O evento do ano

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Gizelly respirou aliviada ao entrar em casa, finalmente tirando os saltos dos pés. Ela estava exausta. A advogada havia passado a tarde toda no tribunal por conta de um caso complicado. Gizelly trabalhava em uma empresa especializada na defesa de crime contra a mulher. Naquela terça-feira, ela havia passado toda a tarde defendendo uma mulher que havia apanhado do marido. A capixaba sentia que havia tirado pelo menos vinte quilos dos ombros quando ouviu a juíza passar a sentença de prisão para o homem em questão.

Gizelly nasceu no Espirito Santo, mas se mudou para São Paulo com dezoito anos para fazer faculdade. Ela se apaixonou pela cidade e nunca pensou em voltar para o estado natal. São Paulo era uma loucura e não parava nunca, o que fez com que a capixaba se identificasse bastante. Agora, com vinte e oito anos e uma vida estabelecida na metrópole, voltar para o Espirito Santo não era uma possibilidade.

A advogada se ocupou em tomar um banho quente e lavar os cabelos para enfim se direcionar a cozinha. Cozinhar sempre fora algo que Gizelly amava fazer, era algo que a distraia e ela era realmente boa. A capixaba suspirou enquanto preparava seus brócolis com shoyu. Ela se sentia sozinha às vezes. Sua família estava há alguns bons quilômetros de distância, e seus amigos eram ótimos, mas tinham suas próprias vidas. Manu era praticamente casada com Igor, Bruna era extremamente ocupada com seu trabalho na editora e buscando seu sonho de ser atriz. Rafa trabalhava em uma revista de moda e estava sempre escrevendo algo. Daniel era festeiro demais para Gizelly conseguir acompanhar, ela tinha certeza que ele estava em alguma balada agora. Já ela e Guilherme haviam se afastado bastante desde que seus problemas de relacionamento apareceram. Guilherme morava com Prior, eles eram bem amigos e Gizelly cedeu Guilherme para o arquiteto, mesmo sabendo que não era dessa forma que as coisas funcionavam.

E ai tinha Prior. Gizelly estava um poço de confusão. Se o problema no relacionamento dos dois fosse apenas sexo, ela estaria muito feliz. Ela gostava de Felipe, realmente gostava. Ele evoluiu muito desde que começaram a namorar, aprendeu a ouvir um pouco mais e estava se descontruindo aos poucos. A criação de Felipe havia sido machista, com sua mãe fazendo tudo pra ele e ninguém nunca dizendo "não" para o garoto mimado. Então ela entendia que não era tudo completamente culpa dele, e a prova era que ele estava aberto a mudar. Mas às vezes Gizelly sentia que tinha um filho e não um namorado e era um pouco cansativo. Ela se sentia extremamente sozinha porque não tinha um companheiro em Felipe. Hoje seria um dia perfeito para chamar o homem para sua casa, e eles ficarem assistindo algo na Netflix depois de conversarem sobre seus dias de trabalho, mas Gizelly não sentia a mínima vontade. E ela tinha quase certeza que não era assim que um relacionamento deveria ser.

A verdade é que a capixaba nunca havia se apaixonado de verdade. Aquela paixão avassaladora que te tira de órbita. Gizelly havia namorado com dois homens antes de Felipe. O primeiro, Lucas Chumbo, era uma criança hiperativa com a qual Gizelly não tinha a mínima paciência e nem queria ter. O relacionamento durou três meses e ela terminou com ele. Já o segundo namorado foi Caon, um estudante de música da faculdade. Em oito meses, Gizelly não aguentava mais olhar para o homem. Ela se perguntava se o problema era com ela. Algumas pessoas apenas não servem para relacionamentos, e ela sabia que era uma dessas pessoas. Portanto, o melhor que podia fazer era tentar consertar o relacionamento com Felipe, uma vez que ele era o melhor que ela iria conseguir. Com isso em mente, Gizelly traçou seu plano para noite de terça:

1 - Jantar
2 - Fazer o exercício que Marcela receitou
3 - Assistir alguns episódios de How to Get Away With Murder porque afinal ela era humana

Gizelly suspirou quando se sentou em sua cama de casal com o notbook aberto. Ela não tinha o costume de se masturbar, ela apenas não conseguia se excitar sozinha. Provavelmente era por isso que ela estava tão frustrada sexualmente, uma vez que Prior não sabia o que fazer e ela não fazia sozinha.

Ela pensou em abrir algum vídeo pornô e a ideia rapidamente foi negada. Pornografia era completamente contra seus princípios como feminista. Gizelly bufou, fechando o notebook e o jogando do outro lado da cama. A morena se deitou na cama, se cobrindo com o edredom e ligando o ar condicionado nos vinte e dois graus.

A capixaba fechou os olhos, deixando suas mãos percorrer seu corpo. A mão esquerda se fechou em seu seio enquanto a direita continuava o caminho em direção ao seu centro. A advogada bufou, ela não sentia nada. Gizelly persistiu, deixando seus dedos tocarem seus grandes lábios em um primeiro momento e ela sorriu levemente quando um arrepio passou por seu corpo. A capixaba mentalizou a imagem de seu namorado sem camisa no mesmo instante em que seus dedos tocaram seu clitóris e bufou quando broxou completamente.

Ai estava a verdade que Gizelly estava tentando não enxergar.

Felipe Prior a broxava.

E aquele não era o melhor dos cenários para alguém que estava tentando consertar uma relação. Gizelly bufou, se sentando na cama e voltando a pegar o notebook e por pura curiosidade, seus dedos digitaram rapidamente "Marcela Mc Gowan" no google. O primeiro resultado foi do facebook e Gizelly não demorou em abrir o perfil da sexóloga.

Marcela tinha diversas postagens feministas em seu perfil, algumas fotos (muita bonitas por sinal), mas não eram muitas coisas. Gizelly ponderou. Ela havia gostado da loira, não tinha nenhum motivo pra não a adicionar no facebook, certo? Foi uma consulta, então era como se elas tivessem qualquer vinculo profissional. Bom, foda-se, ela não gostava de pensar muito sobre as coisas e rapidamente apertou o botão para enviar a solicitação de amizade.
Seu coração estava acelerado, ainda que não soubesse o porque. E Gizelly tomou um susto ao sentir o celular vibrar na cama, levando a mão ao peito e respirando fundo.

- Caralho. - xingou, fechando os olhos.

A mensagem que havia chegado era no grupo deles, "squadzinho".

Bruna: É isso amados, agora está oficialmente tudo certo. MEU ANIVERSÁRIO SÁBADO A NOITE.

Rafa: Você chamou muita gente?

Bruna: Só os conhecidos, os conhecidos dos conhecidos e o +1 de todos eles.

Daniel: E vamos de festa com mil pessoas.

Gizelly sorriu. As festas de aniversário de Bruna eram sempre o evento do ano. Ela mal podia esperar.

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