SINNERS - Os Pecadores Também Amam

Capítulo 1 - DE VOLTA PARA CASA

Capítulo 1 - De Volta Para Casa

Não sei quanto tempo se passou

Tudo o que sei é que parece uma eternidade

Mas ninguém te diz que a eternidade é algo muito familiar

Se sente em casa, sentado sozinho dentro da sua cabeça

Stone Sour - Through Glass

Alice

Eu odiava ter dúvidas. Principalmente quando elas vinham me acordar durante a noite e expulsar meu sono. E eu tinha todos os motivos do mundo para querer dormir e não acordar mais. Mas também tinha todos os motivos para não dormir.

Levantei três horas antes do que o necessário e olhei para as malas no canto da sala, ocupando o pouco espaço que eu dispunha. Coloquei naquelas caixas pretas a minha vida, era engraçado como nossas lembranças poderiam ser encaixotadas. E eu queria muito poder liberta-las, mas não aqui. Não neste lugar...

Era hora de um recomeço forçado e improvisado. Me arrumei da melhor forma que pude, com a pouca disposição que tinha. As horas sem dormir, não poderiam ser cobertas com maquiagem. Os cabelos pretos precisavam de um corte, mas isso foi adiado e substituído por um coque frouxo.

E quando não havia mais nada do que me despedir, peguei meu gato em sua caixinha e nós dois aventureiros saímos para a estrada. Era uma viagem relativamente longa, mas eu não me importava. Voltar para casa exigia uma certa coragem, que eu esperava criar enquanto dirigia.

Stone Sour canta no rádio sobre decepção e esse não pode ser o pior momento. Mas me obrigo a ouvir, me forço a escutar aquelas palavras e me lembrar que fui enganada. Traída pelo homem que achei que iria me casar, investigada por fatos que não participei. E agora marcada pela polícia como suspeita.

Apertei o volante com mais força, as veias azuis da minha mão ficam mais aparentes e meus dedos vermelhos com o excesso de pressão. E eu tento me lembrar de como é respirar, sem ter um peso no seu peito. Porque agora eu sinto que estou sendo sufocada, prensada e esmagada contra o turbilhão de acontecimentos que eu não consigo controlar.

Minha mãe disse no telefone "eu lhe avisei". Uma mentira que ela contou para si mesma, para manter seu senso de superioridade. A verdade era que quando comecei a namorar Afonso, ela me apoiou. Se empolgou e disse que ele era um homem elegantes e um bom partido. Minhas amigas elogiaram , meu chefe até me convidou para um almoço com sua família, desde que Afonso fosse e eu lhe falasse sobre investir na editora. Todos ao meu redor, o viram como o santo que ele pintou. Como eu não pude ver que aquele quadro estava manchado por mentiras, como me iludi com uma falsa felicidade.

E embora eu não tivesse nada a ver com seus esquemas, ainda assim não podia deixar de me sentir culpada. Eu sabia que ele tinha muito dinheiro, mas sua conversa sobre ser investidor, nunca me fez questionar no quê ele investia. Mas afinal, como eu iria me casar com alguém que eu sequer sabia com o que trabalhava? O que me cegava? As mentiras dele ou a minha carência por companhia? Eu realmente o amava? Essas e outras dúvidas, eram como alfinetes espetando todo o meu corpo.

Sacudi a cabeça e fiquei na estrada. Eu estava indo em direção a um recomeço, que deveria ser o meu passado. Mas precisava de um tempo e a casa da minha falecida avó Denise, era o conforto e refúgio que eu precisava no momento. Passei pela placa de Bem vindos a Capitólio com resignação e um barulho estranho sendo produzido pelo meu carro. Reduzi e torci para que esse maldito fusca não estivesse me deixando na mão. Mas as coisas podem sempre piorar.

***

Sozinha em uma estrada deserta, me vi com um carro soltando fumaça preta. Peguei meu celular e vi que havia ao menos um pouco de sinal, uma benção diante de uma maldição. Procurei por guinchos nos arredores e peguei o primeiro número que vi, não tinha tempo para ver avaliações de clientes. Precisava dar o fora dali, Dante miou baixinho como se concordasse.

— Eu sei gatinho, precisamos ir para casa. — murmurei e acariciei seu pelo cinza.

O telefonou tocou seis vezes e quando pensei em desistir, uma voz rouca atendeu. Expliquei duas vezes onde estava e perguntei várias vezes sobre o preço, mas fui ignorada. E desliguei o telefone com a resposta de que ficaria pelo menos uma hora aguardando um resgate.