III PARTE

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Lia abaixou seu corpo tentando esconder qualquer vestígio de que estava ali, mas àquela altura não seria mais possível. A silhueta que antes os assustava na janela agora se formava na varanda. Joana estreitou os olhos na tentativa de enxergar algo, mas estava muito escuro e, quanto mais forçava a vista, mais difícil ficava para definir qualquer imagem. 

— Consegue ver algo? — perguntou Joana.

— Não sei ao certo o que estou vendo — respondeu Rui, semicerrando os olhos.

Lia estava tão assustada que sua imaginação começou a lhe pregar peças.

— Eu não quero acreditar no que meus olhos veem — concluiu a responsável por tocar a campainha.

— E o que é? — Joana tremia tanto que ao perguntar para a amiga, pensou se gostaria realmente de ouvir a resposta.

— Não sei, Jô! Parece uma pessoa, mas ao mesmo tempo parece um esqueleto de pé — Rui olhou para a amiga e, naquele momento teve a certeza de que não tinha mais um coração no peito, mas sim uma batedeira. — Tô confusa — continuou, esfregando a cabeça. — Será que pode nos ver?! — Aquilo foi mais um questionamento do que uma pergunta.

O amigo tentou argumentar algo, mas Joana puxou sua camisa de uma forma tão brusca que jogou o menino no chão.

— Olhem! A coisa está entrando — alertou, apontando para a entrada da casa.

Quando a porta bateu forte e as luzes se apagaram, as crianças correram em direção as outras crianças. Carlinhos estava assustado, porém, tentou não transparecer.

— Muito bem, bobalhão! Mais algum desafio? — perguntou Lia, intimidando o menino. — Não tenho medo de nada, viu?! Fui lá e resolvi o problema — O garoto sardento e de cabelos ruivos olhava horrorizado para a menina. — Quem não é de nada agora, hein?!

Ele olhou mais uma vez para Lia e saiu correndo pela rua. As outras crianças com medo fizeram o mesmo. Era tarde e todas haviam passado da hora de voltar para suas casas.

— Você vai ficar bem? — perguntou Rui.

— É claro que vou! No final, a casa 81 é só mais uma casa como qualquer outra — afirmou, apontando para o lugar que há horas atrás causara lhe arrepios.

— Então está bem! Quando chegar em casa vou te ligar, ok?! — Lia acenou com a cabeça e Rui seguiu com Joana pela rua.

A garota olhou uma última vez para a casa, sorriu e, seguiu cantarolando pela rua. 

Quando entrou em casa, percebeu que sua mãe estava no banho e que seu pai ainda não havia chegado.

— Mããããeee, cheguei! — gritou, subindo para o quarto.

O quarto de Lia era espaçoso e bem decorado. A menina amava a cor rosa e tudo havia sido decorado com a cor, abajur, cortina, papel de parede. A única coisa que não era rosa, era sua colcha de cama que a mãe insistira em deixar creme.

Lia tirou os sapatos cheios de lama e a roupa suja jogando tudo no chão. Colocou um vestido amarelo com flores verdes e se jogou na linda poltrona de veludo. Ela adorava ficar ali lendo enquanto observava a floresta. Sua janela fora construída em frente há uma floresta densa e contrastava com um riacho de águas cristalinas. Enquanto acomodava-se na poltrona, seu celular começou a vibrar em cima da cama assustando Lia. Interrompendo a leitura, a menina deu um salto e correu para pegar o aparelho. Viu na tela que era o amigo e sorrindo atendeu:

— Fala, Rui!

O telefone estava mudo. Lia olhou novamente para a tela do celular e franziu a sobrancelha. 

— Oi Rui, pode falar! — Nada em resposta. Apenas silêncio. Ela caminhou até a porta fechando-a com cuidado. — Pode falar, estou no meu quarto.

A menina escutou ao fundo o que parecia ser uma respiração. E começou a se sentir desconfortável. Engoliu em seco e caminhou lentamente até a janela.

— Rui, pode parar eu sei que é vo… — O celular caiu das mãos da garota. Seu olhar fitava a escuridão do outro lado do riacho. Um brilho fraco iluminava a mata. Lia forçou a vista e não conseguiu abafar o grito. A sombra que havia visto na varanda estava ali, parada, a observando com o celular do amigo na mãos. 

Lia correu para chamar sua mãe e, quando entrou no banheiro viu que não havia ninguém. O vapor do chuveiro ligado enevoava todo o cômodo. Como se gritar a mãe fosse trazê-la para o lugar, ela gritou. E assim como no celular, apenas silêncio. Desligou o chuveiro e correu para o quarto dos pais empurrando a porta com força. Seus olhos percorreram toda extensão do cômodo bem decorado, mas o lugar também estava vazio.

Desesperada pegou o telefone em cima da cômoda e seguiu em direção as escadas. Desceu descontroladamente e prestes a abrir a porta, olhou pelo reflexo do espelho e percebeu que não estava mais sozinha. Lia gritou. O som agudo de sua voz ecoou por toda a casa, mas de nada adiantou. Ela estava sozinha. A sombra agora parecia mais próxima e, lentamente seguia em sua direção. Assustada, ela tentou mais uma vez girar a maçaneta da porta, mas seu nervosismo era tanto que acabou esbarrando no vaso de lírios brancos da mãe que ficavam no aparador próximo a saída. O belo vaso de cristal caiu no chão espatifando em vários pedaços, deixando uma poça de água abaixo dos pés descalços da menina. Ela ainda, como que em uma última chance, tentou correr para cozinha, mas quando deu o impulso, seus pés escorregaram e a garota bateu a cabeça no móvel desmaiando em seguida.

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⏰ Última atualização: Feb 07, 2020 ⏰

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O mistério da casa 81Onde histórias criam vida. Descubra agora