O Outro Povo

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Esse é o primeiro capítulo de uma história longa, e sobre tudo injusta

Nascida em 1487, estava com 22 anos quando vi meu pai partir.
Morávamos em Ikeja, uma das cidades do estado de Lagos na Nigéria. Todos os dias eu saia para ajudar minha mãe, Amadi, a colher milho em nossas plantações. Fazíamos parte de um povoado grande, mas não tinhamos família em Lagos.
Papai pescava todos os dias junto à um grupo de homens da aldeia, e sempre ao sair pedia a bênção aos ancestrais. No começo eu não entendia muito, mas com o tempo, de tanto vê-lo rezar tournou-se algo indispensável para mim.
Minha irmã mais nova, Aína, sofria de uma doença que a fazia ser extremamente clara, de cabelos amarelos como o sol, e olhos azuis feito o céu do verão.
Muitas pessoas queriam mata-la pois a atribuiam à amuletos de sorte, entravam em nossa casa para tentar cortar seus dedos, braços, pernas etc. Mas papai sempre nos defendeu.
Minha irmã mais velha, Amylah era a minha inspiração, ela sempre ajudou em casa com as vendas dos tecidos e roupas que fazia em seu tear, tingia tecidos como ninguém, e era uma das mais bonitas moças em Lagos, Assim vivíamos todos os dias, de sol à sol.
Um dia enquanto olhava para a praia, vi coisas flutuantes aos montes, e logo corri para avisar papai, que reuniu todos os homens na praia, na beira do mar, e a medida que o vento soprava mais perto ficavam os grandes barcos, e de dentro deles emergiam rostos, mas eram rostos diferentes, pálidos, de olhos e cabelos claros e escorridos.
Atracaram. Desceram homens com roupas apertadas, pareciam dar ordem aos outros, agiam com violência, e falavam em tom de ameaça. De repente nos apontavam grandes canos de ferro. Nos retraímos. 
Ninguém entendia o que estava acontecendo. Corri para casa para contar a mamãe:
-Mamãe!- exclamei- Os grandes barcos! Os grandes barcos!
- Do que você está falando Areta? Que grandes barcos? Me explique devagar- dizia mamãe angustiada
-Homens, mamãe, muitos homens! Chegaram a pouco em grandes barcos, e nos ameaçam!
-Pegue Aína e corra para o milharal e fique lá!- me disse mamãe enquanto amarrava os vestidos e saía pela porta. E assim fiz, fui a esconder-me com Aína no milharal, que ja alto estava devido à estação.
Chegando à praia mamãe aconselhou os homens a se renderem, e assim fizeram. Então do meio deles emergiu um, de cabelos dourados e enrrolados com um livro na mão e dizia:
-Procuramos homens para a labuta! Não usaremos de violência, a menos que nos forcem à isso! Queremos trabalhadores!
A multidão amedrontada se encarava em silêncio, Mordu o lider se levantou e disse:
- Quem são?, E, de onde vem os que nos diregem palavra?
-Somos exploradores, e viemos da Europa! - exclamava o tradutor.
Nós nunca haviamos ouvido falar de tal lugar, o temor dava lugar à curiosidade.
- Eu- Eu- ropa?- se perguntava a multidão.
-Sim, de mares distantes viemos nós! Só queremos a colaboração de vocês, amigos.- disse o tradutor com um ar soberbo
- Amigos? Como nos chamam de amigos? Sequer nos fomos apresentados.-Disse Mordu
- Viemos em paz, e queremos ajuda!- disse o tradutor, sendo orientado por um dos homens de vestes arrochadas.
O chefe, relutante, concedeu a eles uma noite para que houvesse uma conversa.

E se instalaram nas margens da praia, e conversavam constantemente entre si, pelos cantos onde a luz do fogo não os atingia....

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