POV SAMARA
Sonhos e pesadelos começam exatamente do mesmo jeito. Em um determinado momento, você percebe que as coisas ao seu redor se transformam. Então você se esquece de como chegou até ali. Coisas maravilhosas e assustadoras acontecem a qualquer momento. Ainda é sua perspectiva da história, mas você sente que aquele lugar não é seu. Mas antes que algo aconteça você desperta com o som do seu velho despertador ou sua mãe te chamando, mas caso tenha sono leve, até mesmo um beliscão de barulho lhe acorda. É hora de acordar para mais um dia, que provavelmente você esquecerá em algumas semanas. Bom, no meu caso, talvez isso não aconteça, pelo menos não hoje. Afinal de contas, não é todo dia que você começa a faculdade.
É manhã do dia 19 de fevereiro de 2026, uma sexta-feira abafada. Passei a última madrugada dentro de um carro com o ar-condicionado ligado, o que significa que a minha garganta está péssima. Como de costume, antes da viagem de volta pra minha cidade natal, Novo Hamburgo, (a cidade dos emos, punks, funkeiros e boiolas), tomei um Dramin, o que me fez adormecer pelo trajeto todo.
- Acorda! - gritou minha mãe. - Dessa vez você não pode nos atrasar, como sempre faz, tem que ser exemplar, as pessoas tem que gostar de você.
Normalmente, as mães sonham em ver seus filhos bem, realizadas, independentes, viajadas ou qualquer outra coisa que as deixem com um sorriso no rosto. Mas a minha não. O que ela quer é que sejamos o centro das atenções. Certamente, eu sou sua maior frustação.
Eu tinha aproveitado as primeira horas da manhã, depois de chegar de viajem, pra dormir mais um pouquinho e não aparecer com belíssimas olheiras na faculdade, mas sinceramente, não estou nem um pouco interessada em ser a primeira a chegar.
- Não ligo em ser a última. Minha roupa sequer é a mais bonita mãe. Aliás, nem sei se ela deve estar fechando nesse momento. - Respondi enquanto lembrava da sacola de doces que comprei e devorei durante o primeiro farol em que paramos.
- Não fale bobagem. Em trinta minutos volto pra levar você. Tome banho e se seque com o roupão que está pendurado atras da porta do banheiro! - Ela decretou, com um ar de autoridade, e logo saiu andando, distribuindo ordens aos empregados e a qualquer um que respirasse e entrasse no roteiro que ela criou em sua mente antes de sair da cama. Como ela consegue ser assim? Ou melhor, como eu a aguento?
Levantei, logo abrindo a enorme janela do quarto. Minha irmã sempre sonhou com o inicio do ensino médio. Aquele então seria seu conto de fadas da vida real, mal sabe o que a espera.
Abri o chuveiro e senti a água gelada tocar minha pele, mas em segundos ela estava aquecida de maneira que não me deixasse com calor mas não fosse fria, (eu sempre tive esse problema, mesmo nos dias mais quentes e abafados do ano eu tenho que tomar banho em água quente) Até todo meu cabelo estar molhado e eu desejar que aqueles minutos durassem horas. Fechei os olhos e comecei a pensar em coisas que estavam entaladas na minha garganta a tanto tempo. Quando você está se sentindo mal a um bom tempo nem consegue mais se lembrar do porquê estar assim.
Listei mentalmente, enquanto espalhava o shampoo pelo meu cabelo, o que tanto me afligia: Meu emprego era uma droga. A cada segundo que passava eu sentia menos vontade de encarar as pessoas lá fora. Era tudo tão monótono!
Minha vida amorosa era um verdadeiro desastre, nunca apresentei ninguém aos meus pais, isso me levava até a duvidar minha orientação sexual. Os caras que conheci durantes os últimos anos não prendiam minha atenção por muito tempo. No começo eu gostava, todo aquele joguinho de sedução e conquista, mas depois, tudo se tornava tão rotineiro, com o romance já concreto não passava de mera obrigação. É sempre a mesma coisa. Deixo de sentir aquela empolgação instantânea, saca? Como se eu já soubesse o final antes mesmo de começar. Às vezes, acho que maturidade tem a ver com o tempo em que levamos pra gostar de alguém e passar a confiar nessa pessoa. Eu não conseguia mais fazer isso de cara.
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Sapão Periclão
FanfictionSamara e maria passam 6 anos sem se ver. Agora com suas vidas completamente diferentes elas se reencontram na faculdade de artes CC. Uma velha paixão de adolescência poderia se tornar algo? o destino teria reservado algo pra elas?