O começo: um gato

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Depois de passar uma noite inteira chorando, eu adormeci no banheiro mesmo, o que consequentemente me levou a acordar com uma maldita dor nas costas.

Desde aquele dia eu simplesmente não consegui mais entrar no banheiro sem chorar, e já era quase rotina adormecer por lá mesmo. O chão virou minha nova cama, e a minha cama apenas parou de ser usada, já que cada canto desse maldito apartamento me lembra ele, cada detalhe do meu dia, até uma folha caída no chão.

Pode ser que todo esse sofrimento seja um imenso exagero, mas tudo que vem de mim sempre foi exagerado, seja amor, seja tristeza, todas minhas emoções aumentadas e multiplicadas por 2.

Me apoiei no vaso e levantei, me olhei no espelho pequeno e sujo acima da pia, mais uma vez minha aparência estava horrível, mas pelo menos meu hálito poderia ficar bom, então escovei meus dentes.

7 dias, sete dias que eu estou usando o mesmo moletom que ele me deu de presente no nosso primeiro natal juntos. Eu achei que o tempo me ajudaria, que eu conheceria outra pessoa, pararia de me importar com ele e então eu finalmente superaria. Mas ao invés disso eu só estou regredindo cada vez mais, meu chefe me liga a todo momento, ou ligava até meu celular descarregar e eu não querer carregar ele, pensando que talvez ficar longe das redes sociais me ajudassem a não procurá-lo. Mas parece que ele quem me alimentava, aliás, tudo que tenho comido nesses dias volta para fora.

Fodido fisicamente, fodido mentalmente, prazer este sou eu.

Abri um pequeno espaço entre as cortinas da sala, e sentei de frente a elas. Estava sol e ventava, meu clima preferido, porém agora todos parecem iguais para mim. Com o sol batendo em meu rosto, seu cheiro inundando a casa e me deixando imerso em imaginação, o imaginei aqui comigo. Até meu estômago fazer um barulho insuportável, e alguém bater a minha porta.

Me levantei e caminhei até lá, abrindo para quem quer que fosse, e revelando minha condição deplorável.

— Jungkook. — Revirei os olhos e caminhei para de frente a janela, e me deitando no tapete, sentindo o sol esquentar meu rosto novamente. — O que aconteceu, Kook?

—Para de usar esse apelido por favor. — Rebati impaciente e de olhos fechados.

— Eu te liguei e mandei mensagens em todos os aplicativos possíveis. Onde você esteve esse tempo todo Kook? — Ele disse nervoso adentrando meu apartamento e se sentou no sofá.

— Eu estive em casa, omma. — Tentei debochar, mas fora mais uma tentativa pra minha coleção de fracasso.

— Se você me chamar assim de novo, eu arranco cada dente da sua boca.

— Arranca. -Dei de ombros.

— Eu sou mais velho, você me deve respeito! Me chame de Jin, ou melhor, hyung! — Ele disse e começou a resmungar sobre a porcaria que estava meu apartamento mas eu nem prestei atenção, apenas virei a cabeça e fiquei admirando o porta retrato que mais amava, essa foi a única foto nossa que ainda não tive coragem de jogar fora.

— Jungkook você está prestando atenção? — Jin ajoelhou ao meu lado. — Ah. Eu encontrei ele hoje no supermercado.

— Sério? — Virei meu rosto rapidamente para encara-lo e meus olhos se arregalaram. — Ele perguntou por mim? — Eu pude ver a
expressão de desapontamento em seu rosto.

— Olha Jeongguk, não me leve a mal mas... Yoongi já está com outra pessoa, e parece estar bem feliz. — Ele coçou a nuca, desconcertado, e desviou o olhar.

Ele está com outra pessoa. E está feliz. Ele está feliz, e sem mim.

