O garoto da casa ao lado

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A aula acabou e eu estava acabando de guardar meus matérias quando eu escuto a porta se fechando bruscamente.

POOOOW

Eu levo um susto e vejo que eu não estou sozinha na sala, ele estava ali também. Mas pq diabos ele ficaria dormindo até agora?

- Cacete - ele se diz se espreguiçando e caminhando até a porta. - Tá tranquilo. - ele respira fundo - eu só vou abrir a porta e... - a maçaneta sai em sua mão e eu ouço a outra maçaneta cair por traz da porta. Ele chuta a porta com muita força e apoia o braço na parede - Agora ferrou.

Eu estava presa em uma sala com um cara. Meu deus um homem, só Deus sabe oq ele pode fazer comigo. No Liz isso não vai acontecer, fica calma, fica calma. E quando eu percebo, já estou tremendo e bufando.

- Tá tudo bem por aí? - Ele diz sentando em cima da carteira de professor.

- E-eu es-tou bem - eu digo respirando fundo.

Ficamos ali por uns 20 minutos, com fome, com raiva e eu com medo até que Harry decide abrir a boca.

- Já são 16:20, daqui a pouco alguém da limpeza percebe e nos ajuda. - ele diz olhando para o relógio na parede.

- Tá bom

- Me desculpa por ter tocado você e depois ter prendido você aqui - ele diz passando a mão sobre as pulseiras em seu braço, que na verdade são muitas.

- Tá tudo bem, você não tem culpa de nada disso, muito menos por me tocar - Puta merda Liz você não gaguejou. Aplausos para a Liz, isso é um grande avanço.

- Claro que eu tenho, eu não devia ter feito aquilo. Mas pq você fica tão desesperada quando se encontra comigo? É algum tipo de quedinha por mim? - ele diz e solta uma risada irônica.

- Ah claro, eu tenho tanta queda por você que eu to até pensando em comprar um capacete, pq minha cabeça já tá toda dolorida. - eu digo em um tom de sarcasmo.

- Hahahahaha essa é boa, mas qual o real motivo? A questão sou eu mesmo? - ele pergunta curioso. O sorriso que estava estampado em meu rosto logo se desfez, dando brecha ao meu passado.

- Eu fui abusada sexualmente. - Aquilo foi o suficiente para ele levantar a cabeça e se assustar em questão de segundos.

- M-meu Deus eu não fazia ideia disso, me desculpa de novo, não foi a intenção. Eu realmente me sinto mal e... - Eu o interrompo

- Tá tudo bem - Eu digo me levantando do chão e indo até o quadro para fazer alguns desenhos. Ficamos em silêncio por alguns minutos e ele me fita enquanto eu desenho.

- Nossa como você desenha bem - ele diz.

- obrigada. É que desenhar me acalma. - e o silêncio reina novamente até que ele solta uma bomba.

- Já que você me contou algo tão pesado sobre você, eu vou contar também - Eu paro de desenhar e me viro para ele. - Eu tenho TEI.

- Oque é isso? - Eu digo franzindo as sobrancelhas.

- Transtorno Explosivo Intermitente, eu basicamente surto do nada, me altero e dependendo da situação eu parto para a agressão. É uma raiva que eu não consigo conter. Descobri isso aos 12 anos quando eu fui expulso de 2 escolas por agressão e minha mãe decidiu me levar ao psicólogo, desde então eu faço tratamentos com remédios, terapias, psicólogos e é uma merda.

- Meu deus - eu arregalo os olhos. - eu também sofro com remédios, terapias, psicólogos e tal. É muito ruim, mas até que a terapia anda me ajudando como por exemplo, eu não falava com garotos de jeito nenhum, me dava pânico. Na verdade ainda dá um pouco. Mas eu ando melhorando bastante.

- Relaxa, eu não vou tocar você em hipótese alguma. - ele diz.

- Obrigada.

- Eu ando me mantendo controlado, mas cada surto que eu dou fica pior e eu faço mais merda.

Ficamos ali conversando e nos conhecendo. Harry tem uma irmã mais nova chamada Emily e de acordo com ele ela é bem mandona e pela a sua cara, ele ficou com muita pena quando soube q eu sou órfã e adotada. Ele é legal e inteligente, não sei como dorme nas aulas e sabe tanto sobre física e química.

Nem parece que ficamos 1 hr e meia naquela sala abafada até alguém finalmente conseguir abrir a porta. Fomos andando até a saída da escola e ele me pergunta.

- Posso ir com você até em casa? Já que somos praticamente vizinhos. - ele diz coçando a nuca.

- S-sim - eu digo um pouco vermelha. Fomos andando e conversando. - por que a Daiana não é da mesma sala que você? Pensei que namorados ficassem juntos o tempo todo.

- Ela repetiu um ano por causa de faltas, pelo menos é isso que ela diz. E não ficamos juntos o tempo todo. - Ele sorri sem graça. - Daiana pode ser bem estressante as vezes.

- Entendi. - Ficamos em silêncio até chegarmos em sua casa.

- Bom... eu fico por aqui. Até amanhã? - ele diz com as mãos nos bolsos de sua calça.

- S-sim, até amanhã. - ele já ia estender a mão para me cumprimentar e então ele lembra e recua.

- A-até - Ele sorri.

Eu vou andando para casa. Hoje foi um ótimo dia, eu fui capaz de conversar com um garoto! E passar mais de 1 hr com ele sem surtar. Isso foi incrível. Minha terapeuta ficará impressionada. De alguma forma eu sinto que posso confiar em Harry.

Chegando em casa, eu tive que explicar tudo a Katy que ficou histérica mas feliz por mim.

- Talvez ir à escola não tenha sido uma má ideia não é mesmo? - Ela diz sorridente.

- É ... - Eu afirmo - Vou tomar um banho e descansar um pouco.

- Tudo bem querida, mas desça daqui a pouco pois o jantar está quase pronto. - Ela diz acabando de cortar alguns legumes.

- Tudo bem - Digo.

Subindo as escadas eu dou de cara com Amber perplexa com tudo que escutou.

- Ele é bonito pelo menos? Como ele é? - Ela diz mega curiosa.

- É o garoto da casa ao lado.

A garota da casa ao lado 𖠰 [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora