Capitulo 3

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Assim que sai do banheiro, procurei por Camila mas ela não estava mais no meu quarto. Respirei fundo e fui em direção ao closet. Optei por um vestido de camurça preto e coturno de salto preto. Arrumei o cabelo, passei só um lápis nos olhos e me olhei satisfeita no espelho. Ouvi meu celular tocar e fui a procura dele.
- Alô?
- Oi minha vaca preferida! Como você esta? - Disse do outro lado da linha. A voz era tão familiar que suspirei com o alívio e felicidade por ouvi-la.
- Vero, que saudades de você!
- Sente saudades mas não me liga né vadia? Quero saber como você ta, fazem três dias que não trocamos sequer uma mensagem, sinto falta da minha amiga - Ela falou e eu não pude conter o sorriso.
- To bem, e você? Como estão as coisas aí?
- Lauren o que houve? - Ela perguntou já percebendo que tinha algo errado.
Vocês algum dia já tiveram uma amizade assim? Essas em que a pessoa já sabe se você está bem ou não só pelo jeito que você diz "oi"? Já tiveram uma amizade cujo sentia que a pessoa te conhecia mil vezes mais do que você conhece a si mesma? Essa era a minha amizade com a Vero. Ela não precisava estar me vendo pra reconhecer quando eu estava me sentindo bem ou não. Era uma das pessoas em que eu mais confiava na vida, e a única que sabia de todos os meus próprios demônios.
- Vou sair com a Camila hoje e já sei que ela vai me metralhar e exigir respostas sobre o por que de eu ter me afastado. - Respondi e a ouvi suspirar do outro lado.
- Lauren, você devia se impor mais. Vive dizendo que gostaria de ter uma chance com ela, mas nunca sequer deu pistas pra que a menina percebesse o que você ta sentindo. Acho que devia arriscar mais, falar o que ta acontecendo pra ela. Desse jeito você nunca vai saber se deve persistir ou, simplesmente, esquecer. - Ela me tranquilizou.
Por mais que tudo aquilo fosse o que eu já tinha decidido, ouvir Vero me aconselhando me fez ter mais confiança e decisão sobre isso. Eu queria me abrir pra Camila, queria dizer o que ela estava causando em mim e era exatamente isso o que eu faria.
- Esta certa Vero, como sempre! Vou tentar demonstrar e falar sobre isso abertamente com a Camila hoje. Obrigada, você sempre me ajuda tanto! - Falei tentando ao máximo demonstrar minha gratidão a ela.
- Eu te amo Laur, não esquece! Agora vai lá sair com sua futura affair. - Ela falou e eu ri.
- Te amo Vero, estou morta de saudades!
- Também estou! Vou ver se consigo ir aí nas próximas semanas, ta bem? Beijos. - E desligou.
Sorri sozinha enquanto me olhava uma última vez no espelho antes de sair do quarto a procura de Camila. Estava pensando nas palavras que eu usaria para essa conversa quando fui surpreendida com um empurrão e, em menos de um piscar de olhos, senti minha cabeça latejar com a batida na parede. Tentei recuperar o equilíbrio e quando olhei pro lado, vi Camila e Dinah rindo de mim. Franzi a testa e coloquei a mão em cima do lugar onde mais doía, pude sentir o galo se formando.
- Suas loucas, por que fizeram isso? - Perguntei choramingando pela dor que eu estava sentindo.
- Queríamos te dar um susto Laur. Você está bem? - Camila perguntou com um tom de voz preocupado. Ela parou de rir assim que viu minha careta de dor, mas Dinah continuava parecendo uma hiena.
- Não! Minha cabeça ta doendo.
- Me deixe ver isso! - Ela pediu se aproximando e eu tirei a mão pra que ela pudesse ver. - Ah meu Deus Laur, tem um galo enorme aqui.
- CAMILA ISSO DÓI! - Gritei quando ela pressionou.
- Desculpa! Dinah, vai pegar um pouco de gelo por favor. - Camz pediu e ela desceu as escadas em direção a cozinha. Camila me puxou pra dentro do quarto de Dinah e eu deitei na cama, me sentindo um pouco tonta. - Desculpa por favor Lolo, não queríamos te machucar assim.
