Capítulo Único

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Gloucestershire, Inglaterra — Maio de 1825

Para qualquer pessoa, aquela parecia mais uma manhã comum, mas Sir Phillip Crane sabia que era um dia especial assim que abriu os olhos e admirou a mulher adormecida ao seu lado na cama. Uma mulher com cabelos castanhos volumosos, um rosto lindo em formato de coração e que só ficava quieta assim quando dormia. Era quando toda a agitação intrínseca de Eloise perdia a batalha para a exaustão e ela mergulhava num sono profundo e sereno.

Se bem que, às vezes, falava dormindo. Mas pelo menos calava-se logo e não se mexia, o que era algo digno de nota em se tratando dela.

Phillip amava vê-la dormindo e poderia ter passado a manhã inteira olhando para ela, admirando-a com fascínio como já fizera tantas manhãs, até que Eloise enfim despertasse, olhasse para ele em retorno e abrisse o sorriso que sempre o incendiava por inteiro.

Ao invés disso, Phillip obrigou-se a levantar, depois de dar um suave beijo em sua testa e afagar carinhosamente a barriga muito protuberante entre eles. Pretendia lhe fazer uma surpresa e, para ter o efeito desejado, Eloise deveria acordar sozinha.

Phillip vestiu-se e deixou o quarto. Voltou algumas vezes depois e, em silêncio, arrumou tudo o que precisava por ali. Antes de sair em definitivo, ajeitou um envelope cor de creme sobre o travesseiro ao lado de Eloise para que fosse a primeira coisa a ver quando acordasse.

Phillip que, embora tenha evoluído bastante desde que descobriu o amor por Eloise, não se considerava habilidoso com as palavras ditas, sentia-se mais à vontade quando podia colocar os pensamentos no papel. E, já que tudo entre os dois tinha começado por causa de uma carta, nada mais justo que ele usasse essa estratégia com ela num dia tão especial como aquele.

Não que todos os dias do último ano não tenham sido assim. Na verdade, todos os dias ao lado de Eloise Bridgerton... Não, ao lado de sua esposa, Eloise Crane, eram mais do que especiais, eram mágicos.

— Mágicos...

Phillip riu baixinho de si mesmo. Realmente não era bom com palavras. Ainda assim, estava certo de que mágicos era uma definição aceitável. Hoje era mágico de um jeito diferente, concluiu por fim. Porque hoje fazia um ano que tinha conhecido a sua mulher.

Eles podiam ser muito diferentes um do outro, porém Phillip estava cada vez mais certo de que eram perfeitos um para o outro também. Tinham um casamento feliz, cheio de paixão, e Eloise amava os dois filhos do primeiro casamento dele como se fossem dela. Há muito, os gêmeos Oliver e Amanda, de nove anos, passaram a chamá-la de mamãe e estavam ansiosos pelo irmãozinho ou irmãzinha que logo nasceria. Phillip também estava, mal se aguentava de ansiedade e alegria.

Eloise era tudo que ele precisava e nem sabia. Ela se estabeleceu no seu coração como a primavera coloria os campos com suas flores nessa época do ano. O coração dele, que por anos amargou um inverno longo e desolador, ganhou cor e vida quando foi tocado por ela. Eloise transformou sua vida inteira numa primavera sem fim.

Phillip sentiu os lábios se esticando num sorriso inevitável e afundou as mãos na terra de um vaso em sua estufa, tentando se concentrar no experimento botânico da vez. Sem perceber, pôs-se a assobiar uma canção feliz. Era inevitável e se tornou um hábito. Há quase um ano, já não conseguia trabalhar mais em silêncio. E há muito, parou de se sentir um tolo por deixar a felicidade aflorar assim.

Não era um tolo afinal, apenas um homem apaixonado. Um homem que amava profundamente uma mulher e tivera a sorte de ser amado de volta com a mesma devoção. Um homem afortunado que jamais esperou ser.

A vida de Phillip, por muito tempo permeada de escuridão, traumas e desesperança, havia se iluminado desde que Eloise surgiu em Romney Hall numa manhã de primavera como aquela. Trazendo uma pequena mala e muita personalidade a tiracolo.

Para Lady Crane, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora