II PARTE

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Joana foi a primeira a parar. Suas pernas tremiam tanto que a menina precisou se apoiar em uma árvore velha que ficava no passeio da casa.

— Não precisa ir, Jô! — falou Lia.

— Mas eu quero ir, só estou pegando fôlego — conclui, ajeitando a bermuda jeans.

Carlinhos apenas sorriu e sem mais delongas falou:

— Precisamos ser rápidos, a Joana segura o portão enquanto eu e Lia entramos.

As meninas se entreolharam, um misto de pavor e medo passou pelo olhar de Lia. A garota sabia o risco que poderia correr se algo desse errado. Joana olhou para o meio da rua constatando que o causador daquele pânico ainda estava os observando. 

- Estou pronta! Seguiremos com o plano e quando acabarmos quero esfregar na cara daquele muleque atrevido!

Rui acenou com a cabeça concordando com que sua amiga acabara de falar e deram início ao desafio. Joana posicionou-se cuidadosamente ao lado do portão velho de madeira e com cuidado o empurrou para dentro, causando um ranger assombroso. Lia sentiu naquele momento um frio subindo pela espinha e uma insistente gota de suor desceu por sua testa. Estava calor, mas o que a menina sentia naquele momento era algo inexplicável. O garoto olhou para Joana que, em vão, tentou se desculpar erguendo os ombros e mostrando as mãos sem cor. Lia segurou firme a mão do amigo e juntos seguiram com o plano. Cuidadosamente, a menina passou os pés por algumas cabeças de bonecas que estavam no caminho, enquanto Rui pulava sobre carrinhos velhos e sem rodas. Eles não entediam o motivo de uma casa tão velha ter tantos brinquedos espalhados na entrada. Será que as crianças jogavam os brinquedos que não mais usavam ali? Ou será que aqueles brinquedos eram de crianças mortas? Os dois se entreolharam assustados como se um tivesse escutado o pensamento do outro.

- Chegamos! Seja rápida, ok!? – pediu Rui.

Lia acenou que sim com a cabeça e uma mecha de cabelo caiu sobre os olhos. O garoto ficou ao pé da escada observando a amiga que cuidadosamente subia cada degrau. Era possível sentir de longe todo o pavor da amiga. Os degraus rangiam e faziam um barulho assustador. Talvez aquilo fosse uma tática do que quer seja ou morasse ali para saber que alguém estava se aproximando da porta. Quando chegou à varanda, Lia olhou mais uma vez para os amigos que mantinham em seus semblantes o mesmo medo e pavor de antes. Esticou o pescoço em direção à rua e observou que Carlinhos e os outros ainda estavam lá, estáticos observando o próximo passo do plano.

A menina ajeitou a blusa e seguiu em direção à porta velha. Parou em frente à campainha que mais parecia um botão velho, levantou a mão direita e respirou fundo aproximando cautelosamente o dedo indicador ao objeto arredondado. Antes de concluir a ação, virou-se novamente para os amigos que estavam parados no mesmo lugar como se algo prendesse os seus pés ao chão e sussurrando falou:

- Vamos lá!

O dedo indicador tremia tanto que Lia pensou que seria necessário segurá-lo com a outra mão para tocar a campainha. Fechou os olhos como quem prefere não ver a besteira que estava prestes a fazer e tocou com delicadeza o maldito “botão”. Lia abriu o olho direito devagar enquanto escutava o som agudo da campainha ecoar por toda a casa. Permaneceu ali, parada por alguns segundos e fora Rui quem a puxara retirando-lhe do transe.

- Anda logo! 

Os dois saíram correndo, passaram pelo portão que Joana ainda segurava e esconderam-se atrás de alguns arbustos que cercavam o jardim da casa de Dona Aurora. Com os olhos atentos e o coração batendo em um ritmo desproporcional, seguraram a respiração quando a luz da única janela acendeu.

Rui tentou manter a coragem, mas suas pernas tremiam tanto, que ele não conseguia mostrar nada ao contrário que medo. Joana olhou para os amigos na esperança de que algum deles dissesse o que fazer, mas a única coisa que percebeu foi os seus rostos paralisados.

— Continuem abaixados — pediu Lia, quebrando o silêncio do trio.

Um vulto aproximou-se da janela e, de onde as crianças estavam era impossível identificar a silhueta que se formava na penumbra. Lia olhava com atenção, mas permanecia cautelosa com o que poderia acontecer. Eles sabiam que haviam quebrado a regra dos pais e, não seriam poupados do castigo. A rua permanecia silenciosa e ao longe ainda era possível ouvir os burburinhos das crianças. Rui olhou de esguelha e fez uma cara feia quando percebeu que Carlinhos encontrava-se atrás do muro da casa do Sr. Custódio, "A culpa é sua, muleque!", pensou, voltando sua atenção para a casa velha. A silhueta permanecia lá, estática. "Seria possível “A coisa” ver toda a extensão da rua, inclusive eles?", pensou Joana, olhando hipnotizada para a o único lugar aceso da casa.

— Acho que não vai adiantar de nada ficarmos aqui escondidos — falou Rui.

— Também acho — concordou Joana.

— Vamos levantar com cal… — Antes que o menino pudesse completar a frase, um estrondo os assustou e, quando olharam novamente para a casa sentiram o sangue se esvair do corpo...Não havia mais nenhuma sombra na janela e a única porta da casa estava aberta

O mistério da casa 81Onde histórias criam vida. Descubra agora