- Ta tudo bem, já vai passar! - Falei com os olhos fechados.
Um silêncio tomou conta do quarto enquanto eu esperava a lerda da Dinah voltar com o gelo. Só conseguia ouvir a minha própria respiração, nem mesmo a de Camila era audível. Abri os olhos devagar e fiquei olhando o teto por um tempo, até ouvir um suspiro. Me apoiei nos cotovelos e observei Camila, que estava em pé ao lado da porta do banheiro me encarando fixamente. Sorri para ela que retribuiu com um sorriso torto. Tão linda. Ficamos nos olhando por mais um tempo, até Dinah, finalmente, voltar para o quarto com uma bolsa de gelo e toalha nas mãos.
- Aqui Laur. Quer que eu segure o gelo pra você? - Ela perguntou toda fofa. Aposto que estava se sentindo culpada.
- Não precisa DJ, eu mesma faço isso! - Respondi pegando a bolsa de gelo da mão dela e gemendo de dor quando pressionei em cima do galo.
- Me desculpa por isso Lauren, não queria ter te machucado tanto!
- Ta tudo bem queen D, vai passar! - Respondi a confortando com um sorriso.
Depois de um tempo segurando a bolsa de gelo na cabeça e ouvindo Camila e Dinah discutindo sobre quem tinha a maior parcela de culpa nisso tudo, me levantei e fui arrumar o cabelo, que agora estava bagunçado e molhado por conta do suor da bolsa. Me ajeitei e quando estava apresentável o suficiente, fui perguntar se Camila ainda iria comigo.
- Mila, você ainda vai comigo? - Perguntei parando na porta do quarto de Dinah.
- Sim senhora Lolo. - Ela respondeu ficando de pé em um segundo.
- Então vamos! Tchau DJ. - Falei mandando um beijo pra Dinah, que me mandou outro e abraçou Camz.
Desci as escadas e fui beber um pouco de água enquanto esperava Camila descer. Assim que ela me chamou, voltei para a sala.
- Vamos Lolo? - Perguntou animada. Só então reparei na roupa que ela estava usando. Parecia uma boneca com uma saia jeans curta, uma blusa de manga curta com uma estampa em preto e branco, um salto preto e o cabelo solto com algumas mechas presas em um laço. Perfeita.
- Vamos Camz! Você está linda. - Elogiei e ela corou abaixando a cabeça.
Saímos de casa e fomos em direção ao meu carro. Estava presa em pensamentos sobre Camila e Camila e mais Camila, até que a mesma chamou a minha atenção.
- Já sabe pra onde vamos Lolo?
- Não! Você tem alguma ideia? - Perguntei.
- Ouvi falar de uma boate que abriu aqui perto, disseram que esta bombando! - Ela falou empolgada.
- Camz nós não temos idade pra entrar nesses lugares.
- Claro que temos! Os famosos tem mais facilidade com essas coisas Lolo, fora que a DJ conhece um dos sócios e me apresentou a ele. Posso ver se ele está por lá, ou pedir pra Dinah ligar pra ele, sei lá.
- Vamos arriscar então! Mas se eu ficar barrada, te afundo na lama. - Falei e ela riu. Adorava o som da risada dela, era tão bom de ouvir que não consegui conter o sorriso.
Ela me explicou onde era e passou o caminho inteiro cantando qualquer música que tocasse na rádio. Chegamos na boate e eu estacionei o carro na rua ao lado. Fomos andando em direção a entrada e Camila logo tratou de perguntar pelo tal sócio. Em questão de minutos, já estávamos dentro.
O lugar era enorme, milhares de pessoas dançavam, conversavam e bebiam. A música alta e agitada me fazia logo querer dançar também. Camila pegou minha mão e me guiou para o segundo andar, onde julguei ser o camarote. Ok, definitivamente aquele não seria o melhor lugar para conversa. Estava pensando em que desculpa dar pra que pudéssemos ir para um bar ou o que quer que fosse mais tranquilo, quando Camz deu um grito e disse que precisava dançar. Pedi uma dose de tequila enquanto observava Camila descer as escadas ganhando olhares de luxúria. A pequena logo tratou de se enfiar no meio de todos e começar a dançar. Entornei a bebida, que desceu rasgando pela garganta. Precisava de coragem, e só o álcool me dava isso na dosagem certa.
