Eu nasci na cidade de São Paulo, morava com meus pais, Marta e Carlos, duas pessoas que eu admirava, e que eram muito diferentes, ela era loira, tinha olhos azuis, uma mulher decidida e um pouco mandona, já ele era um homem tranquilo de cabelos castanhos avermelhados e olhos escuros. Fisicamente eu era parecida com a minha mãe os mesmos olhos e o mesmo cabelo, mas eu era tão tranquila quanto o meu pai.
Meus irmãos nasceram quando eu tinha uns seis anos, o Caio e o Rodrigo eram a cara do meu Pai, mas eram tão cheios de energia como a minha mãe. Nessa época tivemos que mudar de casa, aquela ficara pequena com a chegada dos gêmeos. Nos mudamos para uma casa perto da antiga, mas bem maior.
Eu tive uma infância bem feliz e uma família muito unida, mas um dia quando tinha dezesseis anos as coisas começaram a mudar. Estava voltando da escola, que era a um quarteirão de casa, com meus irmãos, vimos que os carros, da minha mãe e do meu pai, estavam em casa então, só que nesse horário eles deveriam estar trabalhando.
- O que eles estão fazendo em casa agora? – perguntou o Caio.
- Não sei – respondi confusa.
Entramos em casa e vimos que meu pai estava sentado com o rosto enterrado nas mãos e minha mãe em pé encostada na pia com os olhos cheios de lágrimas, quando ela percebeu que estávamos lá, enxugou rapidamente os olhos e sorriu brevemente para tentar esconder a tristeza que ela estava sentindo, dentro de mim algo já começava a doer e eu nem sabia o que era.
- O que aconteceu? – perguntei com meus olhos já cheios de lágrimas.
Nesse momento meu pai percebeu que tínhamos chegado olhou para nós três pousando o rosto sobre cada um de nós, fez-se um longo silêncio que para mim pareceu uma hora inteira.
- Bianca, meninos sentem-se por favor, eu vou explicar – ele respirou fundo e continuou - Há dois dias eu recebi uma proposta de emprego na cidade em que eu vivi até meus 18 anos, lá eu seria o chefe do departamento de cardiologia, essa é uma chance única e eu jamais teria uma oportunidade assim.
Meu pai havia nascido e crescido em Salesópolis uma cidade no interior do estado de São Paulo, ele nunca havia falado muito de sua infância tudo que sabíamos é que aos dezoito anos ele tinha saído de casa.
Houve outro longo silêncio, aparentemente não havia nada de errado pelo contrário era uma ótima notícia, mas eu sabia onde estava a falha. Meu pai nunca gostou de cidade grande ele só tinha saído de sua cidade porque todo mundo falava que era mais fácil estudar e trabalhar nas cidades grandes, já minha mãe adorava tudo que tinha barulho e era cheio ela já tinha me falado que jamais se mudaria daqui.
- E qual é o problema? – perguntou Rodrigo.
Pelo visto só eu tinha entendido, meus pais pareciam não saber como responder. Os meninos ainda eram tão novos para entender. Minha mãe olhou para ele e disse:
- O problema é que eu não vou – Não tinha outro jeito de responder aquilo, ela baixou os olhos, e eu vi que eu tinha a razão.
- Então o que vai acontecer? – perguntou Caio que até agora estava paralisado ao lado do Rodrigo.
- Filho venha cá – meu pai fez sinal para meu irmão se aproximar, Caio andou devagar para meu pai que o segurou firme pelos dois braços olhou fixamente em seus olhos e o abraçou, o sentou em seu colo e continuou – Crianças eu e sua mãe resolvemos que eu vou e ela vai ficar, ela sabe que essa é uma chance única e eu respeito à opinião dela de não querer ir.
- E a gente? - perguntou Rodrigo.
- Nós também concordamos que já que cada um de nós decidiu o que queríamos vocês também têm esse direito.
