Capítulo 3: Drama Queen

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Não consigo ir sozinha ao ensaio da Très, por isso, peço à minha prima Martina para me acompanhar. Ou melhor: para ser minha motorista de fuga, pois pretendo jogar a bomba e sair correndo o mais rápido possível da garagem de Gus, onde costumamos ensaiar.

"Você podia encarar tudo de forma mais madura e conversar com o Gus e o Theo ao invés de sair correndo..." Martina comenta pela centésima vez enquanto dirige.

"Você não conhece os dois. Vai ser melhor assim." Respondo olhando pela  janela.

Martina morou os últimos anos com o pai nos Estados Unidos e acabou de voltar para passar um tempo com minha tia. Ela acabou parando no meio da confusão entre o fim do meu namoro, minha saída da banda e claro, os assassinatos.

"Não, mas conheço minha prima e sei que ela tem uma certa tendência para o drama." Ela sorri e eu fico em silêncio por alguns segundos.

"Obrigada por me acompanhar, Tina." Respondo sem dar muita corda com o intuito de cortar  o assunto.

"Você quem sabe, Vic." Ela diz impaciente, revirando os olhos.

O resto do caminho é um tanto estranho. Martina muda de assunto para falar de Sara e perguntar se há alguma novidade sobre as investigações desde o funeral hoje de manhã. Não houve e meu estômago embrulha só de pensar.

Minha prima, por outro lado, está levemente empolgada. Sempre foi a louca dos crimes e não conhece Sara ou os outros. Ela passou tempo demais fora do país e não tem laços em PP, então na sua visão, toda a história é instigante e não assustadora e dolorosa.

Ficamos o resto do caminho em silêncio, pois estou nervosa demais para conversar e Martina respeita isso. Quando paramos na porta da casa de Gus preciso respirar fundo. Saio do carro o mais devagar possível e caminho lentamente em direção à garagem onde ele e Theo estão me aguardando.

Theo, assim como eu, trocou a roupa do funeral e está parecendo ele mesmo novamente: calça preta e justa com rasgos nos joelhos acompanhada de uma camiseta cinza surrada com o escudo do Capitão América em preto na frente. Ele está sentado em cima de um amplificador e concentra-se em Berta, a guitarra vermelha que o acompanha há anos, dedilhando alguns acordes distraidamente. Uma mecha dos cabelos escuros cai no rosto dele, que provavelmente nem percebeu. Meu peito dói em vê-lo.

Gus está sentado na bateria. Os cabelos compridos escuros dele estão presos em um coque bagunçado. Está sem camisa e apesar de não conseguir ver, tenho certeza que usa apenas uma cueca samba-canção, seu uniforme quando está em casa.

Ele sorri quando me vê.

"Pronta para o melhor ensaio da sua vida?" Pergunta girando uma das baquetas na mão.

Ele fala isso antes de todos os nossos ensaios, mas hoje, em vez de me fazer sorrir, meus olhos se enchem de lágrimas, o que não passa desapercebido.

"Merda, eu não deveria falar algo assim horas depois do funeral da Sara?" Gus arregala os olhos uma expressão preocupada toma conta do rosto dele. Incapacitada de falar, apenas balanço a cabeça em negativa.

Gus às vezes perde um pouco a noção quando se trata da banda. Está sempre tão concentrado em fazer o melhor possível que pode esquecer de agir feito um ser-humano. A música é sua paixão e vício, aquilo que é realmente bom. E Gus não é só bom, é um dos melhores.

Ele passou anos sendo tratado como burro e vagabundo por professores e até os pais, que o praticamente o expulsaram de casa para morar com a avó quando repetiu de ano na escola — e como consequência, passou a estudar na mesma sala que Theo e eu e o que levou a criarmos a Très.

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