Capítulo 2 - SORTE OU AZAR

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Eu não posso mais lutar contra você

É por você que eu estou lutando

O mar arremessa as rochas

Mas o tempo

Nos deixa pedras lapidadas

U2 - Ordinary Love


William

O despertador toca e eu o empurro do criado mudo e escuto o barulho de seu plástico se partindo. Mas o barulho irritante persiste, eu me viro e coloco um travesseiro na cabeça. E o som para, só para retornar e me impedir de voltar para o meu sonho. Merda! Praguejo e levanto trôpego. Pego o maldito alarme e vejo que não está tocando...mas uma música irritante ainda me incomoda.

Olho em volta e avisto meu celular jogado em cima do meu jeans sujo da noite passada. O nome de Bob aparece na tela e por um momento cogito desligar e não atender meu tio. Mas minha consciência me coloca em alerta, pode ser algo sobre meu pai, afinal não o ouvi chegar ontem. Pego o aparelho e atendo.

—Até que enfim em Bela Adormecida ! Preciso de você na BR356 o mais rápido que conseguir. — pelo barulho da voz dele, sei que está comendo rosquinhas enquanto fala.

— E por que diabos eu iria até lá se você está mais perto?

Sento na cama e esfrego os olhos. Eu precisava dormir mais. Bob morava na saída da cidade, sua oficina era uma das únicas com atendimento vinte quatro horas, o que conquistava principalmente os turistas despreparados que gostavam de visitar a região, mas esqueciam de dar manutenção no carro.

— Por que você trabalha para mim e também porque levei seu pai para minha casa ontem. Sua tia está furiosa, porque ele sujou o banheiro todo...

— Ele está bem...? — fico tenso. Meu pai tem sido um alcoólatra pé no saco nos últimos anos. E cuidar dele não era fácil. Imaginei que tia Valmiria deveria estar furiosa.

— Sim. Dormindo como um recém nascido. Vou espera-lo acordar. Então vai logo atender o chamado e abra a oficina depois.

Desliguei o telefone e me apressei em me arrumar. Coloquei o primeiro jeans que encontrei e uma camisa limpa. Meu reflexo não era dos melhores, mas arrepiei os cabelos com uma pomada gosmenta, presente de tia Val. E que conseguia domar meu cabelo liso. E desci para pegar o guincho no quintal.

A casa estava uma bagunça como sempre. A cozinha lotada de louça suja e embalagens de comida eram a decoração da sala. O ambiente era feio, sujo e dificilmente alguém conseguiria chamar de lar. Mas já era assim desde que minha mãe se foi e aquilo já tinha sido há um tempo. A grande merda vida, é que você pode se acostumar com tudo. E eu havia me acostumado com a dor e com o que restou depois dela.

Dirigi ao som de Shinedown, acelerando o mais rápido que podia, pois tinha esquecido meu maço de cigarros em casa. E não fumar, me deixava extremamente nervoso. Mas eu precisava ajudar Bob, eu o devia por muitas coisas. Depois que deixei o presídio, uma série de merdas começou a acontecer. Minha mãe morreu, meu pai virou um bêbado e meu tio foi o único que me estendeu a mão e me ofereceu um emprego nessa cidade preconceituosa. Eu até havia procurado por outras opções, mas ninguém queria um ex presidiário em seu comercio.

O clima hoje está relativamente bom, o calor é a marca registrada desse lugar, mas o alívio está nas cachoeiras que estão a nosso entorno. "Mar de Minas" eles chamam, um lugar que trás paz e tranquilidade, mas que só conseguiu tornar minha vida uma merda. E eu queria muito ir embora dessa cidade, vinha economizando para isso. Mas sabia que isso ainda não era possível, pelo menos por enquanto.

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⏰ Last updated: Jan 24, 2020 ⏰

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