De todas as lágrimas que escorreram dos meus olhos essa semana, e de todas as vezes que chorei, essa me foi a mais dolorosa. Foi como uma espada de dois gomos enfiados com muito brutalidade em meu peito. Na verdade, isso seria bom demais para o que eu estou sentindo agora. Yoongi está feliz sem mim, e eu estou chorando a semana inteira sem ele. Ele já tem outro alguém, e eu estou esperando ele voltar.

— É, eu trouxe comida. — Jin disse e se levantou, caminhando até a mesa, pegando dois sacos de papel e voltando a se sentar ao meu lado. — Vai, come aí.

— Não estou com fome, obrigado. — Me virei de costas a meu amigo, e fiquei olhando o retrato que ele me deu, chorando baixinho.

Ele foi embora da minha vida batendo a porta e nem sequer olhou para trás. E eu sou tão idiota que continuei com a porta aberta o esperando voltar.

Mas agora eu sei que ele tem alguém e que não vai voltar.

...

—Tem certeza que vai ficar bem? — Perguntou ele, antes de me dar um último abraço.

—Tenho, tenho, já pode ir hyung. — Respondi.

Jin passou o resto daquela tarde comigo, enquanto eu chorava na sala ele arrumava o meu quarto, depois deitei em minha cama e acordei com todo o apartamento limpo. Jin é realmente uma fada, embora ele não goste que a gente o chame assim. Depois nós jogamos videogames e eu obviamente ganhei todas as partidas, nós comemos Kimchi e pela primeira vez em sete dias eu distrai minha mente com algo que não fosse o quão dependente eu estava de uma paixão, e de um certo alguém.

— Ok, então eu já vou antes que o metro feche. — Jin disse mas ficou parado me olhando. — Mantenha tudo arrumado, deu trabalho. — Deu um beijo em minha testa e saiu andando.

Fechei a porta e suspirei, ouvindo apenas as buzinas lá fora e um miado de gato. Mas eu não um tenho gato.

Caminhei até a janela me debruçando sobre a mesma, observei por um instante e pude notar um gatinho pequeno parado lá, tremendo e miando alto. Abri a janela o pegando, ele parecia tenso.

— Calma bebê, você já tá seguro aqui, de onde você veio? Quem é seu dono? — Perguntei fazendo uma voz fina e tentando desgrudar suas garras afiadas de minha blusa. — Amanhã nós procuramos o seu dono, tá bom bebê?

Me levantei e deixei o gato no chão, mas como já deveria esperar ele me seguiu até o quarto, era um ato fofo, igual o mesmo. Sorri ao ver a cena dele andando, parecia um filhote ainda.

— Você tá com fome? — O peguei e ergui no ar, fazendo uma careta fofa, mas recebi um miado em resposta, e suas garras saírem para fora. — Oh, você não gosta de ser levantado no ar né, tudo bem, vamos apenas para a cozinha então. — O deixei no chão novamente e fui até a cozinha, sabendo que ele me acompanharia.

Peguei uma tigela pequena e coloquei um pouco de leite nela, coloquei ao lado da estante, em cima de um jornal.

— Gatos bebem leite né? — Perguntei o olhando mas ele só caminhou até a tigela e começou a tomar do líquido como se não houvesse amanhã. — Ok, você realmente estava com sede.

Me levantei, e caminhei até o quarto, pegando uma toalha limpa da qual supus que Jin havia lavado e deixado em meu armário, já que ele sempre teve esse instinto mais materno e cuidará de mim feito um bebê, após o falecimento de meus pais. Caminhei até o banheiro e respirei fundo, após adentrar tal cômodo respirei fundo novamente e tranquei a porta. É fácil tomar um banho sem chorar né?

Me despi e adentrei o box, liguei a água no gelado e deixei com que molhasse cada parte de meu corpo inclusive meus cabelos. Depois de quase 40 minutos eu finalmente desliguei o chuveiro e sai do banheiro. Encontrando o gatinho fofo deitado no tapete.

— Por enquanto parece que seremos só eu e você então.

365 dias com ele | jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora