Abellard e Janne não estavam conseguindo ver nada à sua frente e não queriam voltar pelo mesmo lugar de onde vieram porque levantariam suspeitas de quem estivesse no banheiro. Por esse motivo se deslocavam pelos dutos, e, há um bom tempo, já haviam se perdido. Janne estava na frente, encolhida, desconfortável e com as mãos nas laterais do duto, para notar uma dobra. Depois de diversas curvas, Abellard pediu para que tentassem ir em linha reta por um tempo, e assim fizeram. Janne pôs as mãos no chão e prosseguiu, inquieta por não conseguir enxergar. Notou suas mãos deslizando e um barulho de algo enferrujado, mas, antes que tivesse a oportunidade de pensar em algo, já estava em um trilho com Abellard e partes do duto que acabara de despencar. Haviam passado por uma parte desgastada e frágil, e agora se encontravam em um lugar subterrâneo e apenas um pouco mais iluminado sobre um trilho.
Janne já estava processando que não estavam em uma boa situação, enquanto Abellard tentava processar o acontecimento, interiormente aborrecido por ter a deixado guiá-lo. Quando notou, tinha ficado sem palavras. Logo olhou para o teto, vendo o duto que se partira deixando deixando duas aberturas, uma de frente para a outra, e olhou para a parte que deveria estar unindo as duas mas estava emtre ele e Janne.
— Temos que sair daqui logo, Abellard. Se apresse, antes que o metrô nos alcance — Preveniu Janne.
— Mas nem sabemos para qual direção ir!
Janne desesperada correu para um dos lados, seguida por Abellard. Os dois estiveram tão incomodados por se perderem nos dutos que agora era a única coisa que queriam. Afinal, nunca imaginariam estarem perdidos em um trilho.
Abellard olhou seu relógio, um relógio que roubara quando ainda vivia uma vida de crimes e que, agora, estava sem o visor e com as peças caindo e sendo deixadas para trás, abandonadas.
— Que horas?
— Não consegui ver. Quebrou na queda.
Havia sempre um metrô que passava na estação de vinte em vinte minutos. Mesmo se estivessem na direção certa, não teriam muito tempo. Também havia mais uma complicação, Abellard havia tomado a dianteira e sua parceira ficava cada vez mais ofegante, mesmo que ainda determinada a escapar do local. Ela mal verificava mentalmente quanto tempo estariam ali, simplesmente notou seu coração pulsar de uma forma fora do comum. Não conseguia mais ver Abellard, este já estava muito à frente.
Janne parou para recuperar o fôlego, embora não tivesse mais vontade de prosseguir. Ainda conseguia ouvir os passos ecoantes de seu parceiro, mas como o trilho se curvava, acompanhado pelas paredes, não conseguiu vê-lo, e, em seguida, seus passos estavam exclusivamente em sua memória. O único barulho que ouvia era de algo mecânico, mas contido, e, ao olhar para trás, notou que as paredes distantes já estavam sendo iluminadas. Então, ela voltou a correr, e desta vez como se fosse a última corrida de sua vida. Não teve coragem de se virar novamente, mas o barulho aumentava e, a esta altura, a luz já a alcançava.
Foi quando, finalmente, notou pessoas mascaradas e a estação, logo à frente de sua sombra projetada nos trilhos. Além disso, Abellard a esperava em uma escada de emergência feita para acidentes em que alguém caísse no trilho. Ela, apavorada pelo crescente barulho do metrô, começou a subir a escada, observando uma mão esticada no topo. Ao chegar próximo, esticou seu braço e a mão de Abellard a puxou, enquanto ela sentia um vento forte sendo produzido a centímetros do seu corpo. Por um triz escapara do metrô.
— Conseguimos! — disseram ao mesmo tempo.
— Que foi que conseguiram? — perguntou Nathan, que se encontrava atrás dos dois, observando a respiração ofegante deles.
Ao passarem por um grupo enorme de manifestantes, alguns que agrediam os passageiros do metrô, Janne e Abellard contaram tudo o que havia acontecido nos trilhos a Nathan, que começou a rir.
— Não teve graça! Quase morri! — gritou Janne.
— Hahaha! Por que não sairam pelo banheiro?
— Achei que iriamos levantar suspeitas. Pensariam: que é que estavam fazendo no duto? — Respondeu Abellard.
— HAHAHAHA — Nathan agora gargalhava — Gente, eu saí pelo banheiro, recoloquei a porta do duto no lugar e... HAHA... não tinha ninguém lá... HAHA.
— Te odeio, Nathan. — disse Janne, envergonhada.
— Ah, me lembrei — alertou Nathan — Ben e Lilian já saíram, é melhor nos apressarmos, estou com o microfone no bolso, só teremos que chegar perto do líder deles e colocar no bolso dele, ou algo assim.
Ao sairem da estação, notaram que havia manifestantes em volta deles, se espalhando por todas as direções. O céu estava nublado, o Sol estava quase se pondo. Manifestantes brigavam entre si, pichavam paredes, quebravam caixas de correio, furavam pneus de carros e se moviam desordenadamente, muitos deles esbarravam no trio, que logo notou o líder em cima de um carro, falando com poucos que permaneciam parados e atentos. O tal líder estava com as roupas encharcadas, uma máscara do Mickey, cortada para que pudessem ver sua boca e o sorriso genuíno nela. Era só se aproximarem.
— Vocês conseguem nos ouvir? — perguntou uma voz masculina vindo do aparelho.
— Sim, conseguimos, Ben. Eles já estão aqui. Estamos tentando nos aproximar. Aliás, você já chegou na delegacia?
— Coloquem logo isso perto dele, estou apenas aguardando o delegado me chamar. Eu avisei que tinha algo que garantiria a minha vaga, afinal, tivemos que fazer isso ou o número de arruaceiros só iria aumentar, Lilian me contou que ele está fingindo que nada está acontecendo, não está fazendo nada para impedi-los. Avise ao Abellard e à Janne que a demora deles poderia ter nos custado o êxito do plano.
Naquele momento, Nathan, Abellard e Janne discutiam quem se aproximaria para atrair a atenção do líder ao aparelho e como fariam isso.
Decidiram que o escolhido jogaria o aparelho em sua cara, despertando seu interesse no aparelho. Os que estavam ao redor do líder se enfureceriam com tal ato de desrespeito e procurariam o escolhido. Este teria que correr para evitar a fúria que causaria naqueles que circundavam o homem de vestes azuis e laranjas.
Os detalhes finais do plano foram interrompidos por um grupo que corria loucamente entre os demais, passando tão rápido pelo trio que mal notaram sua aproximação e, pelo visto, nem os demais notaram. Abellard, caído no chão, observou que o aparelho que antes estava nas mãos de Nathan agora estava sobre o asfalto desgastado da Rua da Estação, e que teria que resgatá-lo antes que uma das tantas pernas que atravessavam seu campo de visão o quebrasse. E foi difícil para ele se levantar. Cada vez mais pessoas corriam, esbarrando nele e dificultando seu equilíbrio, além de que não havia nemum sinal de seus companheiros entre a gritaria e a correria. Entre tais gritos, a maioria era de dor, quando, de repente, muitos pararam de correr e gritaram:
— BRIGA, BRIGA, BRIGA!
Era a chance que tinha, a maior parte dos arruaceiros estava reunida, incentivando uma briga como se estivessem no ensino fundamental. Ele correu atrás do objeto, e antes de alcançá-lo, reconheceu um dos gritos de dor que ainda não tinham se cessado. Sua trajetória mudou a partir dali. Sua companheira agora estava em perigo, e sua vida era mais importante do que a realização do plano.
Ele olhou para o lado oposto de onde o líder se encontrava, e viu pessoas mascaradas agarrando e gritando com Janne, e até batendo nela. A interrogavam perto do recém formado círculo de pessoas que observavam uma luta e a incentivavam. As pessoas se reuniram de tal forma que a visão já havia sido bloqueada antes mesmo de Abellard notar quem estavam se enfrentando. Mas descobrir isso não era a prioridade.
Logo chegou perto de Janne mandou as pessoas próximas dela pararem.
— A garotinha tem cara de ser infiltrada do jornal. Já capturamos muitos deles... já matamos muitos também. Ainda há a possibilidade dela ser infiltrada da polícia — disse um homem com voz grossa que não tirava os olhos de Janne, a observando com empolgação.
— Há também a possibilidade de ela não ser nenhum dos dois, ela veio comigo. Soltem-na!
O homem de voz grossa, ao ver que os próximos já iriam soltá-la, fez um sinal com a palma da mão aberta e indicou para que parassem.
— A garota é suspeita, assim como este! — o homem tirou uma faca encharcada de sangue, ainda não seco, de seu bolso e apontou para Abellard, que já estava muito próximo. Ao esticar a mão que segurava a faca, o sangue escorria por esta, passando por sua lâmina e caindo em uma das poças que a chuva deixara.
Neste momento, ainda não sabiam quem brigava chamando atenção, mas ouviu-se gritos dos que assistiam:
"Pelo grito e pelo berro
Mais um pra conta do de ferro"
O grito atraiu a atenção de mais manifestantes próximos, que correram excitados como se não houvesse ninguém entre eles o círculo de pessoas. Foi graças a isso que Janne agora se encontrava junto a Abellard, vendo aqueles que a seguravam no chão. Um grupo havia passado por eles, os derrubando, deixando Janne livre, olhando todos caídos com olhares furiosos e sendo pisados por um tumulto que caminhava em direção à luta.
O homem de voz grossa era empurrado por diversos outros homens, o afastando da dupla, que não via alternativa além de acompanhar a multidão, que estava Tão repleta de pessoas que era quase impossível caminhar. Abellard e Janne não tinham noção de onde se encontravam, para onde iriam ou onde estava Nathan, e, por um instante, o plano nem importava mais, apenas queriam sair daquele labirinto, irem para suas casas e dormirem, aproveitando o céu que agora estava roxo, com uma lua cheia brilhante que iluminava as nuvens próximas. Por outro lado, nada disso iria se realizar tão cedo na situação claustrofóbica e sufocante em que se encontravam.
De tantos empurrões e pessoas os espremendo, a máscara de Abellard caiu, ele não se importava tanto agora que não havia chance alguma de alguém lhe reconhecer, e seria um azar bem grande se a polícia aparecesse ali, naquele instante. Se lembrou então, das palavras que sua irmã falou para a televisão: "A polícia não virá! Essa é a resposta". No momento, ele até a desejava, sua mão segurava a de Janne, mas não conseguia vê-la. Suas mãos se soltaram, ouviu aplausos gritos de pessoas perguntando quem seria o próximo, foi quando lhe empurraram para dentro do círculo, onde se encontravam diversas pessoas imóveis no chão e, à sua frente, Nathan.
As roupas de Nathan, parcialmente rasgadas, continham ainda mais sangue do que quando ele entrou no esconderijo da N-Tek. Abellard estava confuso. Por que Nathan estava lutando com tantas pessoas? Por que havia lutado até se encontrar naquele estado lamentável?
Já Nathan estava cansado, com muita dor, ofegante e confuso. Ele pensava: "Será que ele já cumpriu a missão?". Afinal, se não a tivesse cumprido, seus esforços de lutar com os manifestantes mascarados para atrair a atenção dos próximos teria sido em vão.
— Vamos. Lutem!
Nathan e Abellard se moviam ao redor do interior do círculo, que minutos antes Abellard se encontrava do lado de fora. Os dois sabiam que tinham de fingir uma luta para não enraivecerem os expectadores, por isso estavam sempre um do lado oposto do outro, com pose de luta e uma feição forçada de raiva.
— Qual é! Avança logo nesse cara, ô braço de ferro. — a voz vinha de um homem negro, careca e gordo, que ao olhar atentamente para Abellard, o reconheceu e soltou um grito de espanto.
Ficariam nessa o dia todo, circulando, próximos à saída do metrô. Como gostariam que as pessoas se restirassem dali ao acharem a luta entediante, mas algo animou a luta antes que reclamassem: uma facada.
Abellard se ajoelhou com as mãos na barriga, lágrimas saltando de seus olhos. O homem de voz grossa deu uma risada, tinha reconhecido ele devido à jaqueta escrito NYC nas costas, e além disso havia pichações de na estampa. O homem não se importava de matar mais uma pessoa, levantou a faca, mirou na cabeça de Abellard, ouvindo gritos de espanto, os passos de Nathan vindo em sua direção e um barulho muito alto. A dor era tanta que ele nem conseguiu se manter de pé, largando a faca no chão e caindo perto dos corpos imóveis. Ele pôs uma de suas mãos no buraco que o tiro fizera, notou que as pessoas estavam correndo e fechou os olhos. Depois disso, não os abriu nunca mais.
Só restaram ali Nathan, Abellard e Janne, que ainda segurava a pistola apontando para o lugar onde o homem se encontrava, paralisada pelo ato que fizera, nem se tocando que um de seus amigos estava samgrando gravemente.
Ela olhou para uma das esquinas e viu o líder em cima de uma carro, chamando de covardes os que fugiam e ressaltando a coragem dos que ainda estavam o cercando, ouvindo atentamente o que ele tinha a dizer. Um dos que ouvia atentamente escorregou em algo pequeno que estava nos asfalto. Ao se levantar, pegou o aparelho responsável por sua queda e o observou.
— Que droga é essa?
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N-Tek
AksiN-Tek é uma equipe formada por pessoas normais e anormais que lutam contra perigos que a polícia não pode conter ou que a maioria das pessoas nem fazem ideia que existem.