O Sol nascia mais uma vez, escondido por nuvens indicando mais um dia nublado e monótono. Nathan abriu os olhos e, antes de se levantar, pensou mais uma vez se havia sentido naquilo tudo que passou, se pôs a pensar em algo que pudesse fazer para realmente contribuir com aqueles que necessitariam muito de sua ajuda, ao invés de desperdiçar seu braço de ferro descarregando mercadorias de navios no porto que eram, em certos casos, ilegais. Por último relembrou do momento em que escapara do covil com seu assistente, e agora onde será que ele estaria? Combatendo o crime mais uma vez? Ainda usando a fantasia ridícula inteiramente remendada e ainda assim com buracos?
Nathan agora navegava em suas lembranças boas como um navio em alto-mar. Os momentos em que discutiu com Max se aquela seria sua última aventura como parceiros, em que conheceu diversas pessoas interessantes e por fim...
Neste momento Nathan olhou para o telefone em cima de seu criado-mudo, ainda não chamara como um dia foi prometido. Se levantou sem emoção, sem saber que mais tarde sorriria, e mesmo assim não havia motivo para falta de emoção pois era o dia de pagamento, e Nathan havia cobrido o turno de seu amigo Jack durante o mês inteiro no trabalho, portanto, iria ganhar o dobro de seu salário habitual.
Desceu para o primeiro andar de sua casa, preparou seu cereal e sentou no sofá, pois sempre comia enquanto via as notícias. Após ligar a televisão, notou que todas os programas locais passavam a mesma informação, estava ocorrendo uma manifestação em uma das ruas de Fellowtown, onde haviam duzentas pessoas nas ruas e aparentemente o líder do manifesto era um homem magro com calça laranja e comprida, sapatos azuis, um suéter azul-claro de manga comprida, uma luva azul-marinho na mão esquerda e laranja na direita e uma máscara do Mickey Mouse que fora cortada ao meio, possibilitando ver seu nariz comprido e sua boca. Ele sorria o tempo inteiro, ao ver seus discípulos vandalizando a rua, seja pichando lojas ou quebrando vidros. Ninguém estava conseguindo chegar muito perto do grupo sem ser reprimido violentamente, e por isso as reportagens não estavam conseguindo adquirir mais informações sobre o grupo de vândalos.
Nathan desligou a televisão, deixou o prato onde comera seu cereal no sofá e foi trabalhar, evitando passar nas ruas que reconheceu no jornal, eram a North Street e Av. Hebert, além de estarem se deslocando até a Rua do Comissário, perto de onde trabalhava. Com muito cuidado caminhava e notava certas pessoas indo no caminho oposto ao dele, em passos rápidos, fugindo dos vândalos. Ele então se apressou e, a cada rua que passava, olhava para se assegurar de que o manifesto não estava se espalhando.
Ao chegar no seu trabalho, no litoral, logo entrou no navio que estava parado e procurou o único amigo que tinha feito, Jack. Este, assim como Nathan, só estava lá porque não conseguira outra oportunidade e não se misturava com os outros colegas de trabalho pois eram todos envolvidos com tudo que não prestava. Jack havia ficado um mês sem trabalhar devido ao acidente que sofrera ao deixar cair uma caixa com peças de carros roubadas em sua perna.
- Jack, por que você está aqui uma hora dessas, seu horário era de duas da tarde às dez da noite?
- Bom, eu pedi para trocar de turno, já que é perigoso se locomover às dez da noite com uma perna engessada, sempre há casos no noticiário de crimes cometidos a essa hora com pessoas indefesas - antes de prosseguir, Jack pegou uma caixa ao seu lado antes que o chefe reclamasse que os dois estavam batendo papo ao invés de trabalhar. - Eu te entrego e você as leva para fora do navio porque vou demorar muito se levar com essa coisa - Jack inclinou a cabeça e olhou para sua perna, já que não podia apontar com as mãos segurando a caixa.
