Banheiro Masculino

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Estou no meu curso profissionalizante.

Há duas turmas,
Período da manhã e período da tarde.
As duas turmas se juntaram hoje para uma festinha organizada pela direção.

Eu sou da turma da manhã.
Não conheço ninguém da turma da tarde.
Sou muito tímido.
E esse pessoal não tem uma reputação  muito boa.
Dizem que são infantis.
Minha turma é mais responsável!

Nessa turma são todos normais.
Nada demais.
Mas um me chamou atenção.

Um cara, que nunca vi, sentou em um banco ao meu lado.
Acho que queria ser meu amigo,
Mas não falou nada.
Eu fiquei com muita vergonha.
Saí de lá na hora.

Ele está aqui,
Mas nem me olha.
Está com suas amigas.
Mas também parece meio solitário.

Só me sentei em uma mesa para comer um pedaço de bolo.
Ele não está mais aqui.

Acho que tomei muito refri'.
Vou no banheiro.
Nossa, está escuro.
Deve estar vazio.

Acendi as luzes
Quando entro...
AH!
Ele está aqui!
Está parado, mexendo em seu celular.

Trocamos olhares.
Ele age naturalmente.
Tento não demonstrar surpresa.
Acho que ele se incomodou por ter ligado as luzes.

Vou até o vaso e...
Bem, todos já sabem.
Saio, lavo as mãos,
E ele ainda está lá,
Com seu celular.

Vou sair,
Mas...
Droga!
A Tiazinha da limpeza encerou o chão do corredor!

– Em meia hora você pode pisar, meu anjo!

Okay!
Vou só me sentar aqui no chão.
Mas ele está aqui!
Parece não se importar que vai ter que ficar preso por meia hora aqui.
Está sentado, com seu amado celular,
E o fone de ouvido, pendurado de um só lado.

O que posso fazer aqui?
Não tenho celular.
Nem coragem pra' puxar papo.
Ele também não parece estar muito a fim.

Está concentrado em seu celular.
Olhos fixados.
Nem deve ter notado minha presença.

Eu deveria puxar assunto.
Mas não consigo parar de pensar na saia justa de hoje mais cedo.
Ele deve não estar mais disposto a ser meu amigo.

Mas a culpa também não é minha.
Ele também podia ter quebrado o gelo.
De qualquer forma eu vou ter que ficar aqui com ele por meia hora.

Vou ficar aqui parado.
Pode ser que ele fale comigo em alguma hora.
Não!
Ele não parece muito interessado.

Vou quebrar o gelo de forma simples,
Perguntando que horas são.
Não!
Nem isso consigo!
Estou muito envergonhado.

Estamos a menos de um metro de distância,
Mas nem consigo ouvir a música que toca em seus fones.
Devem estar muito baixa.

E seu eu fizer algo para chamar sua atenção?
Acho que o suporte para toalha está solto.
Se eu fingir que quebrei e derrubá-lo no chão?
Talvez ele comece a rir.

Levanto-me.
Vou ao suporte fingir secar as mãos.
Eu o puxo e ele cai com toda a força.
Mas...
Ué!?
Ele nem se mexeu!
O barulho não foi forte o suficiente???

Droga!
Não deu certo!
Só queria saber o que ele está fazendo.
Tão fixado em seu celular.
Digitando coisas sem parar.
Vai ver está falando com seus amigos.
Nem sabe que estou aqui.

De repente ouço:

– Já pode pisar no chão, querido!

Era a tia.
Bem, a prisão acabou.
Vou voltar para a festa,
E fingir que nada ocorreu.

O outro cara

Retiro meu fone
E o observo sair.
Que pena!
Esperava que ele toma-se uma atitude.
Ele nem notou que meu celular estava descarregado e eu só fingir mexer.
Me segurei para não rir quando ele derrubou o suporte no chão!
Enfim,
Acho que minhas chances de fazer amizade com ele já eram!

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Obrigado por lerem até aqui!
Até mais!

Crônicas da ProcrastinaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora