.only one.

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|para um péssimo motorista,
um péssimo cliente.|

Eram exatas cinco e vinte da manhã quando meu celular notificou em alto e bom som que eu havia sido solicitado para mais uma corrida. Não fazia nem quatro horas que eu tinha estacionado meu velho Uno vermelho no posto de gasolina para tirar um cochilo.

Trabalhei que nem um condenado a madrugada inteira apenas para não ser dispejado do meu apartamento minúsculo porém meu atual - e único - teto.

Toda essa bagunça começou quando fui demitido da sorveteria em que trabalhava apenas por ter me negado a dar mais amostras de sorvete para um menininho mimado e muito esperto, que para meu azar era filho do patrão.

Desde então não havia conseguido outro emprego e vivia de bicos, mas é como dizem; nem só de bicos viverá o homem. Bem, nem sei se o ditado é realmente assim, mas isso não importa.

As contas começaram a atrasar e entre elas meu aluguel também, até tentei recorrer a meu irmão Christopher, mas acho que até em estar na sarjeta nós eramos parecidos. Porque o jovem gafanhoto estava com o nome no Serasa de tantas contas de cartão atrasadas.

O jeito foi improvisar mesmo. Tive que fazer valer minha carteira de motorista - já que nunca gostei de dirigir e, bem, nunca fui um dos melhores motorista, tanto que a idéia de trabalhar no ifood com a moto do Chris foi a primeira a ser descartada - trabalhando como Uber. Já que morar com meu irmão e o namorando marrento dele não era nem de se cogitar. O cara é osso duro de roer.

Mas voltando aqui, assim que cheguei ao destino - que descobri ser um bairro de classe alta - pude ver um mini Mr. músculo; já que as mangas de sua blusa só faltavam estourar, esperando encostado num poste de luz mexendo em seu celular. Confesso que assim que ele direcionou seu olhar a mim a única coisa que eu senti estourar foi meu fraco coração.

E talvez os vidros do banco traseiro também, porque a força que ele usou pra fechar a porta do pobre coitado do meu carro de 2012, eu jurei que a porta fosse soltar em sua mão.

O que não aconteceu graças ao pai, porque dinheiro pra conserto era a última coisa que eu tinha.

- Bom dia senhor, deseja uma água, uma bala ou até mesmo uma-

- Desejo que você siga logo a viagem porque eu estou com um pouco de pressa. - Falou sem ao menos dizer um bom dia, eu tentando ser o mais educado possível e ele nessa grosseria toda, ganhar a vida tá cada vez mais difícil, af. - Vou para a Jyp Games.

Pera. Ele disse Jyp? Meu pai, por essa eu não esperava.

- O senhor trabalha na Jyp mesmo? - Perguntei animadasso ligando o carro, sempre fui fã dos games, até colecionava alguns de seus consolers.

Coloquei no gps e logo apareceu a localização, mesmo já tendo conhecimento de onde ficava só para não ter o azar de me perde, afinal um gamer de primeira como eu reconheceria uma das maiores empresas de games da Coreia.

- Sou um dos designer de games.
- Respondeu orgulho, desabotoando os dois primeiros botões da camisa social branca. Ficou quente derrepente, né? rs.- Tem alguma garrafinha de água ai?

- Claro, aceita uma balinha também?

Ele nem ao menos me respondeu, só esperou o primeiro farol vermelho, abriu a garrafinha e bebeu toda de uma vez. Me senti tão hipnotizado que nem percebi quando o farol abriu, apenas quando Changbin começou a me xingar e cutucar do banco de trás.

Que aliás só descobri seu nome por causa do user do aplicativo, meus clientes de antes costumavam ser bem mais legais. Mas a quem eu quero enganar, são seis da manhã de uma segunda feira Felix, quem fica de bom humor a essa hora?

Pelo que o gps havia calculado, nossa viagem levaria bons 45 minutos, e cai aqui entre nós, não sei se quero mais levar ele não. Mas a falta de dinheiro leva o ser humano ao extremos não é mesmo.

Será que é tarde pra desistir dessa corrida? Sério, acho que prefiro ser feito de escravo pelo namorado do meu irmão do que aguentar mais 30 minutos pegando um trânsito desgraçado junto com outro desgraçado.

Acreditem ou não, o que faltava de altura faltava de humor também, mas em compensação tinha o dobro em beleza. Dava até pra pegar carona num carro de veterinário de tão cavalo que o cara era. O cara era uma máquina de patadas? sim, mas era uma máquina bonita.

- Esse carro não funciona ar condicionado não?
- Puta que me pariu, eu não aguentava mais ouvir ele reclamar. Eu estava com tanta raiva que coloquei o ar no máximo. Tomara que vire um pinguim.

- Melhor, senhor? - Perguntei com meu melhor tom de filha da puta possível, mas antes que ele me respondesse outro desgraçado buzinou como se eu tivesse culpa do trânsito estar um caos e andasse a menos de 10km por hora.

Me preparei em plenos pulmões um belo xingamento e abri a janela ao meu lado, porém antes que eu colocasse toda minha raiva pra fora Changbin abriu sua janela e colocou sua cabeça para fora.

- Paro com a palhaçada seu filha da puta arrombado, eu não tô parado aqui porque eu quero não caralho, a porra do trânsito que não anda, vai businar assim no cu do diabo, seu desgraçado! Se fude. - Eu nunca ouvi alguém falar tanto palavrão em uma mesma frase, olha, acho que ele tinha descarregado a minha raiva e a dele naquela hora. - Esse povo achando que pode descontar os problemas no ouvido dos outros.

- Pois é, né? - Queria que ele pegasse a indireta, mas ele nem deu ouvidos, só digitou algo rápido no celular e desligou a tela e começou a puxar assunto. Sim, ele. Puxou. Assunto.

- Mas e ai cara, trabalha a muito tempo com Uber?

Acreditem se quiser, ele conversou comigo o resto da viagem inteira, a própria matraca. Ele precisava mesmo soltar toda aquela raiva dentro dele. E acreditem mais ainda, além de bonito ele era engraçado.

- Deu 65,00. - Disse assim que parei o carro na frente da jyp. - Tenha um bom dia de trabalho cara.

- Aqui. Fica com o troco. Pra você também. - Sim amigos, ganhei dez conto de troco. E um bom papo, já estava sentindo falta dele.

- Puts, valeu. Já tenho meu almoço pago. - Disse brincalhão mesmo que em partes fosse verdade. Ele deu uma risadinha e desceu do carro, mas antes de sair ele apoiou os braços, e que braços, sobre o vidro aberto.

- A propósito, meu motorista pediu demissão essa semana e já que você tá vivendo de bicos, o que acha de trabalhar lá em casa como motorista partircular?

E assim meus amigos, eu descolei um emprego, quitei as dívidas e ainda ganhei um namorado gostoso pra caralho porém chato demais quando acorda cedo.

plot by: 09district

uber, changlix.Onde histórias criam vida. Descubra agora