2. O par perfeito

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"As coincidências às vezes são soluções que a vida encontra pra mudar o rumo da história."

Miguel Falabella

As portas da sala de reuniões se abriram sem esforço e Maite deu de cara com a mesa de vidro escuro rodeada por homens, cujos cabelos variavam em tons de grisalho. Além dela, havia apenas outra mulher mais velha, de óculos, que estava abobalhada com papéis.

Tinha chegado o grande dia da apresentação. Tratava-se do anteprojeto para o Hotel San Andreas, uma parceria da Mitchell com Stefano Giordano, que expandia sua rede pelo país.

William deu início aos trabalhos. Ele tinha esse dom de cativar; talvez por isso fosse um dos nomes mais fortes da firma. Estava no sangue. William era o filho mais velho do Senador Jonathan Levy, que também era um dos maiores engenheiros civis da região. Contudo, ele preferia estar envolvido com a parte estética da coisa toda. Gostava de transformar uma ideia em algo tão real e grandioso que permaneceria por várias gerações, como o Coliseu e o Parthenon. Era capaz de fazer qualquer um se apaixonar por qualquer coisa.

Ele era luz. Era o que mais encantava aos outros.

Ademais, William dava suporte à Maite. Ela sugeriu uma nova iluminação com claraboias enquanto que ele sustentou o argumento sobre os custos que seriam cortados, com maior uso da luz natural. Era notável como trabalhavam bem em conjunto – e que passavam bastante tempo na companhia um do outro.

Ele a cuidava com os olhos. Sabia bem quando ela estava nervosa; a garota não parava de morder o canto interno da boca depois de responder uma ou outra questão do cliente. Ele adorava essa mania.

Respira, amor. Sereno, estalou os nós dos dedos da mão, exibindo um aro prateado na mão direita. Era muito similar ao que Maite trazia consigo, em meio aos seus outros anéis. Para quem tinha dúvidas, era só chegar mais perto: a mesma linha talhada não negava o compromisso. William tinha feito tantas vezes aquela cena, em tantas situações, que criou uma espécie de sexto sentido para negócios. O rapaz piscou breve para Maite, confiante; e ela pareceu sorrir de volta, com os nervos à flor da pele. Mas quando o italiano firmou o contrato, bem satisfeito e até ansioso, eles trocaram outro olhar cúmplice, agora de missão cumprida.

Anahí era uma das poucas pessoas que Maite era chegada e conversava de verdade. Era uma loira escultural, de pele bronzeada e olhos azuis claríssimos. Difícil passar despercebida – aliás, nem tentava. Suas roupas eram sempre alegres e chamativas, os acessórios e penduricalhos sempre presentes, seus cabelos quase nunca estavam presos. Anahí gostava de ser vista, de ser admirada... Era impossível não olhar para ela.

Na hora do almoço, Maite estava atolada em trabalho de cima a baixo, com o rosto enfiado no computador. Anahí trazia consigo bolsas de papelão, percebendo que a amiga não ia sair do escritório.

— Ah, você é um anjo, sabia?

Anahí sorriu, sentou-se na cadeira de frente à mesa e tirou o conteúdo: um copo de plástico com suco e outro de isopor com café, além de sanduíches e o que pareciam biscoitinhos salgados. Não era o mais saudável, mas era o mais prático.

– Eu sei, sweetie*. O céu 'tá garantido e a minha vaga no elenco também. – anunciou, animada.

— Pra aquela série policial? – Maite já não prestava atenção na tela. — Any, você passou?

— Any?? Quem? Eu me chamo Rachel, prazer. — Anahí concordou, fazendo um gesto como se apresentasse. Parecia ter estrelas nos olhos e Maite riu, compartilhando sua euforia.

— Mas isso é maravilhoso! Parabéns!

— 'Tô tremendo até agora, olha. – exibiu a mão e a sacudiu. – Vou ter que tomar calmante para dormir de tanta ansiedade! Quase tive um ataque quando minha agente comentou. Parece que vou acordar a qualquer minuto.

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