Nathan já havia tirado mais de vinte caixas quando seu chefe o mandou revisá-las.
- Não posso deixar Jack lá - retrucou Nathan. - Ele demoraria séculos para descarregar tudo naquelas condições.
- Eu não ligo, ele veio trabalhar porque quis. Agora, você sabe o que estamos descarregando?
- Garrafas de vinhos - respondeu Nathan com uma voz desanimada.
- Então revise se algumas se quebraram na viagem enquanto Jack trás o resto.
O chefe deles era extremamente ignorante e odiava ver a felicidade de seus funcionários, principalmente quando se tratava de Nathan e Jack, que nunca se envolviam em seus esquemas ilegais. Agora, falando de sua aparência, era careca, tinha um metro e sessenta, nariz absurdamente grande e olhos pequenos que ficavam ainda menores quando ele colocava seus óculos.
E assim foi o expediente dos dois, mas finalmente a hora de receber o pagamento havia chegado.
- Este valor está errado! Como ousa? fiz dois turnos, deveria ter ganhado dois mil e quatrocentos. - disse Nathan em um tom quase de um grito, enquanto começava a ficar vermelho.
- Eu perguntei se poderia cobrir Jack, mas nunca disse que haveria pagamento, hihihi. - o chefe deles agora estava se divertindo ao ver que enganou Nathan. - Houve um equívoco na sua interpretação.
- Eu tenho contas para pagar! VOCÊ NÃO PODE NEM TER UM POUCO DE EMPATIA - agora já estava igual a uma pimenta, sem falar que já estava gritando.
Jack se aproximou ao ouvir os gritos, e já sabendo que seu amigo agia muito mais pela emoção do que pela razão, se aproximou para tentar acalmá-lo:
- Nathan, se acalme antes que faça algo que se arrependa. Essa foi a melhor oportunidade que já tivemos...
- VOCÊ ESTÁ DEMITIDO, NATHAN! - gritou o chefe bem alto, tentando superar o tom de Nathan.
- Eu jamais voltaria a trabalhar aqui! - após isso Nathan ficou encarando seu chefe que estava com uma expressão de satisfeito, então pensou no que seu amigo havia lhe dito e tentou se acalmar, mesmo sendo tarde, já havia sido demitido.
De repente ouviu-se um "PRANK". O barulho vinha da sala onde o chefe ficava. Ele logo correu para verificar deixando Nathan plantado, engolindo o fato de que não tinha mais um emprego e mil e duzentos que teriam que durar por um tempo indeterminado. A sala do chefe tinha uma janela no beco, mesmo ficando alta, nada impedia alguém de entrar, dando assim uma chance a Nathan.
- NATHAN, INVADIRAM MEU ESCRITÓRIO, ROUBARAM MEU DINHEIRO E ALGUNS PERTENCES MEUS. - agora com tom de desespero, o chefe havia voltado espantado de sua sala, estava suando, nervoso e ainda tinha se ajoelhado para Nathan, o que ficava muito feio de ser visto considerando que o chefe já era pequeno. - PEGUE AQUELE CARA NATHAN E EU LHE DOU TRÊS MIL DÓLARES E O EMPREGO DE VOLTA.
Nathan olhou para a frente da loja e viu um borrão passando com rapidez. O chefe mal tinha acabado de brigar com Nathan e já estava implorando por socorro, e Nathan mal terminara de falar "Eu jamais voltaria a trabalhar aqui" e já estava perseguindo esse delinquente que ao olhar para trás, revelando estar usando uma máscara de um lobo, começou a correr desesperadamente enquanto Nathan só conseguia pensar no tanto de dinheiro que ganharia. Depois de segui-lo por pelo menos dois minutos, notou que se aproximava de um grupo enorme de pessoas, foi então que parou para pensar que ele usava uma máscara assim como o líder da manifestação e assim como a maioria do grupo. Ao notar, correu mais rápido ainda do que correra para alcançar o delinquente mas na direção oposta, tanto que passou de seu trabalho e nem percebeu.
