À entrada,o Joel hesitou.Agora sentia medo.E se a rapariga o rejeitasse?Ele tinha ficado fascinado mas ela podia não sentir nada parecido.Era esse o problema.No entanto,pensou ele para se animar,ela fixou-o estranhamente com aqueles olhos belíssimos,inacreditavelmente claros e transparentes,e dobrou a colher dele.Isso devia querer dizer alguma coisa.Decerto que não dobrava as colheres de todos os rapazes que lhe apareciam à frente.Ou dobraria?
A Marta saiu do café naquele momento.Vinha à procura dele,furiosa.E então o Joel decidiu entrar.Agradeceu ao mendigo,nem ele sabia o quê,e lançou-se pelas escadas acima.
-Ei!-gritou-lhe um segurança.-Tens de deixar a mochila no vestíbulo!
-Onde?-disse o Joel.
-Ali-apontou o segurança.
Havia seguranças por todo o lado,os visitantes não eram tantos.
A entrada era gratuita,mas o Joel pagava o que fosse preciso para voltar a ver aqueles olhos,para poder estar debaixo do masmo tecto e respirar o mesmo ar que respirava aquela rapariga.Estava apaixonado.Finalmente estava apaixonado e apetecia-lhe gritar,saltar,cantar,voar e escrever um poema.
Não havia muita gente na exposição apesar de ser sexta-feira,umas trinta ou quarenta pessoas,que admiravam vagarosamente as fotografias,as maquetas das naves e dos projectos ezpaciais.O Joel tentou juntar-se a pequenos grupos,para passar despercebido.Estava eufórico e aterrorizado.Ao entrar na sala viu a rapariga de costas e assustou-se.Escondeu-de atrás de uma vitrina e ali ficou.Estava demasiado agitado para fazer fosse o que fosse.Ficou ali a vê-la através do vidro e depois seguiu-a quando ela passou a sala seguinte.Sem se mostrar,viu-a percorrer vagarosamente todas as salas da exposição,sempre ao lado da elegante mulher de negro.Viram tudo o que havia para ver, mas havia uma sala que as interessava mais, e onde estavam expostas amostras de pedras da Lua,de Marte,pedaços de asteróides e meteoritos.
Era a sala onde havia menos gente,talvez por ser a mais desinteressante,mas foi aí que elas ficaram.A rapariga tinha as suas preferências e não parava de olhar uma pequena pedrinha de Marte.Não tirava os olhos dela,quase encostada ao cordão de segurança, a dois metros da pedra.Quem passasse aquela barreira fazia soar o alarme,como garantiram os muitos avisos que havia na parede.
Houve um momento em que as duas ficaram sozinhas na sala.Só lá estavam elas,além do Joel.Só que elas não o viam.A mulher fez um gesto à rapariga e saíram as duas da sala,mas ela regressou logo a seguir e deslizou furtivamente encostada à parede,para não ser filmada pela câmara que estava no tecto.Então,foi direita a uma caixa de electricidade e mexeu lá durante alguns segundos.Depois,voltou a fechar a caixa e fez um sinal à raariga que entrou imediatamente.
O Joel escondeu-se melhor,atrás de um painel de madeira.Agora é que ele não podia ser apanhado.E,do seu esconderijo,viu a rapariga fixar a tal pedra com os seus olhinhos lindos e poderosos, os tais que dobravam as colheres.
A mulher olhava,anciosa,para a entrada da sala na esperança de não ver entrar ninguém.
Não entrou ninguém.E pouco depois aconteceu outra coisa inesplicável.A pedra deslocou-se do estojo sem que ninguém lhe tocasse,rolou pela plataforma de veludo e caiu para o chão.Ficou a menos de meio metro do cordão,ao alcance da mão.A rapariga tentava arrastá-la com o esforço da mente,mas a mulher raparou que vinha a entrar um pequeno grupo e precipitou-se,estendeu a mão e agarrou-a.
O alarme soou imediatamente,um barulho agudo e estridente que feria os ouvidos.O Joel,no esconderijo,estremeceu.Elas tinhas roubado uma pedra e ele era a única testemunha.
Aquele olhar tinha voltado a fazer estragos.
-Estou apaixonado por uma ladra de pedras!-murmurou ele.-Lindo serviço!
Elas saíram dali e o Joel aproveitou para sair também do esconderijo e misturar-se com o grupo que tinha acabado entrar.O chefe dos seguranças também chegou entratanto,aos gritos,talvez para toda a gente ficar a saber que era ele o responsável.Dava ordens para todos os lados e também para os assustados visitantes.
-Todos para aquela sala.Juntinhos!Quero-os todos juntinhos!
Juntaram todos os visitantes numa sala ao lado e ficaram num molhinho,encostados uns aos outros,como ovelhas num rebanho.
Duas velhas ainda tentaram protestar.Adiantaram o nome das doenças todas que sofriam,mas o chefe era um chefe e os chefes não têm piedade.
-Todos juntos!-repetiu ele,a empurrar as velhinhas.
Uma delas tropeçou na bengala ,desequilibrou-se e apoiou-se na senhora que estava à frente,a qual,por sua vez,se agarrou ao homem que estava à frente dela,o qual,por sua vez,se desequilibrou e agarrou à mulher que estava à frente dele,que era a mulher de negro que acompanhava a rapariga.
Seguiu-se uma queda em cadeia com o Joel a ser também arrastado ,sem saber como.Quando deu por ele estava estendido ao comprido no chão,de costas,e sem óculos.Amulhet de negro estava ao lado dele,a tentar arranjar-se.A rapariga estava de pé,em frente a eles,e lutava para conter o riso.
O Joel procurou os óculos aflitivamente com as mãos e ela dobrou-se gentilmente e estendeu-lhos.Disse-lhe:
-Tens uns olhos bonitos.Não devias usar óculos.
Era a primeira vez que ele ouvia a voz dela e soou-lje como uma orquestra de sinos.Nunca nenhuma voz lje tinha soado assim,nem nenhuma música.
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Pelos teus lindos olhos
AdventureO Joel nunca tinha visto uma rapariga com uns olhos tão lindos.Um era azul e reflectia o céu,outro era verde e reflectia o mar.E o que aqueles olhos eram capazes de fazer! Cego de amor,ele está disposto a tudo pelos lindos olhos de Ariane.Por isso a...