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Todos ficaram olhando para ela e a mesma abaixou a cabeça

Geovana: já que estão dispostos a saber coisas sobre mim vou começar contando do dia que parei no hospital por ter enchido a cara de comida...na quela época eu tinha 16 anos, estava no segundo ano do ensino médio e sofria com comentários horríveis. Todo sofrimento começava de manhã, minha vó, minha tia e minha mãe...as três sempre faziam comentários sobre meu corpo e cabelo, isso quando não falava da minha cor, isso mesmo eu ouvia que era gorda, que tinha o cabelo horrorivel, que precisava de um regime– então dou um suspiro– certo dia...eu estava lá na escola sentada, nesse dia minha amiga não tinha ido, então fiquei no canto sozinha comendo no intervalo até que um grupo de colegas de sala vinheram em mim e me cercaram e começaram a me xingar e falar coisas horríveis

Maicon: você não fez nada?

Geovana: não...eu apenas chorei, e ali eles viram que eu estava ficando afetada e começaram a me empurrar e jogaram chiclete no meu cabelo, quando fui pra sala eles me jogaram várias bolinhas de papel e teve uma garota que veio até minha mesa falar comigo e colou a folha nas minhas costas com uma frase

X: oque era?

Geovana: "me aperte, sou gorda"...sabe oque é várias pessoas tocarem no seu corpo sem a sua permissão e ainda te apertar de uma forma agressiva que até machuca? então é isso que aconteceu naquele dia, resultado...cheguei em casa e comi tudo oque tinha, fui ao mercado e comprei mais coisa e comi, eu comi tanto naquele dia que fui parar no hospital

Lembrar aquele dia pra mim não era nada fácil, mas eu ainda estava ali firme sem deixar uma gota de lágrima cair.

Geovana: fui internada, e a minha mãe disse "se não comesse tanto não estaria aqui, daqui a pouco tá é explodindo" sim foi isso– então dou uma leve risada– e foi daí a pior comigo sempre frequentando o hospital, o médico era oque ne consolava, quando completei meus 17 dois garotos viraram meus amigos e da minha amiga, e advinha? Os dois eram oque estavam naquele  dia na escola me zoando e por eles e e os outros eu parei no hospital.

J: e mesmo assim você virou amiga deles? Olha eu não conseguiria

Geovana: eu tinha a mesma opinião que você, só que eles mostram que mudaram. Um deles me ajudou bastante, sempre me defendia e estava comigo mas...eu me apaixonei por ele, sim isso era de se esperar. A gorda se apaixona pelo único cara que deu atenção a ela, mas só para vocês saberem não ficamos juntos ele foi embora por minha culpa, quando fui correr atrás dele ele já estava com outra e mudou de cidade

L: e você sente falta dele?

Geovana: antes sim...mas depois não... continuando eu morava com minha mãe, vó é tia né. Então o meu pai apareceu na minha vida...fui morar com ele e lá conheci minha outra vó e minhas duas... irmãs

Então me lembro da Samara

Geovana: lá eu era totalmente tratada de outro jeito, tudo era diferente eu era muito bem tratada, todos lá me amavam como eu era, o meu pai era rico então eu não precisei mais passar pela humilhação do ônibus, porque quem é gordo sabe o quão é difícil passar na roleta e ver as pessoas te olhando e comentando sobre você, lá na casa do meu pai eu comecei a ser mais feliz, consegui controlar minha raiva, eu estava tão alegre que eles acabaram com a minha felicidade...teve um dia que cheguei na escola e teve um grupinho que armou feio pra mim na hora do intervalo, me deram uma cesta e eu fui ver oque tinha dentro e de lá saiu vários bichos que pularam em mim e eu caí no chão...eu fiquei com tanto medo que sai correndo e quando estava indo para o banheiro escorreguei no chão com óleo e caíram penas sobre o meu corpo. Quando eu fui ver tinha várias pessoas rindo de mim, eu tentava levantar mas sempre caia, e quando consegui sair fui correndo pra casa do jeito que eu estava. Cheguei em casa tomei um banho e me cortei...eu me cortei tanto, eu não sentia dor mais, a única dor que eu sentia foi da humilhação que passei

Nisso vejo que tinha algumas pessoas com os olhos cheios de lágrimas quase chorando

Geovana: Eu só me lembro de depois eu acordar em uma cama de hospital e lá mesmo eu tirei todos os tubos e quase morri, e era isso que eu queria, eu queria era morrer. Mas depois que eu saí do hospital e fiquei um bom tempo em casa o meu pai conversou comigo, ele foi o meu psicológico durante todo esse tempo.