Só parou quando chegou em casa, então, trancou sua porta e subiu as escadas em direção ao seu quarto. Foi ali que processou os acontecimentos e voltou a pensar, assim como fizera na manhã, navegando em suas memórias. Ele nem sequer olhou para trás enquanto corria, provavelmente nem o perseguiam. Olhou para a janela do seu quarto e notou que estava chovendo, e velejando no mar agitado de suas memórias lembrou que pouco antes de chegar em casa realmente estava chovendo. Agora, com sua expedição finalizada, lembrou-se de Jack, e se o grupo tivesse avançado até o porto e feito algo de ruim com ele? Se ele estivesse correndo bastante perigo? Será que Nathan, com seu braço de ferro, conseguiria defendê-lo se estivesse presente? Estava rodeado por pensamentos que apareciam em diversos lugares do teto enquanto estava deitado em sua cama, com vontade de nunca mais se levantar. Pensou também em sua reputação, há poucos meses enfrentou um chefão que realizava experimentos ilegais e agora estava fugindo de pessoas usando máscara infantil. Max com certeza zombaria dele se soubesse. Tudo que queria era que o telefone ao seu lado tocasse e enfim voltaria a ficar na companhia dos únicos amigos que tinha na vida: Abellard, Max, Lilian, Janne, Ben e Ellie.
PRIM, PRIM.
Não era possível, aquele telefone no criado-mudo à sua esquerda finalmente tocou, depois de meses trabalhando com um chefe ingrato, sendo zombado por seus colegas pelo motivo de não fazer parte de algum esquema corrupto e usando seu braço para coisas que não iriam contribuir para o bem de ninguém.
Ele se levantou da cama em um pulo, atendeu o telefone e logo disse desesperado:
- Oi, é o Nathan que está falando - estava com os dedos tremendo e um frio na barriga, porém ninguém o respondia, e os segundos demovaram minutos no ouvido de Nathan - Ben? Ellie?
E a chamada havia sido encerrada, porém ele já sabia exatamente o que devia fazer, ir para a sede da N-Tek para combater uma ameaça provavelmente bem maior do que a da última vez. Mas, antes de sair de casa, ligou os noticiários, pois a sede da N-Tek era em um duto de ventilação no banheiro masculino do metrô, e do jeito que a manifestação ia, talvez já tivessem chegado na praça do centro da cidade, onde ficava a estação.
Ao observar a previsão do tempo, totalmente inquieto e ansioso, que dizia que haveria chuva nos próximos três dias, finalmente disseram que diversas ruas já haviam sido vandalizadas e que agora eles estavam indo em direção à Praça da Estação, do lado onde ficava a saída do metrô.
Ainda existia esperança, Nathan só tinha que mais uma vez correr, só que dessa vez indo em direção à liberdade e finalmente tendo certeza que algo bom o esperava do outro lado. Desligou sua televisão, abriu a porta, passou, a trancou, botou sua chave no bolso e começou a correr, tomando um cuidado extremo com as calçadas e estradas escorregadias pois a chuva estava longe de acabar.
No caminho escorregou duas vezes, após isso diminuiu a velocidade para evitar que escorregasse de novo, o que lhe custava um pouco mais de tempo. Porém, finalmente chegou. Ao se aproximar da entrada notou alguns grupos perto da entrada e ao olhar para o outro lado da praça, onde ficava a saída, viu pelo menos quatrocentas pessoas indo lentamente na direção da entrada do metrô, mas estavam prestando atenção em seu líder, que ainda era um mistério. Mas, estava ali! Na sua frente! As escadas que levavam ao subterrâneo estavam mais próximas do que nunca, o empolgando, só que um grupo se aproximava dele enquanto estava a cinco metros da escada.
CRACK.