Os olhos de Rodrigo se arregalaram e ele ficou vermelho de raiva e pânico dando um grito alto: - NÃO TEM COMO ESCOLHER UM – ele saiu correndo e chorando, depois de alguns segundos escutamos a porta do quarto bater.
Ninguém estava esperando essa reação, meu pai ameaçou levantar para ir atrás dele, mas eu levantei na frente.
- Pai deixa, eu vou.
Ele concordou com a cabeça eu peguei Caio pelo braço e nós caminhamos em direção ao quarto deles, eu sabia que se meu pai ou minha mãe fossem o Rodrigo ia ficar ainda mais nervoso e ele sempre fora muito apegado a mim, eu tinha certeza que eu e o Caio éramos as únicas pessoas ele queria ver no momento.
- Ro – disse quando me aproximei da porta – Ro, somos só eu e o Caio.
- Pode entrar – disse numa voz fraca.
Quando entramos, ele estava com a cabeça enterrada no travesseiro eu o puxei e o trouxe para perto de mim em um abraço apertado, Caio se juntou a nós.
- Vai ficar tudo bem – eu disse ainda abraçando os dois, mas nem eu tinha certeza disso – Nós vamos resolver tudo.
Ficamos ali por mais um tempo em silêncio, depois nos separamos e sentamos os três na cama, mais uns minutos se passaram.
- Meninos, não tem jeito vamos ter que escolher um – eu sabia que eu que teria que comandar a discussão, afinal eu era a mais velha e teria que ser a mais forte agora.
Os dois olharam para mim com uma expressão meio assustada.
- Como? – perguntou Caio indignado.
- Não sei, mas eu acho que o mais justo é que não deixemos nenhum dos dois sozinhos – eu sabia que eles tinham escolhidos seguir o que achavam que era certo e que se pudessem teriam evitado que nós entrássemos nisso, mas não tinha jeito nos fazíamos parte disso.
- Como assim? – perguntou Caio confuso.
- Vamos ter que nos separar – expliquei triste com minhas próprias palavras.
- Não! – disse Rodrigo furioso novamente.
- Ro não tem jeito, o papai vai embora e não podemos deixa-lo ir sozinho – falei tentando acalma-lo.
- Talvez você esteja certa – concordou Caio fazendo Rodrigo olhar feio para ele.
Depois de um silêncio Rodrigo falou: - Mas como vamos decidir?
- Eu sei que vocês não vão ficar longe um do outro, então podem falar com quem querem ficar e eu fico com o outro – eu disse.
Eles concordaram brevemente com a cabeça.
- Eu não quero ir embora – Caio foi o primeiro a falar.
- Nem eu – acrescentou Rodrigo.
Eu já estava imaginando que seria assim, eu me sacrificando indo para uma cidade no fim do mundo para proteger meus irmãos.
- Tudo bem então, eu vou com o papai – eu falei e depois acrescentei – é melhor descermos para falar o que decidimos.
Levantamos e descemos devagar para informar a decisão, quando entramos na cozinha mamãe e papai estavam do mesmo jeito de quando saímos, eles olharam brevemente para cada um de nós e depois se entre olharam.
- Nós conversamos e decidimos – eu comecei pensei em como falar e optei pela verdade – resolvemos que não queremos deixar nenhum dos dois sozinhos, então os meninos vão ficar aqui com a mamãe e eu vou com o papai.
Os dois arregalaram os olhos, surpresos com a nossa decisão.
- Vocês têm certeza? – perguntou meu pai
Nós três concordamos com a cabeça.
- Tudo bem – disse por fim minha mãe – se é assim que vocês querem, assim será – concluiu.
- Nós vamos depois de amanhã – disse meu pai.
- Tudo bem – foi tudo que eu consegui disser e depois eu só me lembro de ter corrido para abraçar minha mãe e falar baixinho: - Eu vou sentir sua falta.
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Com ou Sem você
RomanceBia morava com os pais e seus irmãos como uma família feliz, mas o destino fez com que eles se dividissem e agora Bia terá que se adaptar a uma nova casa, nova escola novos amigos, e sentimentos novos que ela ainda não conhecia.