carta não enviada.

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Yoongi forçava o sorriso enquanto segurava a mão da “namorada” no tapete vermelho da premiação mais importante da música coreana.
Os dois pareciam um casal feliz, haviam muitos motivos para essa felicidade, os dois estavam no auge, as agendas lotadas, patrocinadores investindo milhões na imagem do casal, e a música em parceria sem dúvidas era a favorita para ganhar o prêmio mais importante da noite.
A empresa havia acertado em cheio quando armou aquele namoro de faixada.
Não, o namoro não era real, era apenas uma jogada de marketing da empresa que estava fazendo de tudo para promover a nova música dos dois maiores artistas, atualmente, da empresa.
Não foi atoa a espera para a divulgação do namoro, esperaram até chegar na última entrevista da turnê do cantor, muitos pensariam que seria melhor ter revelado logo no começo da turnê, quando Yoongi dava entrevistas para os programas americanos, mais pessoas veriam, ao invés de esperarem para anunciar em um programa coreano, onde apenas o público do país iria ver. Porém, tudo foi minimamente planejado.
O namoro de idols era sempre algo que causava muito tumulto e revolta nós fãs coreanos, que em sua maioria iria criticar e ser contra esse namoro, principalmente em artistas da magnitude de Yoongi, mas essa era a jogada.
As críticas negativas eram sempre mais vistas e comentadas que as positivas, e enquanto os fãs coreanos criticavam, os fãs internacionais se posicionavam fortemente a favor do namoro, uma briga entre fãs que rendia muita visibilidade para os artistas, e muito dinheiro para a empresa.
O clássico “falem bem, ou falem mal, mas falem de mim”, havia sido uma ótima jogada, porém havia alguém que não estava feliz com isso.
Yoongi caminhou para dentro do evento, e quando não haviam mais flashs indicando que ainda estava sendo fotografado, o sorriso do cantor sumiu e sem disfarçar, o rapaz soltou a mão da “namorada” e caminhou para o lugar onde lhe foi indicado, por sorte, a menina teria que se sentar com o restante das meninas do grupo dela e ele não precisaria ficar durante todo o evento fingindo estar gostando da companhia dela.
Yoongi suspirou profundamente ao se sentar, estava tenso, não sabia bem o porquê, mas a sensação de peso no corpo já o acompanhava a anos, era como se todo o peso das escolhas dele, estivessem sobre os ombros.
Yoongi olhou para a aliança no dedo por alguns segundos e sem ligar se alguém estava vendo, o rapaz tirou o objeto do anelar e guardou no bolso do blazer, de onde também tirou o outro anel.
O nome de Hoseok brilhava no anel de ouro, ainda era a mesma aliança barata que havia comprado em uma feirinha da cidade vizinha, porém havia ganhado um banho de ouro, assim não precisaria de preocupar com o anel ficando escuro e aos poucos ir sumindo o nome do seu grande e único amor.
...
-Jungkook! Eu disse que não!
-Eu quero ver a premiação!
-você está de castigo, ou esqueceu?!
-SEU CHATO! – o menino entrou para o quarto e bateu a porta fortemente.
Hoseok passou as mãos no rosto nervoso, e bufou.
Jungkook não o obedecia e parecia gostar de desafiar o pai, não adiantava, o menino não respeitava Hoseok.
-papai, tá triste? – Hoseok abriu os olhos e olhou para trás.
Taehyung estava parado perto do arco que dava acesso ao corredor dos quartos.
O garotinho tinha uma carinha confusa, queria entender que expressão era aquela que adornava o rosto do pai.
-não, amor – Hoseok andou até o filho e passou a mão nos cabelos do menino – papai está cansado – Taehyung concordou com a cabeça, como se dissesse que entendeu.
-o kookie grita muito – o menino colocou as mãozinha no ouvido, indicando que o chilique do irmão o incomodava.
Hoseok abaixou e deu um beijinho na bochecha do filho, que retirou as mãozinha dos ouvidos.
-vou conversar com ele pra ele parar de gritar, tá bom? – Taehyung concordou com a cabeça.
Taehyung era muito sensível a sons, fosse música alta, choro de criança, gritos, qualquer tipo de som um pouco mais alto o confundiam e irritavam profundamente, e foi por esse motivo que Hoseok nunca gritava.
As pessoas falavam que Hoseok era frouxo com os filhos, para elas, educar uma criança consistia em bater ou gritar.
Hoseok jamais bateria nós filhos e com certeza não faria nada que pudesse iniciar uma crise em Taehyung.
Hoseok repreendia sim os filhos, não precisava gritar pra isso.
O tom de voz do rapaz era sempre o mais doce e calmo possível, mantinha aquele timbre a tantos anos, que já nem se lembrava de como era o seu jeito de falar antes dos meninos nascerem.