Nathan imediatamente beijou o chão molhado e rapidamente se virou de lado, olhando pedaços de madeira pelo chão. Uma cadeira de madeira foi quebrada em suas costas. Ao se levantar e observar o que havia lhe atingido, levou um soco. Levando a mão instintivamente ao nariz, observou que havia uma pessoa, provavelmente um adolescente, com uma máscara de palhaço que estava segurando um pedaço da perna da cadeira que havia se quebrado, e o pior, estava entre Nathan e a escada.
- Aonde vai? - Disse o adolescente, que deu para confirmar pela voz, ao mesmo tempo que apontava o pedaço de madeira em direção a Nathan.
Este não podia acreditar que a cinco metros da escada seria impedido, então, antes do adolescente o atacar, Nathan o atacou primeiro, com seu braço de ferro que garantiu que o jovem ficasse inconsciente com apenas um golpe, deixando cair o pedaço de madeira.
Mas antes que pudesse ao menos pensar, uma pessoa agarrou seu braço direito e outra o esquerdo, além de levar um soco nas costas e notar outra pessoa surgindo na sua frente. Depois de acabar com um, surgiram quatro. O da frente lhe dava chutes na barriga, o de trás, socos e joelhadas nas costas e os outros dois continuavam segurando firmemente seu braço. Foi depois de seu sangue começar a pingar no chão que jogou seu braço de ferro para frente, lançando a pessoa que estava segurando seu braço direito contra a que estava à sua frente, derrubando as duas. Agora, com o braço direito livre, socou quem estava à sua esquerda, quebrando sua máscara, e logo após quem estava atrás dele em um giro inesperado que provavelmente surpreendeu o vândalo.
Um dos caídos ao se levantar, logo partiu para cima de Nathan com um soco usando o braço direito, mas centímetros antes de atingir a cara dele, Nathan conseguiu defender o soco segurando a mão do que parecia ser um homem franzino, que usava a máscara do boneco Chucky, que se direcionou sua cabeça à sua mão, que estava sendo segurada e, mesmo usando uma máscara, era claro que tinha ficado surpreso com a defesa. Mal fixou os olhos de volta a Nathan e já estava no chão, se descuidara e fora nocauteado. O outro que havia caído estava encarando cada um dos manifestantes que foram nocauteados, todos deitados no chão sendo molhados por uma chuva que ficava cada vez mais forte. Ao olhar quem os nocauteou se levantou e correu, ao mesmo tempo que Nathan pegava o pedaço de madeira que caira junto com o primeiro deles a jogou com força no último, observando ele caindo de cara em uma poça de água.
Finalmente entrou na estação e correu para o banheiro masculino, onde encontrou um senhor de idade lavando suas mãos e o esperou sair. Então foi até o último box que ficava em baixo do duto de ventilação, subiu na privada que estava com a veneziana do duto ao seu lado, mostrando que alguém já havia entrado e a deixado ali, o que facilitou sua passagem. Lá dentro virou à esquerda, depois à direita, seguiu reto e finalmente à esquerda mais uma vez, onde deu de cara com uma senha para abrir a porta de saída do duto, e felizmente conhecia a senha: 032350. Então a portinha se abriu e ele se jogou no chão, logo após a porta imediatamente se fechou.
Nathan, que estava com suas roupas sujas de sangue e encharcadas, sorriu ao ver um sofá circular enorme à sua frente com todos os membros da N-Tek reunidos.
- Bem-vindo de volta, Nathan! - disse Ellie, a líder do grupo - Sei que foram cinco meses longos de muita espera, mas espero que tenha aproveitado esse tempo para praticar luta ou algo assim, porque essa missão nem se compara à primeira da nossa equipe!
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N-Tek
ActionN-Tek é uma equipe formada por pessoas normais e anormais que lutam contra perigos que a polícia não pode conter ou que a maioria das pessoas nem fazem ideia que existem.