Encarei Camila por mais alguns minutos até decidir ir atrás dela. Depois de mais duas doses, fui para o primeiro andar e tomei cuidado para não esbarrar em ninguém enquanto ia pra perto de Camz. Vibrei internamente quando começou a tocar "She wolf" e comecei a mexer meu corpo de acordo com o ritmo da música. Era tão bom me sentir livre, poder dançar do jeito que eu quisesse até me cansar. A música era, obviamente, a minha vida. Tem sensação melhor do que a que você sente quando esta sozinha em casa e pode colocar a sua música preferida no último volume? Bom, na minha opinião não existe.
Abri os olhos e pude ver Camila sorrindo enquanto me olhava. Como pode um ser humano ser tão lindo? Sorri tão aberto que minhas bochechas doeram. Eu estava em êxtase, não sei se por conta do efeito do álcool, ou da emoção por estar ali apenas com ela. Ok, não eram apenas nós duas. Mas naquele momento, eu podia jurar que construímos uma bolha só nossa. Nossos olhares estavam tão presos um no outro, que se o lugar começasse a pegar fogo nós, provavelmente, não notaríamos. Minha respiração começou a ficar irregular, meus batimentos então, nem se fala... Camila estava com uma expressão séria, quase como decidida. Ela começou a se aproximar ainda mais de mim e só parou quando nossas respirações já se misturavam. Seu cheiro doce me inebriando, seu hálito fresco com cheiro de menta e vodka (?). Que horas ela bebeu se eu não vi? Mordi o lábio sofrendo com a aproximação, era tão ruim não poder agarra-la ali mesmo. Camila desviou os olhos para a minha boca e só então percebi a intenção dela. Aquilo estava mesmo acontecendo? Parei de respirar.
Sabe quando o chão some debaixo dos seus pés? Quando você parece estar bem na ponta de um precipício e falta apenas um vento um pouco mais forte pra que você despenque? Eu estava me sentindo exatamente assim agora. Meus pulmões começaram a arder pela falta de oxigenação, mas essa era a última coisa que eu conseguia realmente sentir. Camila se aproximou ainda mais, nossos corpos grudados um no outro. Sua mão direito percorrendo uma caminho delicioso desde o meu braço até meu pescoço, arrepiando cada músculo eretor dos meus pêlos. Tremi. Camz levantou o rosto até que as pontas dos nossos narizes encostaram. Eu já não sabia mais onde estava, se perguntassem até mesmo o meu nome, eu demoraria pra responder. Caralho, ISSO ESTA MESMO ACONTECENDO? Fechei meus olhos em antecipação e senti a mão livre dela em minhas costas, enquanto a outra já prendia meus cabelos da nuca. Mas. Que. Caralho. De. Pegada. Me sentia tão tonta, tão elétrica, mil e uma sensações me atingiram naquele momento, e a única coisa que se passava na minha mente era o quanto eu desejava que aquilo fosse de verdade, que não fosse apenas mais um sonho para a minha coleção.
Eu não ouvia mais o falatório dentro da boate, não conseguia nem mesmo distinguir uma palavra sequer da música que tocava. Meu ouvido tinia estranhamente. Eram como os mensageiros de vento, cheguei até a pensar que tinha também um coro cantando "Aleluia" na minha mente. Camila passou a ponta do nariz pela minha bochecha, eu podia sentir seu peito subindo conforme ela puxava o ar.
- Seu cheiro é tão bom, Lolo. - Ela falou com a voz rouca bem perto do meu ouvido. Arfei.
Vocês já ouviram aquele ditado que diz "Alegria de pobre dura pouco"? Pois é, parece que alegria de sapatão também dura pouco até demais. Camila estava com suas mãos e seu corpo colados em mim, seus lábios praticamente já arrastando nos meus, mas em questão de um nanosegundo depois, ela sumiu e eu só desejei a morte. De longe eu pude ouvir o nosso single tocando e uma gritaria rolando juntamente com aplausos e assobios. Eu permaneci de olhos fechados tentando assimilar a situação.

Toxic Love (camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora