Castigos de Deus.

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A turnê já chegava ao décimo país da agenda, era cansativo, mas também era gratificante ver milhões de pessoas cantando e compartilhando do mesmo sentimento que ele, quando estava em um palco.
-vamos entrar em cinco minutos – a produtora avisou e se retirou do camarim.
-tenta seguir todas as dicas, qualquer coisa eu vou te passar uma colinha – Namjoon entregou um papel a Yoongi, que sorriu e negou com a cabeça.
-Nam, eu já faço isso a nove anos, acho que sei me virar bem em uma entrevista – Yoongi levantou da cadeira e começou a seguir o caminho até o estúdio de gravação do programa.
-faz isso a nove anos, mais mesmo assim não se esforça em nada para aprender inglês – Yoongi revirou os olhos.
-não tenho tempo pra estudar inglês, Nam, tenho músicas para produzir, álbum novo, mv, entrevistas, e posso passar horas falando sobre outras coisas que tenho que fazer – Namjoon tocou o ombro de Yoongi, que virou sem entender a expressão triste do compositor e amigo.
-eu queria falar com você sobre isso...
-agora não, Nam, não preciso de sermão agora – Yoongi tirou a mão de Namjoon do ombro dele – eu estou cuidando da minha saúde, não se preocupe – Yoongi sorriu – agora eu tenho que entrar no estúdio, me deseja sorte.
Namjoon sorriu pequeno e viu Yoongi recebendo as palmas da prateia que o aclamava.
-boa sorte.
...
Hoseok dirigia rápido até a escola dos filhos. Havia recebido uma ligação da diretoria que solicitava a presença dele de imediato, por sorte os Pais de Jimin se ofereceram para cuidar da confeitaria.
Hoseok já saiu do carro preocupado, tanto que nem viu uma moto passar e quase foi atropelado. Nem deu pra reclamar, já que o errado era ele.
Hoseok suplicava baixinho para que nada tivesse acontecido com Taehyung, mas se surpreendeu quando uma coordenadora o informou que o problema havia sido com Jungkook.
-o quê houve? – Hoseok entrou na sala da diretora e já se ajoelhou na frente do filho, analisando o menino, que desviava o olhar toda hora – quem machucou ele? – Hoseok passou a mão na bochecha do filho, que estava arranhada.
-o seu filho quem machucou um colega de turma – a diretora falou seria.
Hoseok abriu a boca em surpresa, Jungkook não era violento, era esquentado como Yoongi, porém nunca passava  de     discussão.
-isso é verdade? – Hoseok perguntou ao filho.
Jungkook abaixou a cabeça e afirmou lentamente.
-o Jungkook quebrou o braço de um garoto que estuda com ele – Hoseok colocou a mão na boca, estava realmente chocado.
-ele mereceu! – Jungkook falou irritado, olhando para a diretora.
-Jungkook! – Hoseok desprendeu o filho.
-ele riu do Tae! – Jungkook gritou com a diretora – ele pegou o caderno de desenho do meu irmão e não quis devolver! – Jungkook estava com raiva, tanto que já chorava de ódio – O TAE CHOROU E O MENINO RIU! A TURMA TODA RIU! – Hoseok esfregou a mão no rosto, estava desorientado com tanta informação.
-VOCÊ DEVERIA TER CHAMADO A PROFESSORA! – a diretora gritou e apontou o dedo para o rosto do menino, que se encolheu, já que a mulher era bem maior que ele.
-Não grita com o meu filho! – Hoseok falou sério e pegou Jungkook no colo.
-a professora nunca faz nada, ninguém faz – Jungkook se agarrou no pai, chorando.
-Os seu filhos são assim por sua culpa! – a diretora acusou Hoseok – você passa a mão na cabeça deles, deixa eles fazerem o que querem pra compensar o fato de não terem um pai!
Hoseok ficou incrédulo com o que ouviu.
-eu não preciso de ninguém pra me ensinar a cuidar dos meus filhos, não precisei do pai deles e com certeza não preciso que você me ensine – Hoseok colocou Jungkook no chão, já que o menino de oito anos não era mais tão leve.
-Deveria escutar mais o conselho das pessoas, talvez assim aprendesse a criar seus filhos – a mulher olhou Hoseok de cima a baixo – mas o que esperar de você, né? Foi a vergonha da cidade, adolescente, gravido e pior, sem um pai para os filhos... – Hoseok segurou a mão de Jungkook e começou a sair da sala da diretora - ... Sabe porque os seus filhos são assim? – Hoseok parou na porta e olhou para diretora, que sorriu ladino – castigo – Hoseok se enfureceu e andou a passos pesados até a diretora.
-repete – ele falou de forma ameaçadora, mas a mulher não se abalou.
-seus filhos foram um castigo de Deus. um problemático que nem se quer deveria viver em sociedade – ele apontou para Jungkook – e um doido, que deveria estar internado em algum sanatório para doentes ment... – a mulher nem conseguiu terminar a frase.
Hoseok foi tirado a força de dentro da sala, os inspetores tiveram dificuldade em fazer o rapaz parar de bater na diretora, e mesmo que muitos ali também achassem que a mulher merecia faz tempo, eles não poderiam deixar Hoseok continuar.
Hoseok saiu a passos pesado, indo em direção ginásio da escola, buscar Taehyung que estava em horário de intervalo.
Hoseok andou limpou as lágrimas que caiam a medida que ele se aproximava do filho que estava sentado sozinho no chão enquanto desenhava com uma mão e na outra segurava uma maçã que já estava mordia.
Hoseok suspirou e forçou um sorriso, não queria que Taehyung percebesse que ele havia chorado.
-papai! – Taehyung sorriu e levantou, abraçando o pai.
Hoseok apertou o filho fortemente contra o peito e afundou o nariz nós cabelos pretinhos do menino, sentindo o cheirinho do filho.
-vim te buscar, vamos pegar suas coisas – Hoseok forçou o sorriso.
-mas hoje não é dia de médico – o menino falou confuso, já que apenas nos dias de tratamento no consultório, Hoseok ia o buscar cedo, já que nos outros dias os avós o buscavam no horário normal.
-não é, mas hoje o papai veio cedo...
-mas não é dia de médico – Taehyung interrompeu o pai.
-amor, hoje é um dia diferente – Hoseok acariciava as mãozinha do filho.
-eu não gosto de dias diferentes, eu gosto dos dias normais – era quase inaceitável para Taehyung, mudar a sua rotina.
Hoseok acariciou a bochecha do filho e deu um beijinho.
-dias diferentes também são legais – Taehyung tinha uma carinha chorosa – olha, lembra daquele dia em que fomos na pracinha tomar sorvete ao invés de ir pra casa? – Taehyung concordou com a cabeça – foi um dia diferente, mas foi legal, não foi? – ainda com o biquinho choroso, Taehyung concordou – o papai e a tia Jun – a psicóloga de Taehyung – já te explicamos que não tem nada de errado em mudar um pouco, nada de ruim vai acontecer, mudar é bom – Taehyung concordou com a cabeça.
-o kookie também vai? – Hoseok sorriu, estava bem mais fácil convencer Taehyung a aceitar mudanças – o kookie já está no carro, só te esperando – Hoseok se levantou do chão que estava ajoelhado e começou a catar o material de desenho de Taehyung.
-e o Jimin? Ele também vai? – Taehyung segurou a mão do pai e começou a caminhar até a sala para buscar o material.
-eu vou ligar para os pais dele.
Jimin era o único amigo de Taehyung, além de Jungkook. Ao contrário das outras crianças, Jimin entendia que Taehyung não era estranho ou doido como falavam, ele era apenas diferente da maioria das crianças, e para Jimin, essa diferença só fazia Taehyung ser mais especial.
O único problema era o fato de Jimin ser três anos mais velho, isso impedia que os meninos estudassem e brincassem juntos no intervalo já que Jimin estava bem mais avançado que os gêmeos, mas sempre que tinha uma chance, os meninos brincavam juntos.
A evolução de Taehyung foi algo rápido, o diagnóstico dele já havia passado de autismo moderado para o autismo leve.
Taehyung, como qualquer outra criança brincava, aprontava, fazia birra, porém haviam pequenas coisas que o tornavam diferente delas. Taehyung era metódico, tudo dele era minimamente calculado, ele tinha dificuldade em entender e expressar sentimentos, as vezes ria em momentos que não tinham graça, outras vezes ficava confuso quando as pessoas achavam graça de algo. Durante muitos anos, o menino não sabia dizer o que o incomodava, como em uma crise que o menino teve em uma noite de festa, onde os fogos e música alta o assustavam e irritavam e ele não sabia o que estava sentindo.
Foi uma das piores crises que Hoseok enfrentou com menino que na época estava com quatro anos, mas não foi a única.
Foram incontáveis vezes, mas agora aos oito anos, Taehyung já havia aprendido bastante, tapava os ouvidos quando tinha música alta, isso deixava Hoseok já em alerta, ele mesmo havia ensinado o filho a fazer isso, assim o som ficava mais baixo e Hoseok podia ajudar o menino antes que alguma crise se iniciasse.
Taehyung evoluiu muito com a ajuda do pai, e Hoseok também havia evoluído muito graças aos filhos. De um menino de dezesseis anos, assustado ao descobrir que seria pai, abandonado sozinho pelo namorado, Hoseok havia se tornado um homem, um pai responsável e amoroso que se dedicava totalmente aos filhos.
Hoseok e os meninos haviam sido o alicerce uns dos outros, isso sem a ajuda de Yoongi, que via suas estruturas aos poucos desabando.

(◍•ᴗ•◍)❤(◍•ᴗ•◍)❤(◍•ᴗ•◍)❤(◍•ᴗ•◍)❤(◍•ᴗ•◍)❤(◍•ᴗ•◍)❤(◍•ᴗ•◍)❤capa lindíssima, feita por @llolajikooka e intermediada por @arthope.

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