O capítulo do trabalho.

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Quarta-feira, dia 02/03/20XX
[07h30min]

Levantara cedo, mais uma vez, para entregar currículos pela cidade. Já me via sem saída, teria que ir além do centro, talvez até naqueles bairros de ricos (o que seria um sonho conseguir um emprego lá).

Saí porta afora e a chaveei. Me virei à esquerda e fui em direção ao elevador, que incrivelmente estava funcionando, de um dia para o outro. Apertei o botão e esperei pacientemente chegada dele.

Enquanto ele não vinha, eu brincava de puxar meus cachos, para eles irem e voltar, como se fossem uma mola. Parei de fazer isso quando ouvi o barulho auto do elevador vindo.

Ele chega e eu entro. Aperto o botão do térreo e o botão de fechar portas, e no time perfeito, de onde estava quase fechando, vejo um rapaz saindo de dentro de casa, com os passos apressados, vindo em direção do elevador.

— Pare, por favor! — O garoto pede, e eu boto a mão na pequena fresta ainda aberta, fazendo a porta voltar para trás automaticamente. Ele entra, suspira forte, se recompõe e limpa o suor de sua testa com o antebraço. — Muito obrigado. — Eu o encaro e afirmo com a cabeça com um sorriso, então me dou conta que era o moço de ontem que estava acompanhando Leigh. Ele se atravessa a minha frente e aperta em alguma coisa no painel.

Meus olhinhos curiosos passam por seu corpo todo, assistindo cada detalhezinho em suas roupas e visual. Ele parecia ter saído de algum livro de romance de época, por conta de suas vestes e postura de cavalheiro.

Por instinto, eu o cutuco, chamando a atenção do maior (que era realmente grande, fazia-me parecer uma bonequinha ao seu lado).

— É... você sabe alguma loja que esteja contratando? — Pergunto, na mera tentativa de puxar assunto com o vizinho. Quero conversar com todos eles que moram no mesmo andar que eu e já até sei como fazer isso. Encher o estômago de cada um deles.

— Oh, — ele me olha, com um pouco de inexpressão — sim. Tem uma loja aqui perto, do Leigh. Se chama Studio Fleur Blanche. — Sua voz era baixa e um pouco roca, fazendo meu estômago aflorar por conta de seu timbre. O rapaz volta a olhar para frente.

— Certo, obrigada. — Sorrio, me curvando para frente para que ele possa me ver. Suas bochechas atingem uma leve cor por conta da minha ação e eu rio levemente, fazendo-o desviar os olhos novamente. Oras, ele não é tão sério como eu estava pensando que era. E é beeeeeem bonito. Viraria fácil um dos meus personagens principais de algum livro meu. — Eu me chamo Enillie e você?

Olho os números do painel do elevador rapidamente, observando como ele demorava para descer. De fato, estava enferrujado e fazia seu trabalho muito vagarosamente.

— Sou Lysandre. — O platinado fala, fazendo-me observar seus lábios carnudos, bem desenhados e o formato como pronunciou seu nome em um francês bonito. Puxo meus lábios para dentro, para molhá-los e sorrio, mostrando todos os dentes. — Bem-vinda, nova vizinha.

— Obrigada, mais uma vez, senhor Lysandré. — Tento imitar seu sotaque e faço um sinalzinho de dois com as mãos. Ele olha para baixo e sorri de lado, depois volta para cima, com sua feição inexpressiva de novo. Yes, você é boa demais, Enillie!

A porta do elevador se abre e eu percebo que não era o térreo, e sim, o terceiro andar. Sem pensar muito, aperto para fechar o elevador, e ele faz. Coisas velhas enlouquecem muito fácil, não?

— E-ei... — Lysandre me chama e eu o olho. Ele me olhava sem jeito. — Eu ia descer aqui.

Arregalo os olhos e coro, vendo a cagada que eu fiz. Não, você não é tão boa assim, Enillie.

— Desculpa, eu não tinha percebido que você tinha apertado no botão. — Tento me absolver, e ele bota a mão no queixo, olhando para a frente.

— Tudo bem, quando ele descer ao térreo, eu boto para ele subir novamente. Não se culpe, coisas assim acontecem. — Suas orbes que eram uma diferente da outra, tendo uma íris dourada e a outra verde, se voltam para mim, com seu rosto contendo feições acolhedoras. Eu apenas escondo meu sorriso que queria escapar nessa hora, afirmando com a cabeça.

O elevador novamente se abre, mostrando o térreo e eu saio, um pouco envergonhada pela situação anterior. Céus como sou metida! Antes de seguir meu rumo, viro para Lysandre e aceno para ele, o qual estava apertando os botões dos painéis novamente.

— Te vejo depois. — Digo a ele antes que a porta se feche e Lysandre apenas meneia a cabeça levemente em um sim.

Depois de tanto procurar a loja que Lysandre havia falado, eu a encontro, de esquina, ao lado de um mercadinho. Os letreiros eram grandes e o lugar parecia ser bem... de rico. Sorrio pela felicidade e adentro o local, puxando a porta.

Soltando a porta atrás de mim, vejo cada detalhe do local. As paredes em cores quase neutras, sofás brancos, entradas para lugares, provadores, manequins com roupas sob medidas e um balcão com a caixa registradora e algumas joias de demonstração. Ouço uma garganta sendo limpada ao meu lado e eu me viro, para ver quem era.

Uma garota, um pouco maior que eu, cabelos absurdamente grandes e platinados, com olhos dourados, vestindo camiseta social da cor de seu cabelo e uma calça jeans azul clara, estava ali.

— Pois não? — Ela pergunta e eu me aproximo, sorrindo.

— Fiquei sabendo que precisavam de funcionária e vim entregar currículo. — Respondo, tirando uma folha de minha pastinha em que eu carregava. A maior pega da minha mão e me olha de cima a baixo, como se estivesse julgando as minhas roupas. Eu ignoro e espero ela olhar o papel.

— Escócia? — Seu tom desacreditado me pega desprevenida, apenas concordando com a cabeça. — Poderia... falar em gaélico?

— Sim. — Dou de ombros e começo a falar. — Is mise Enillie agus tha mi seachd-deug. Bu mhath leam a bhith ag obair an seo gus a bhith comasach air cuid de bhilean a phàigheadh.

— Entendi nada, mas achei legal. — Eu gargalho, fazendo-a sorrir e ela estende a mão para mim e eu a aperto por educação. — Sou Rosaya, namorada do dono e gerente. Se quiser, pode começar hoje, a partir das 13h. Você ganhará €10,00 a hora e terá vale transporte e vale refeição que só poderá ser usado no mercadinho ao lado. Seu trabalho não poderá exceder de nove horas diariamente e o mínimo de horas que você pode trabalhar é seis. Você é a primeira pessoa que vem entregar currículo aqui, mas já vamos contratá-la porque estamos necessitando de alguém que arrume os tecidos e as agulhas. — Rosalya vai falando e eu apenas vou concordando, guardando as informações. — Tem uniforme, amanhã eu entrego e por favor, sem falta, amanhã, traga sua carteira de trabalho para eu assiná-la.

— Certo, trarei. — Concordo com a cabeça e em um impulso de felicidade, eu a abraço, tirando-a do chão.

— Opa... — Rosalya dá um gritinho e eu rio mais ainda. Logo, eu a solto.

— Muito obrigada por essa chance, prometo não decepcionar! Posso iniciar agora! — Digo, dando saltinhos de felicidade. Rosalya começa a andar em direção a porta.

— Agora não vai dar, flor. Tá chegando a hora de almoço e eu tenho que ir para a escola... — A platinada para, virando-se para mim. — Você não vai?

— Ah, eu to esperando começar o novo bimestre para eu entrar. — Vou em direção a porta também.

— Então, se quiser, pode ficar pelos arredores. Leigh daqui a pouco chega e você poderá trabalhar com ele. — Ela diz e eu meneio a cabeça, concordando. — Pede para ele depois marcar no caderno de ponto a hora que você chegou. — Rosalya olha em seu relógio de pulso a hora. — 11h40min. Depois peça para ele marcar a hora que você irá sair. Ele já vai entender que você é empregada nova, que eu a escolhi. Enfim, vamos?

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