Prólogo

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– E AÍ, VOCÊ QUER SE CASAR?

Estou tão envolvida com o que deu errado no meu encontro de hoje à noite que mal escuto o que Natasha está dizendo. E isso é dizer muito, porque normalmente ela tem toda a minha atenção, não importa o que aconteça. Acho que o jantar desta noite com a sr. Cara de Cu foi demais para mim. Ou seja, que tipo de pessoa cutuca o nariz na sua frente em um encontro?

– Carol! – ela me chama no seu leve sotaque russo, e por fim desvio os olhos das bolhas da minha cerveja para olhá-la. Às vezes ela me faz pensar por que me dou ao trabalho de olhar para qualquer outra pessoa, de tão linda que ela é.

Ela também é minha melhor amiga. E estou absolutamente certa de que ela acabou de me pedir em casamento.

– O quê? – pergunto, tentando me assegurar de que não me enganei.

Ela sorri para mim. Preferia que não sorrisse. Às vezes, o sorriso dela rouba o ar dos meus pulmões. Não é exagero. É confuso, violento e abrupto, e preferia que isso não acontecesse porque, porra, gosto de respirar.

– Perguntei se você quer se casar – ela repete, e percebo que talvez tenha ocorrido uma conversa de extrema importância sem que eu soubesse. Também, Natasha... casamento... Essas coisas não combinam.

– Hã – digo, desejando não sentir o calor subindo pro meu rosto. – Me casar? Com você?

Ela dá de ombros e toma um gole da cerveja do seu jeito descontraído. O bar está muito quieto a esta hora da noite, exceto pela música, a agressiva “King for a Day” do Faith No More, que Pepper sempre toca quando quer que as pessoas vão embora.

Pepper Potts, a dona de The Burgundy Lion, minha ex-namorada e melhor amiga de Natasha, está dando uma geral, limpando as mesas e lançando olhares irritados para o grupo de quatro pessoas que está no canto, as únicas outras almas que sobraram no bar a dez minutos do fechamento.

– É, comigo – Natasha diz por fim em tom casual, como se estivéssemos resolvendo que filmes ver no final de semana. – Mas também estou dizendo em geral. 

Olho para ela por alguns segundos. Como sempre, parece autoconfiante,passando os dedos em seu cabelo, enquanto me encara de volta. Natasha e eu somos próximas, tão próximas quanto se pode ser entre duas mulheres. Nunca discutimos tópicos como esses. Nossas vidas amorosas de merda, sim. Mas casamento e futuro, o que de fato queremos da vida? Não.

– Vamos esclarecer as coisas – digo, mas não consigo encontrar as palavras para continuar. Respiro fundo. – Você está me pedindo em casamento?

Ela suspira e se encosta na cadeira, um braço forte pendendo por cima do encosto, os dedos brincando com as pontas do meu cabelo loiro.

– Baby Blue – ela diz, seu apelido pessoal pra mim, originário do fato de que, quando nos conhecemos, eu tinha o cabelo azul, da cor das águas caribenhas. – Conte-me de novo sobre o seu encontro.

Lanço-lhe um olhar prolongado.

– Prefiro não, Nat. – Meu apelido para ela, uma coisa simples, mas com grande significado, juro.

– Tudo bem. E eu prefiro nem discutir o porquê de meus cinco últimos encontros terem terminado comigo me masturbando no chuveiro.

Por faaaaaavor não me faça pensar em você se masturbando no chuveiro, penso, ou as coisas vão ficar impróprias muito rápido. Pelo menos na minha cabeça. Mas, também, minha cabeça é sempre imprópria. Lá dentro, o tempo todo é como uma página Pinterest com mulheres tesudas seminus.

Se nada der certo até os 30, você se casa comigo? - RomadanversOnde histórias criam vida. Descubra agora