-quer ajudar o papai a arrumar o sótão? – Hoseok perguntou ao menino, precisava de algo para passar o tempo até dar a hora do filho dormir.
-quero – o menino estendeu os bracinhos pedindo colo.
-amor, já tá muito grandinho para colo – Taehyung continuou com os bracinhos estendidos e Hoseok não resistiu, pegou o filho no colo.
Hoseok subiu com o filho até o sótão.
Haviam muitas caixas e coisas que não eram usadas a muitos anos, coisas que ele iria separar, pois poderiam servir para outras pessoas mais necessitadas.
-não mexe no que estiver empoeirado – Hoseok falou com Taehyung.
Taehyung nem prestou atenção no pai, apenas saiu explorando o lugar atrás de algo legal.
Hoseok começou pelas caixas de roupas, haviam muitas roupas de bebê que ele ainda guardava de quando os filhos eram recém nascidos. Todas estavam em perfeito estado e poderiam ser doadas, as mais importantes, como roupinha que os filhos usaram quando saíram do hospital, ficavam no guarda roupas de Hoseok, então não precisaria se preocupar em doar algo de grande valor sentimental.
Tudo que continha alguma valor sentimental ficava em uma caixa no fundo do guarda roupas de Hoseok.
Mas havia uma caixa em especial, que ficava no sótão, afinal, haviam coisas que Hoseok preferia não lembra, porém que eram impossíveis de serem descartadas.
-papai, posso ficar com esse anel? – Hoseok parou de mexer na caixa de roupas e olhou para trás.
-Filho! – Hoseok se levantou bruscamente e correu até Taehyung, fechado a caixa para que o menino não mexesse mais – não pode mexer nessa caixa.
Taehyung franziu o cenho.
-eu fiz alguma coisa errada? – o menininho não sabia se havia desobedecido alguma regra do pai.
Hoseok se culpou por deixar o filho confuso.
-não, meu amor, você não faz nada de erra – Hoseok se sentou perto da Caixa – só não quero que você mexa nas caixa empoeiradas.
Taehyung fiz um biquinho e concordou com a cabeça.
-Hoseok, o taetae tá com você?! – Hoseok ouviu a voz da mãe.
-esta – Hoseok respondeu.
-Desce taetae, vem jantar, seu irmão e seu avô já estão na mesa, vem também Hoseok!
-desce, amor – Hoseok falou com o filho – cuidado na escada. O papai já vai descer.
Taehyung saiu do sótão, deixando Hoseok sozinho com as lembranças.
Hoseok suspirou e olhou para o lado, onde a caixa se encontrava .
Receoso, Hoseok abriu a caixa, mas antes de tomar coragem para olhar, o rapaz fechou os olhos por longos segundos, e apenas quando achou que estava preparando, Hoseok olhou dentro da caixa.
Bem... Hoseok não estava tão preparando quanto imaginava.
Foi impossível não desabar quando a primeira coisa que viu na caixa foi uma carta, uma carta que ele nunca teve coragem de enviar para Yoongi.
Foi logo quando Hoseok começou a perceber a condição de Taehyung. Hoseok pensou em enviar uma carta para Yoongi, a escreveu e guardou, porém nunca a enviou.
Hoseok por alguns dias pensou em quebrar a promessa que havia feito para si mesmo de nunca contar para Yoongi que eles tinham filhos juntos, Yoongi jamais iria saber dos gêmeos, porém Hoseok estava em um momento muito frágil. Via seu pequeno ser atacado diariamente por comentários maldosos, via seu bebê não se desenvolver como os outros bebês, via o filho chorar por horas e se machucar, aparentemente sem motivos. Hoseok por algum momento achou que não seria capaz de cuidar sozinho de uma criança que precisava de tanta atenção, então, em um momento muito difícil, achou que a melhor opção seria contar a Yoongi sobre os filhos. Mas poucos minutos depois de escrever a carta, Hoseok foi chamado as presas pela mãe, Taehyung havia se machucado depois que começou repetidas vezes bater com a cabecinha no sofá. O menino era muito pequeno, nem sequer falava ainda. O desespero de Hoseok foi tanto, que correu, deixando a carta cair em algum lugar.
Hoseok nem se lembrava mais da carta quando a encontrou embaixo do criado mudo, e agradecia por não ter enviado a carta a Yoongi, pois Hoseok viu que era totalmente capaz de cuidar dos filhos sem Yoongi.
Hoseok limpou as lágrimas e colocou a carta novamente dentro da caixa, dessa vez tirando um envelope com as fotos dele e de Yoongi.
Os sorrisos eram sinceros, o olhar o mais apaixonado possível. Os adolescentes deixavam visível em cada foto os sentimentos que tinham um pelo outro.
Hoseok passou o dedo sobre o retrato de Yoongi, como se acariciasse o rosto do amado.
Hoseok se sentia um idiota por ainda amar Yoongi.

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