PARTE QUATRO

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    O JOGO, O NOSSO ADVERSÁRIO E A ARTE DA TRANSFORMAÇÃO ESPIRITUAL    O JOGO MAIS ANTIGO  Imagine 22 pessoas reunidas num campo de futebol. Todas são dotadas de um talento atlético extraordinário, no nível de Pelé, Garrincha, Rivelino e Didi. Recebem todo o equipamento necessário para jogar futebol: a bola, chuteiras, uniformes, as traves. Tem até torcida.  Mas suponha que lhes falte um ingrediente vital — as regras do jogo. Essas 22 pessoas nunca ouviram falar de futebol e não têm absolutamente a mínima idéia do que seja. O que aconteceria se fosse dito a todos esses jogadores que jogassem um jogo chamado futebol, e não lhes fosse permitido deixar o campo até serem tão capazes quanto campeões de uma Copa do Mundo?  Imagine o caos! Brigas. Discussões. Frustração. Desistências. Alguns jogadores talvez façam suas próprias regras. Embora dotados com os atributos de craques do futebol, só o que conseguem produzir é um pandemônio.
De acordo com a Cabala, não importa quanto talento possuímos. Sem as regras do jogo, o resultado é o caos. O que nos leva a um jogo bem mais antigo que o futebol, e bem mais misterioso. O livro de regras deste jogo tão desafiante foi registrado num antigo manuscrito cabalístico há cerca de 2.000 anos. O livro se chama o Zohar, e ele contém todos os segredos espirituais que dirigem o Jogo da Vida.  Segundo a sabedoria do Zohar, cada um de nós é um Pelé em potencial no jogo da vida. Cada um de nós nasce neste mundo com um enorme talento. Mas para a maioria de nós, esse talento acaba não sendo aproveitado — porque temos jogado o jogo sem saber como ele deve realmente ser conduzido.  A Cabala definitivamente nos dá regras, mas sem impor constrangimentos para nossa experiência diária do mundo. Em vez disso, ela apresenta um conjunto de leis espirituais universais que nos liberam e nos dão poder, em corpo e em alma. Essas leis são os 14 Princípios Espirituais que estão sendo apresentados ao longo deste livro.  Antes de podermos começar a entender os princípios espirituais da Cabala num nível mais profundo, contudo, temos que superar um obstáculo. Aquelas pessoas talentosas no campo de futebol agora têm um livro de regras, mas suponha que tivessem os olhos vendados antes de entrarem em campo. Apesar de saberem as regras, não podem enxergar. E assim, permanece o caos!  De acordo com a Cabala, cada um de nós vem a este mundo com uma venda nos olhos. Antes de podermos continuar aprendendo as regras do jogo da vida e de podermos verdadeiramente agir a seu respeito, temos que retirar a venda dos olhos e descobrir uma coisa especialmente importante — Quem é o nosso adversário?

CONTRA-INTELIGÊNCIA   Por que a natureza humana parece ser tão orientada em direção a um comportamento autodestrutivo? Por que nos ocupamos de atividades que sabemos serem ruins para nós, mesmo quando não queremos? Por que deixamos de fazer o que é bom para nós em troca do que é prejudicial? Por que a ambição é mais tentadora e divertida do que a generosidade? Por que é tão fácil ficarmos viciados em todas as coisas prejudiciais? Por que é tão difícil desenvolver bons hábitos?  Raiva, medo, inveja, preguiça — todos os nossos traços de comportamento negativos e destrutivos — são como a força da gravidade. Não importa o quanto nos esforcemos para pular três metros de altura, não conseguimos. A negatividade constantemente nos puxa para baixo, não importa o quanto estejamos comprometidos em nos libertar. Faz parte de nossa natureza.  Mas viemos a este mundo para mudar nossa natureza! Este é o acordo que foi fechado no Mundo Infinito. Nós, o Receptor, não receberíamos mais a plenitude verdadeira e duradoura a não ser que removêssemos o Pão da Vergonha, a não ser que antes transformássemos a nossa natureza reativa em proativa. Mas esta tarefa é extremamente difícil. A bem dizer é quase impossível. Por que a natureza humana tende tanto para o lado negativo?   O ADVERSÁRIO  A mudança verdadeira é tão difícil porque, como em qualquer jogo, enfrentamos um adversário no jogo da Criação, um adversário que tenta constantemente influenciar e controlar o nosso comportamento.  Aprendemos que, devido ao Pão da Vergonha, o Receptor queria merecer a Luz e ser a causa de sua própria plenitude. Uma maneira de obter uma compreensão ainda mais profunda do Pão da Vergonha é considerar qual é o objetivo de um jogo.  Em qualquer competição atlética, o objetivo é vencer. Pode ser um grande time ou mesmo uma pequena equipe da terceira divisão do interior. Se você perguntar a qualquer jogador o que eles estão tentando realizar, ele dirá que é ganhar o jogo. Mas será que o objetivo é esse mesmo?
Suponha que um cabalista evocasse uma fórmula mágica que permitisse ao seu time vencer absolutamente todos os jogos. Não importa o que acontecesse, você ganharia sempre. Jogo após jogo. Uma temporada atrás da outra. O resultado seria sempre predeterminado, e sempre haveria a mesma vitória garantida.  Como seria isto, na verdade? Você rapidamente descobriria que o jogo havia se tornado extremamente chato. O incentivo estaria perdido.  Será, então, que podemos realmente dizer que o objetivo final é ganhar? O que realmente queremos de um jogo é o risco, o desafio, e até mesmo a possibilidade de perder. Mais do que ganhar, é o teste de nossa habilidade que faz tudo valer a pena.  É o conceito de perder que dá definição, existência e sentido ao conceito de vencer. Nós "tínhamos tudo" no Mundo Infinito. Exceto uma coisa: a capacidade de adquirir, de merecer, e de ser a causa da plenitude que a Luz nos concedia. Assim, rejeitamos a Luz para nos tornarmos como a Luz — para nos tornarmos os criadores de nossa própria plenitude.  Queríamos a oportunidade de jogar por nós mesmos o jogo da Criação, de arriscar perder, temporada após temporada, vida após vida, em troca desta chance única de ganhar tudo e trazer o troféu para casa. Só então poderíamos ter a possibilidade de conhecer sentimentos genuínos de realização e felicidade. Só então poderíamos verdadeiramente maximizar o nosso poder de ser proativos. Se não nos testássemos até o nível mais alto possível, a semente proativa divina dentro de nós jamais floresceria completamente. Como atletas olímpicos espirituais, devemos nos treinar mental e espiritualmente para que a parte divina de nossa natureza possa se desenvolver e se manifestar. Este treinamento satisfaz a nossa necessidade de merecer e de criar a Luz em nossa vida, e erradicar o Pão da Vergonha.

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