12/10/2016
A lua negra é um fenômeno comum, corriqueiro aos olhos dos humanos, ela ocorre sempre antes da lua nova. Por ser uma fase em que eu, a lua, não apareço, as pessoas tendem a não perceberem. Eu sou muito inconstante do ponto de vista que se relaciona aos outros astros no sistema solar. Tenho os ciclos mais comuns, conhecidos pelos humanos como nova, crescente e minguante.
Sabe, essa minha inconstância afeta de maneira incontestável a vida na Terra, o que os ajuda a prever certas coisas como a maré, os ciclos femininos e até mesmo mentais, já que o povo pode viver no mundo da lua por lá, sabe? Quero dizer os aluados, os que enlouquecem.
Por isso tudo posso dizer que me divirto muito com as lendas e mitos que criam sobre minhas mudanças e a que mais gosto, tanto que procuro usa-la para me divertir, é a Lua de sangue. Quando eu estou muito mais perto da Terra e estou entre o sol e a Terra incido uma luz tão vermelha que as mentes pequenas dos humanos ficam cheias de superstições.
É raro que eu esteja nessa condição, só quando estou muito entediada mesmo, e por isso, desde que me lembro e antes da humanidade, posso ver coisas mais detalhadas, como as nuances da sanidade. Divirto-me estrondosamente quando eu estou A Lua de sangue.
Em geral as crianças não podem ver a lua que sangra pela noite afora, porém Dayane estava à janela com insônia, após uma noite em que os pais brigaram e ele bateu na mãe, saiu de casa e elas ficaram sozinhas. O apartamento era no décimo terceiro andar e ela viu o carro do pai sair pela porta da garagem do condomínio. Ela já havia chorado muito, e sentou na janela para esperar o pai voltar, já que não dormiria. A lua apareceu no horizonte e ela era enorme, Dayane nunca a vira desse tamanho, distraiu-se olhando para a lua que avermelhava aos poucos, como se escorresse nela o sangue da sua dor. Para conseguir sentir melhor o que acontecia naquele lugar Dayane abriu a janela e subiu no parapeito, ela não era uma criança novinha, já com seus doze anos podia ficar ali sem rede de proteção, e... de repente a chance de se livrar daquilo tudo, com seu desejo de subir ao céu, foi incontrolável, Dayane se jogou pela janela, olhando para a lua até seu corpo se quebrar no chão de cimento.
O celular de Joyce tocou e era a Caroline, ela chamava a amiga para sair e ver a lua, e tinha algo para mostrar para ela, que ganhara do namorado. Joyce saiu sem que seus pais vissem, pois acham que ela estava dormindo, ela foi para a casa da Caroline correndo, pois sentia uns calafrios e tinha certeza de que estava sendo observada. A lua estava estranhamente vermelha, o que fazia acelerar seu coração. Quando chegou à casa da Carol, a amiga estava na garagem com o namorado, um rapaz mais velho, e um amigo deles, outro cara mais velho. A Carol podia namorar, mas a Joyce não. Mesmo assim sempre tinha uns amigos legais para conhecer com a Carol. Eles tinham uma coisa para beber, e era alcoólico. Todos estavam bebendo, quando ouviram sons estranhos na rua, e Joyce sentiu tanto medo de ser pega pelos pais que resolveu voltar para casa, mas estava muito tonta. Todos tentaram impedir que ela fosse, mas ela saiu correndo, e cambaleando, e se pegou olhando para a lua que estava bem a sua frente, enorme e inquisidora, culpando-a. Foi a sua primeira bebedeira, ela tinha só 13 anos. Em casa ela se dirigiu à gaveta que tinha no quarto dos pais, que estavam dormindo, lá pegou o revolver e foi para o quintal, falou para a lua "Você não devia falar assim comigo", "Eu sei que sou uma garota horrível", Joyce preparou a arma, "Realmente, não deveria continuar vivendo, mas eu quero...", Joyce voltou À casa da Carol e atirou nos três que estavam lá. "Agora eu não farei mais coisas erradas", disse à lua.
Cristiano estava brincando no quintal, pois acordara e os pais estavam dormindo, ele tinha sete anos, e era três horas da manhã não podia ligar a televisão, mas podia brincar com seus bonecos de ação. A Lua estava bem sobre ele, ele não conseguia brincar, sentia-se constrangido por aquele enorme satélite o observando. Para tentar se livrar daquela obscena observadora ele foi para a garagem, lá talvez ela não conseguisse vê-lo, e era verdade, mas as pessoas que passavam na rua podiam vê-lo... sei que era tarde, mas não havia só Cristiano com insônia, outros garotos estavam passando de bicicleta por ali, e ele ouviu as vozes, quando se aproximaram ele reconheceu seus amigos, e pegou a bicicleta, foi até eles e todos estavam muito estranhos, rindo muito e acelerados. Disseram que tinham visto uns corpos, e a polícia estava lá, queriam ver, mas também havia outro corpo, uma menina que se jogou do apartamento. Não sabiam onde ir, por isso resolveram ir no mais perto, ficaram de longe olhando, mas Cristiano estava encucado com a lua, que se dispunha sobre a casa de uma forma que não podiam esconder, as pessoas estavam por ali nos cantos, todas sussurrando, a família desolada, gritos e choros. Cristiano entrou na casa, ele não sabia por que fazia aquilo, mas ninguém o viu, e foi até os corpos, encontrou os corpos, aninhou-se no sangue que tinha no chão e ao lado do corpo do namorado da Carol, havia um buraco de tiro que sagrava escorrendo lentamente, e então Cristiano se pôs a beber aquele sangue, tinha gosto de ferro e pólvora. Os policiais estavam falando com a família na calçada, as pessoas não olhavam para a garagem, todos estavam olhando a lua, e a lua estava olhando para todos.
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Obra perturbadora II
Short StorySequencia da obra anterior, com mais contos de terror e suspense, agora com focos no mundo adulto relacionado ao da criança e do adolescente, trazendo referências e homenageando os clássicos, a autora trabalha com temáticas cruéis, assustadores e re...