou, e com todo o cuidado me despiu, me colocou na banheira e molhou meus antebraços com delizadeza. Seu olhar alterando sobre meus olhos e meus pulsos com preocupação, afirmando que estava tudo bem quando o pedia desculpas.
Quando sai da banheira Tae me ajudou a secar meu corpo, me levando direto para a cama de casal do quarto e pegou a caixinha de medicamentos dentro da gaveta, quase esquecida.
— Foram só os cortes bebê? Ou você fez mais alguma coisa? — sempre muito suave e delicado. Estava deitado no seu peito agora, recebendo um cafuné tranquilo e cuidadoso.
— Eu forcei vomitar, desculpa — demorei a responder, não queria admitir.
— Não é sua culpa — deu um suspiro longo, e então eu já sabia o que viria — Quando tiver vontade de fazer essas coisas tem que contar pra mim.
— Fiquei com medo da sua reação — as lágrimas surgiram novamente, dessa vez com mais angustia.
— Eu te amo, por que acha que eu brigaria com você ou ficaria chateado?
— Parece que eu 'tô sempre te desapontando não é? — levantei-me de seu peito ficando sentado e encarei seus olhos.
— Kookie...shh...ah meu amor — sentou-se na cama também e abraçou meu corpo, me senti em casa. — Não pode pensar nessas coisas, e se eu não tivesse batido na porta? Já pensou no que poderia ter acontecido? — ele estava realmente preoucupado, e eu não tinha coragem de responder. — Se eu te perder não sei o que faço, você é tudo pra mim, me promete que vai me contar sempre como você esta. É importante pra mim saber como você se sente. Promete pra mim, sim?
Sabia que Tae estava preocupado, mas com minha doença era difícil lembrar o quanto as pessoas se importam comigo, por isso o sentimento de solidão e abandono era tão forte.
— Eu prometo — eu realmente pretendo fazer isso — Eu te amo tanto. — devo ter repetido essa frase a noite inteira, por que eu precisava que ele soubesse. — Você é meu diamante, Tae.
Nós conversamos por muito mais tempo. Falamos das minhas inseguranças, meus medos, nosso futuro e então chorei bastante aquela noite. Tae me perguntou se eu estava tomando os remédios certinhos e eu admiti que não. Estava a três semanas sem me medicar — o que já era demais —, então eu pedi pra ele ir no psicólogo junto comigo, por que não estava com coragem o suficiente para ir sozinho.
Taehy pediu o jantar por que eu não queria ele longe de mim. Estava muito carente e sentindo falta dele. Aparentemente não deveria existir esse sentimento entre nós, já que moramos juntos, mas pelo borderline eu precisava preencher meu vazio ou fazendo coisas perigosas e autodestrutivas como fiz antes, ou com muito amor e afeto, nós preferimos a segunda opção.
O problema é que quando eu entrava em crise, eu ficava fora de mim. Realmente não lembro quando me tranquei no banheiro e começei a fazer o que eu fiz, por isso tae sempre pedia pra eu contar tudo pra ele. Segurar essas coisas — as vezes mesmo que pequenas — me matava por inteiro, e eu não consigo lidar com isso sem medicação.
Se eu pudesse fazer um pedido agora, logo após uma crise, seria: se tratem, ninguém é obrigado a passar pelo inferno sozinho, falem com um amigo,falem com seus pais, procurem um psicólogo, procurem ajuda.
Achem alguém que seja seu porto seguro, alguém que te ame apesar de tudo, que te entenda e entenda sua doenças. Seus desafios.Achem a pessoa que vai ser seu diamante, assim como Tae é o meu.
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My bordeline boy
Fanfictiontudo bem não estar bem, era o que Taehyung sempre dizia a jungkook quando o ajudava a passar por suas crises. Ter transtorno de personalidade borderline sempre foi difícil mas com a ajuda de seu namorado ficava mais fácil.