Troco pra 100

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Hmm...
Lá estava eu, em mais uma noite, deitado em minha cama. Celular na mão, esperando resposta para minha mensagem enviada há 20 minutos.
Ahh!!!
Por que não fiz amigos com mais consideração?

Minha mãe grita do cômodo de baixo:
- Filho, vai no mercado pra' mãe? Acabou o leite, e sua irmã precisa de guardanapos pra' levar à escola amanhã.

Wow!
Disposição 0%.
Mas tanto faz! Não vou morrer só por ir no mercadinho.

Lista de compras, okay!
Dinheiro...
Aff, sem trocado, vou levar 100 conto' pra' comprar duas coisas. Mas tá, o caixa que se vire pra' conseguir troco.

Droga!
Onde está minha chave?
Vou pegar da minha irmã.

- Não perde! É minha! Me devolve quando chegar!

Aff!
Tô' mesmo vendo isso?
A pessoa superprotetora com sua chave?

Saí de casa. Faltava meia hora até mercado fechar. A rua estava bem escura, iluminada apenas por seus postes de luz. Costumo sair mais quando está de dia, mas o ventinho da noite sempre me conforta.

Haviam dois caminhos, direito e esquerdo.
Costumo ir pelo direito, mas passei a usar o esquerdo.
Eu tretei com um cara esses dias. Ele usa o caminho direito. Não quero correr o risco de dar de cara com ele.

Uau!
Até que o caminho esquerdo é bem melhor!
Um pouco mais longo. Com mais curvas. Mas menos movimentado. Mais calmo. Conseguia ouvir meus passos apressados, graças ao silêncio gostoso.

Hummmm!!!
Andando pela calçada. Passando ao lado de várias casas. Sinto o cheiro do jantar saindo de cada uma delas.

A noite brilhava. O céu escurão. Mas a sensação era gostosa. Bem, tirando os sustos que levo cada vez que um carro para ao meu lado. Uff! Não quero nem pensar em sequestro!

Era impressionante aquela estrada. Longa, porém calma. Haviam apenas duas ou três pessoas a cada ponto de ônibus que atravessava.

Lá vinha uma curva. Fácil de se descer.
Após isso vê vejo em um canto escuro.
Droga!
Não havia um poste de luz ali. Que escuridão horrorosa.

Ufa!
Cheguei ao supermercado.
10 minutos pra' fechar.
Tento ir imediatamente pegar as minhas compras.
Lá vem um parar no meio do corredor pra' empacar meu caminho.
Aff!
Desvio do idiota. Pego dois galões de leite do mais barato e um pacote de guardanapo da marca mais vagabunda!

Vou até o caixa e...
Ah não!
Fila tá' pior que lotérica!
Mas por sorte ouço:

- Podem vir, abriu!

Ufa!
Abriu mais um caixa.
Agora é apostar corrida pra' ver quem chega primeiro!

Ué!
Só foram duas pessoas?
Será que esse povo gosta de esperar em fila?
Dane-se! Só quero ir pra' casa logo!

Só havia mais um cara na minha frente.
Ele soltou um gracioso "Boa noite!" à caixa, que lhe correspondeu com um doce e alegre sorriso!

Eu deveria fazer o mesmo?
Soltar um belo "Boa noite!"?
Não!
Nunca fui um cliente amigável!
Talvez isso servisse pra' repensar minhas atitudes.
Mas tanto faz!
Ser simpático não muda nada na minha vida!

Ótimo!
Chegou minha vez!
Passei minhas comprar com minha cara fechada de sempre.
A caixa solta a frase:

- RS 7;50

Lhe entrego a nota de 100.
Ela encara com desgosto!
Abre o caixa e pega várias e várias notas, acompanhadas de muitas moedinhas para o troco.
Que vergonha!

Guardei aquele amotuado de dinheiro no bolso e voltei pelo mesmo caminho
Andei balançando minha sacola de um lado para o outro.
Olhava atentamente para o chão, temendo pisar numa caca.

Vi uma menina caminhando pela rua.
Lembro de tê-la visto quando cheguei.
Só pode estar dando uma de zumbi andando em círculos e olhando fixamente para seu celular.
O que a tecnologia faz com as pessoas!

Novamente passando pelo 'canto escuro'.
Pelo menos não havia mais ninguém na calçada.
Estava tão deserto que eu podia começar a dançar e ninguém iria perceber. - Risos

Obstáculo 1 ultrapassado e...
Ops!
A rua curva.
Descer e fácil, subir é dose!

Finalmente!
Obstáculo 2 ultrapassado!
Estou a poucos metros de casa.
Mas ver os estabelecimentos todos fechados,
Confesso
Deu um certo medo!
A rua deserta às vezes pode ser um pouco horripilante.

Haviam algumas pessoas a mais.
Voltando do trabalho.
Descendo dos ônibus.

Perto de casa
Avisto de longe...
Essa não!
Parece outro garoto que tretei!
Pois é, eu não sou muito querido aqui no meu bairro. Mas tanto faz.
Olho mais perto
Não!
Não é ele!
Apenas um cara que eu nunca vi voltando da igreja.
Passo ao lado dele e sinto seu forte perfume.

Por fim
Chego em casa!
Prestes a abrir o portão.
Quais são as chances de eu ser atacado aqui mesmo?
Nenhuma!
Já entrei.

Deixei as coisas encima da mesa.
Só esperando minha irmã vir encher o saco por sua querida chave.
Despachei o troco em um móvel e senti meu celular vibrar descontroladamente.

Aleluia!
Meus amigos responderam e...
Cara
50 mensagens!

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Gostaram? Não é uma história de verdade, apenas algo para distrair a mente. Enfim, se gostou e leu até o final, obrigado!

Crônicas da ProcrastinaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora