Miíase

6 1 0
                                        


2/2/20

- Acorda, mãe! – chamou alto e sem resposta, a menina Graça, - Manhêeee! – ainda nada. Foi até o quarto de Anastácia e ela estava na cama, deitada.

Graça chamou da porta, nenhum som ou movimento, então foi até a cama. A mulher estava com a boca escancarada, a cabeça guinada para trás e levemente para a esquerda. Parecia faminta. A menina chegou perto e pegou no braço, chacoalhou sua mãe querida e ela abriu os olhos de leve, seu peito chiou.

- Vou fazer o café da manhã, então, 'ta?

Dentro da bocarra a língua tremeu de leve, Graça sorriu para Anastácia e estava tudo bem. Assoviando foi para a cozinha e fez um mingau de aveia, pois como mamãe estava doentinha, tinha tinha que comer mingauzinho ralinho. Preparou o ralo e o grosso para si, pois comeria o seu para incentivar a doente a melhorar logo!

Graça não aguentava mais comer mingau, porém, era ótima enfermeira! Como as das séries que assistia, no estilo Grey's anatomy e tal. Tudo pronto, foi servir a convalescente, ligou a televisão com o som baixinho, sabia que só tinha doze anos, e que algumas daquelas séries não eram adequadas para ela, mas sua mãe a tivera de proveta, era mãe mais velha que as outras mães e a deixava fazer o que quisesse.

Sentou à cama com os dois mingaus, esfriando a ambos,m despejou uma colherada pela goela de Anastácia, serviu a si mesma. E assim foi. Quando percebeu a adoecida tinha mingau até a boca e então ralhou:

-Mamãe! Engula tudo!

Passou a mão sob o pescoço e as costas de Anastácia e então glup glup. Seus olhos se reviraram em desespero fazendo com que a garota chiasse:

- Afff! Já terminamos, vamos assistir um pouco de televisão e vou te banhar, 'tá bom?

Anastácia apenas a olhava com a boca aberta. Dentro da boca havia um movimento complexo provindo de uma multiplicação de seres gelatinosos, e estes acabaram por se alvoroçarem com tantos movimentos realizados por Graça. Um deles encontrou a cavidade ocular e a luz que de lá provinha, precipitou-se e liricamente vestiu-se de lágrima. Ficou ali declamando movimentos sibilantes, porém, incapazes de seduzir a atenção da jovem.

Enquanto isto, ali por dentro outros destes pequenos seres tinham diferentes destinos, uma sentiu uma necessidade distinta de metamorfose e saiu dali voando. Outras criaturas como tais estavam em superfícies mais profundas e chegaram a se unir a Anastácia a um nível Lázaro, e lá promoveram reação para além:

- O que foi, mãe? – Graça sentiu o braço de Anastácia se mexer, havia tempos que não o fazia. E então apoiou sua mãe.

Anastácia, cadavérica e acinzentada, com sua bocarra aberta e lágrima no olho direito se colocou em pé, seca e pútrida, possuída pelas condições e Graça, emocionada a levou para o banho no chuveiro.

Obra perturbadora IIOnde histórias criam vida. Descubra agora