O: e oque aconteceu quando você voltou pra escola?

Geovana: voltei pra escola e foi de boa, mas não demorou muito pra eu ser sequestrada no dia que eu ia pra casa sozinha. Isso mesmo fui sequestrada, além de ter sido sequestrada fui estrupada, eles abusaram de mim e tocaram todo o meu corpo, e detalhe eu era virgem ainda, então pensa só como minha cabeça estava...mas graças a Deus consegui fugir e depois minha família soube eles ficaram procurando os culpados mas nunca achavam. Então briguei com minha amiga, meus amigos e troquei de escola, eu queria recomeçar mas teve um dia na excursão da escola, então juntou e eu fui do grupo dos meus antigos amigos. E nesse dia descobri quem foi, e quando cheguei em casa contei tudo pro meu pai do quando saímos do escritório os meus amigos já estavam com o culpado

W:e quem era?

Geovana: minha irmã– então todos começam a falar– ei! Eu não acabei...bom ela estava ali ela disse que não era para eles terem me estrupado, disseram que era só para me dar um susto e que tudo saiu do seu controle. Ela foi internada e os caras pressos

R: e sua mãe?

Geovana: minha mãe nessa fase estava diferente, estava me apoiando, depois que minha vó morreu ela mudou bastante, então depois disso tudo que eu passei chegou a minha formatura. E acredita que minha irmã fugiu da clínica e se matou na minha frente

Maicon: sério?

Geovana: sim, eu achei que ela iria me matar...ela apontou a arma pra mim e eu fechei os olhos e depois só escutei o barulho da arma, quando abri os olhos vi ela lá no chão... cheia de sangue e com a arma na mão mo-morta

Então eu choro por não estar aguentando lembrar aquilo tudo

Diretor: se quiser parar pode

Geovana: tá tudo bem– então limpo o rosto– me desculpem por isso, é que eu aguentei isso tudo sabe e por incrível que pareça não entrei em depressão graças ao meu pai que era psicólogo, sabe minha noite acabou ali, peguei o diploma e fui embora. Depois disso tudo que o guri que eu gostava foi embora por minha culpa

L: você foi guerreira Geovana

Geovana: obrigada– dou um sorriso– hoje estou aqui, tenho 20 anos trabalho no CRAS como psicóloga, estou noiva– então mostro a mão com o anel– se eu tivesse desistido mais ainda porque eu tive sim momentos de desistir, mas se eu tivesse tentado me matar de novo e conseguisse eu não estaria aqui. Eu não iria estava falando com vocês, bom então pensem bem antes de falarem, ouvir coisas machucam, não importa se é magra, gorda, branca, negra, ou o tipo do cabelo, tenham mais amor só próximo e cuidem da saúde mental de vocês, não deixem pessoas falarem que psicólogo é pra louco porque é para todos. Sei que cada um de vocês tem um probleminha em casa e com sigo mesmo, quem não tiver beleza então não traga mais problema para pessoa que já tem " mas Geovana como vou saber quem tem e quem não tem" não precisa saber... é só vocês terem o senso de não praticar o mal porque só quem sofre sente a real dor.

Então todos aplaudem e eu dou um longo suspiro

Geovana: agora vou dizer a última coisa e dispensar vocês– então todos dão risada comigo– você que estava com problemas em casa, ou com você mesmo por algum motivo que só você sabe, quero que você saiba que tudo vai ficar bem, mas só vai ficar se você fazer acontecer, por mais que você esteja nessa fase achando que tudo dá errado, que sua vida é um inferno, que ninguém te ama, que você não se ama, que sua família te deixe triste sabe pode ser qualquer coisa, por mais que você esteja nisso algum dia tudo vai ficar bem se você quiser, você que controla a sua vida, e a vida tem seus altos e baixos...como meu pai dizia "a vida é uma montanha russa"...bom e é isso

Todos aplaudem e quando fui ver já tinha muitas pessoas chorando e eu também, falar aquilo tudo foi como tirar um grande peso das minhas costas.
   Entrego as lembrancinhas e tiro foto com cada turma

peso não define amor 2Onde histórias criam vida. Descubra agora